31 de Outubro – Dia da Reforma Protestante
Postado por Luís Filipe de Azevedo
31 de Outubro – Dia da Reforma Protestante
Assim como a fé bíblica é profundamente histórica,
porque fundamentada em atos redentores realizados no tempo e no espaço, a fé
reformada valoriza extraordinariamente a história da igreja. O nosso senso da
história nos lembra que a igreja cristã não começou com a reforma protestante
do século dezesseis. Foi por isso que reformadores como Lutero e Calvino não
quiseram romper com tudo o que dizia respeito à igreja antiga e medieval. Por
exemplo, eles fizeram questão de reconhecer a validade dos antigos concílios
ecumênicos da igreja (séculos quarto e quinto) e das extraordinárias
formulações teológicas produzidas pelos mesmos – os credos, especialmente o
niceno e o de Calcedônia. Os reformadores magisteriais, Calvino entre eles,
também tinham grande apreço pelos antigos mestres cristãos, os pais da igreja,
e os citaram abundantemente em seus escritos. É por isso que devemos recitar
esses credos, utilizar as antigas liturgias, cantar hinos de séculos passados.
Não é questão de tradicionalismo: tudo isto nos coloca em contato com a igreja
do passado, da qual somos herdeiros e continuadores.
No seu sentido mais amplo, “protestantismo” denomina
todo o movimento dentro do cristianismo que se originou na reforma do século XVI
e que mais tarde centrou-se nas principais tradições da igreja reformada –
Luterana Reformada (Calvinista/Presbiteriana) e Anglicano-Episcopal (embora o
anglicanismo alegue ser tanto católico quanto protestante) e Speyer, 1529, com
os primeiros dissidentes de uma imposição religiosa, e continuando com os
batistas, metodistas, pentecostais, até às igrejas Africanas Independentes dos
nossos dias.
O termo deriva-se do “protesto” entregue por
uma minoria de autoridades luteranas e reformadas na Dieta Imperial Alemã em
Speyer em 1529, numa dissidência causada por uma ordem imposta que proibia a
renovação religiosa. O “protesto” era, ao mesmo tempo, uma objeção, um apelo e
uma afirmação. Perguntava em tons urgentes: “Qual é a igreja verdadeira e
santa?”; e asseverou: “Não há nenhuma pregação ou doutrina segura senão aquela
que permanece fiel à Palavra de Deus. Segundo mandamento divino, nenhuma outra
doutrina deve ser pregada. Todo texto das santas e divinas Escrituras deve ser
elucidado e explicado por outros textos. Esse Livro Santo é necessário, em
todas as coisas, para o cristão; brilha claramente na sua própria luz e é vista
iluminando as trevas. Estando resolutos, pela graça de Deus e com a Sua ajuda,
a permanecermos exclusivamente na Palavra de Deus, no santo evangelho contido
nos livros bíblicos do Antigo e do Novo Testamento. Somente essa Palavra deve
ser pregada, e nada que seja contrário a ela. É a única verdade. É o juiz certo
de toda doutrina e conduta cristã. Não pode nos enganar nem lograr”.
Desse modo, os luteranos e outros defensores da
reforma passaram a ser conhecidos como protestantes. A palavra tinha,
originalmente, um sentido de “confissão resoluta, declaração solene”, tomando o
partido da verdade do evangelho contra a corrupção romana. “Essencialmente, o
protestantismo é um apelo a Deus em Cristo, às Sagradas Escrituras e à Igreja
Primitiva, contra toda a degeneração e apostasia”. O estreitamento da palavra
“protestante” para significar anti- ou não-romano tem levado alguns a
preferirem “evangélico” (embora na Europa continental essa palavra normalmente
designe os luteranos) e “reformado” (geralmente mais usada para os
presbiterianos calvinistas).
PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS
Os princípios fundamentais do
protestantismo do século XVI eram os seguintes: sola scriptura, solus christus,
sola gratia, sola fides, soli Deo gloria, a igreja como o povo que crê em Deus
e o sacerdócio universal dos fieis.
Vejamos resumida e separadamente
cada um desses princípios da Reforma Protestante:
SOLA
SCRIPTURA
Só a Escritura é a regra inerrante da vida da igreja,
mas a igreja evangélica atual fez separação entre a Escritura e sua função
oficial.
Em tese, Sola
Scriptura, significa reafirmar
a Escritura como única fonte de revelação divina escrita, única para constranger
a consciência. A Bíblia sozinha ensina tudo àquilo que é suficiente e
necessário para nossa salvação do pecado, e é o padrão pelo qual todo
comportamento cristão deve ser avaliado.
Esse princípio nega qualquer credo, concílio ou
indivíduo possa constranger a consciência de um crente, que o Espírito Santo
fale independentemente de, ou contrariando, o que está exposto na Bíblia, ou
que a experiência pessoal possa ser veículo de revelação.
No Sola Scriptura, acredita-se na liberdade da
Escritura para dominar como a Palavra de Deus na igreja, desembaraçada do magisterium (magistrados) e tradição
papais e eclesiásticos. A Escritura é a única fonte da revelação cristã. Embora
a tradição possa ajudar a sua interpretação, seu significado verdadeiro (i.e.,
espiritual) é seu sentido natural (i.e., literal), e não um significado
alegórico.
SOLO CHRISTUS
À medida que a fé evangélica se secularizou, seus
interesses se confundiram com os da cultura. O resultado é uma perda de valores
absolutos, um individualismo permissivo, a substituição da santidade pela
integridade, do arrependimento pela recuperação, da verdade pela intuição, da
fé pelo sentimento, da providência pelo acaso e da esperança duradoura pela
gratificação imediata. Cristo e sua cruz se deslocaram do centro de nossa
visão.
Em tese, Solus Christus é reafirmar
que nossa salvação é realizada unicamente pela obra mediatória do Cristo
histórico. Sua vida sem pecado e sua expiação por si só são suficientes para
nossa justificação e reconciliação com o Pai.
Esse princípio nega que o Evangelho esteja sendo
pregado se a obra substitutiva de Cristo não estiver sendo declarada e a fé em
Cristo e sua obra não estiver sendo invocada.
SOLA
GRATIA
A Confiança desmerecida na capacidade humana é um
produto da natureza humana decaída. Esta falsa confiança enche hoje o mundo
evangélico – desde o evangelho da auto-estima até o evangelho da saúde e da
prosperidade, desde aqueles que já transformaram o evangelho num produto
vendável e os pecadores em consumidores e aqueles que tratam a fé cristã como
verdadeira simplesmente porque funciona. Isso faz calar a doutrina da
justificação, a despeito dos compromissos oficiais de nossas igrejas.
A graça de Deus em Cristo não só é necessária como é a
única causa eficaz da salvação. Confessamos que os seres humanos nascem
espiritualmente mortos e nem mesmo são capazes de cooperar com a graça
regeneradora.
Em tese, Sola Gratia é reafirmar que na salvação somos resgatados da ira
de Deus unicamente pela sua graça. A obra sobrenatural do Espírito Santo é que
nos leva a Cristo, soltando-nos de nossa servidão ao pecado e erguendo-nos da
morte espiritual à vida espiritual.
Esse princípio nega que a salvação seja em qualquer
sentido obra humana. Os métodos, técnicas ou estratégias humanas por si só não
podem realizar essa transformação. A fé não é produzida pela nossa natureza
não-regenerada.
A redenção como dom gratuito de Deus, realizada pela
morte e ressurreição salvíficas de Cristo. Essa verdade foi articulada
principalmente em termos paulinos, tais como a justificação somente pela fé,
como consta na Confissão de Augsburgo: “Não podemos obter o perdão do pecado e
a justiça diante de Deus pelos nossos próprios méritos, obras ou penitências,
mas recebemos o perdão do pecado e nos tornamos justos diante de Deus pela
graça, por causa de Cristo, mediante a fé, quando cremos que Cristo sofreu por
nós e que por Sua causa o nosso pecado é perdoado e recebemos a justiça e a
vida eterna”. A certeza da salvação, portanto, é uma marca distintiva da fé
protestante, fundamentada na promessa do evangelho e desvinculada de qualquer
busca de mérito.
SOLA FIDE
A justificação é somente pela graça, somente por
intermédio da fé, somente por causa de Cristo. Este é o artigo pelo qual a
igreja se sustenta ou cai. É um artigo muitas vezes ignorado, distorcido, ou
por vezes até negado por líderes, estudiosos e pastores que professam ser
evangélicos. Embora a natureza humana decaída sempre tenha recuado de professar
sua necessidade da justiça imputada de Cristo, a modernidade alimenta as chamas
desse descontentamento com o Evangelho bíblico. Já permitimos que esse
descontentamento dite a natureza de nosso ministério e o conteúdo de nossa
pregação.
Em tese, Sola Fide é reafirmar que a justificação é somente pela graça
somente por intermédio da fé somente por causa de Cristo. Na justificação a
retidão de Cristo nos é imputada como o único meio possível de satisfazer a
perfeita justiça de Deus.
Esse princípio nega que a justificação se baseie em
qualquer mérito que em nós possa ser achado, ou com base numa infusão da
justiça de Cristo em nós; ou que uma instituição que reivindique ser igreja mas
negue ou condene sola fide possa ser reconhecida como igreja legítima.
SOLI DEO
GLORIA
Deus não existe para satisfazer as ambições humanas,
os desejos, os apetites de consumo, ou nossos interesses espirituais
particulares. Precisamos nos focalizar em Deus em nossa adoração, e não em
satisfazer nossas próprias necessidades. Deus é soberano no culto, não nós.
Nossa preocupação precisa estar no reino de Deus, não em nossos próprios
impérios, popularidade ou êxito.
Em tese, Soli Deo Gloria é reafirmar que, como a salvação é de Deus e
realizada por Deus, ela é para a glória de Deus e devemos glorificá-lo sempre.
Devemos viver nossa vida inteira perante a face de Deus, sob a autoridade de
Deus, e para sua glória somente.
Esse princípio nega que possamos apropriadamente
glorificar a Deus se nosso culto for confundido com entretenimento, se
negligenciarmos ou a Lei ou o Evangelho em nossa pregação, ou se permitirmos
que o afeiçoamento próprio, a auto-estima e a auto-realização se tornem opções
alternativas ao evangelho.
A IGREJA COMO O POVO QUE CRÊ EM DEUS
Constituída não apenas pela hierarquia, sucessão ou
instituição, mas pela eleição e chamada divinas em Cristo mediante o evangelho.
Nas palavras da Confissão de Augsburgo, é “a assembléia de todos os crentes
onde o evangelho é pregado na sua pureza e os santos sacramentos são
administrados de acordo com o evangelho”. Os sacramentos ordenados por Cristo
são apenas dois – o batismo e a ceia do Senhor – e podem ser chamados “palavras
visíveis”, refletindo a primazia da pregação dentro da convicção protestante.
O SACERDÓCIO DE TODOS OS CRENTES
A liberdade privilegiada de todos os batizados de
comparecerem diante de Deus em Cristo “sem intermediários humanos patenteados”
e sua chamada para serem transmissores de julgamento e graça como “pequenos
Cristos” aos seus vizinhos. O pastor e o pregador diferem dos outros cristãos
pela sua função e nomeação, e não por status
espiritual. (Este princípio fundamental tem sido esquecido pelo protestantismo
posterior, talvez mais do que qualquer outros desses princípios.)
A Santidade de Todos os Chamados ou
Vocações: a rejeição das distinções medievais entre o secular e o sagrado ou
“religioso” (i.e., monástico) com depreciação daquele, e o reconhecimento de
todas as maneiras de ganhar a vida como vocações divinas. “As obras dos monges
e dos sacerdotes, aos olhos de Deus, não são de modo algum superiores ao
trabalho do agricultor no campo, nem ao serviço de uma mulher que cuida do seu
lar” (Lutero). Nenhum chamado é intrinsecamente mais cristão do que outro – uma
percepção que é obscurecida por frases tais como “o sagrado ministério”.
FONTE BIBLIOGRÁFICA:
- ELWELL, Walter A. Enciclopédia Histórico-Teológica da
Igreja Cristã. [Tradução Gordon Chown]. São Paulo: Edições Vida Nova,
reimpressão em 1993. Volumes 3 (pp. 194-195).
·
Os Cinco Solas da Reforma - Sola Scriptura, Sola Christus, Sola Gratia, Sola Fide, Soli Deo Gloria,
por Declaração de Cambridge.
In: http://www.monergismo.com.
- MATOS, Alderi
Souza de. Aspectos Essenciais Da Identidade
Reformada. In: http://www.monergismo.org
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