9/02/2012

O PRÊMIO DOS QUE PERSEVERAM NA FÉ

Postado por Luís Filipe de Azevedo


Sermão pregado por ocasião do 32º Aniversário da Juventude Lírio dos Vales, na AD. Madureira - Camorim Grande, Pr. Renato, na noite do dia 31 de agosto de 2012.
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O PRÊMIO DOS QUE PERSEVERAM NA FÉ
Fp 3.12-14

Não que já a tenha alcançado ou que seja perfeito; mas prossigo para alcançar aquilo para o que fui também preso por Cristo Jesus.
Irmãos, quanto a mim, não julgo que o haja alcançado; mas uma coisa faço, e é que, esquecendo-me das coisas que atrás ficam e avançando para as que estão diante de mim, prossigo para o alvo, pelo prêmio da soberana vocação de Deus em Cristo Jesus.


INTRODUÇÃO:

É bem provável que essa carta tenha sido escrita em Roma entre 60 e 64 d.C. Escrita em circunstâncias difíceis, enquanto Paulo estava prisioneiro. A igreja filipense era ideal em muitos sentidos. Era também agradecida e bondosa (v. 4:15,16; 2Co 8:2). Foi fundada por Paulo em sua segunda viagem missionária, em meio a uma tempestade de perseguições. No início, a obra limitava-se a umas poucas mulheres que se reuniam perto do rio. Lídia, uma vendedora de púrpura, foi a primeira convertida, mas logo se uniram a ela o carcereiro de Filipos e sua família. Estes, e talvez uns poucos mais, formavam o núcleo da igreja filipense (v. At 16:12-40). Podem-se destacar algumas características dessa carta: expressa o amor espiritual à igreja e é plena de carinho e gratidão. É a mais pessoal de todas as cartas. Ressalta a vitória e a alegria na oração, 1:4; no evangelho, 1:18; na comunhão cristã, 2:1,2; nos sacrifícios pela causa cristã, 2:17,18; no Senhor, 3:1; no cuidado pela igreja, 4:10.
O capítulo 3, em particular, contem uma das passagens mais famosas dentro dos escritos paulinos. Trata-se da nota autobiográfica na qual Paulo relembra seu passado de formação judaica, bem como a revolução ocorrida em sua vida e valores, quando Cristo se tornou o grande alvo de sua vida (3.3-14). Penso que talvez seja uma boa oportunidade para refletirmos um pouco sobre nossa vida até aqui e sobre o alvo que temos pretendido alcançar.
Vemos aqui no capítulo 3 que Paulo descreveu sua conversão e vida cristã por meio de um poderoso testemunho pessoal. Agora, a partir do verso 12, ele sublinha um traço básico de sua vida que ele deseja que fique especialmente claro para a igreja, em vista da sua nova maneira de viver e do propósito que tinha a partir da conversão. O apóstolo parece responde à seguinte pergunta: Como se configura a vida cristã? Qual é o alvo do verdadeiro cristão? O que ele persegue? Que prêmio ele pretende ganhar aqui e no fim de sua caminhada?
Se pedíssemos a um artista para que desenhasse em uma figura simbólica o que representa “o cristão” que imagem o artista escolheria? Que impressão teria ele da “essência” dos cristãos? Talvez ele desenharia um homem de joelhos orando ou uma mulher sentada de mãos postas diante de uma Bíblia aberta. Dificilmente ele lembraria uma imagem que para Paulo na verdade era a imagem mais apropriada para descrever um verdadeiro “cristão”: a imagem de um desportista no estádio! A imagem de um atleta, de um corredor disposto a ganhar um prêmio. Paulo via o retrato de um cristão nessa imagem. O próprio Paulo se via nessa imagem.
O trecho bíblico que lemos apresenta essa metáfora que precisa ser cuidadosamente interpretada e aproveitada para que tal imagem do cristão fique muito bem explícita a cada um de nós. Me permita algumas perguntas:
Por que o apóstolo Paulo usou essa imagem para descrever o cristão? O que ele pretendia ilustrar com essa metáfora? Como encarou Paulo a corrida cristã? Que aspectos eu devo observar, no corredor e na corrida, que são capazes de me ensinar a ser um verdadeiro atleta cristão rumo ao alvo que é Cristo e ao prêmio da plena comunhão com Ele? Que exemplo o apóstolo Paulo nos deixa, ao ponto de nos exortar a imitá-lo? Qual é o legado deixado por ele? Eu aprendo com essa passagem bíblica que como corredor, em busca do grande prêmio, tenho que atentar para quatro coisas: meu estado de espírito, meu empenho, o alvo e o prêmio.

I.                   O ESTADO DE ESPÍRITO E O EMPENHO DO CORREDOR  (v. 12 - 13)

Nas epístolas muitas metáforas são aproveitadas dos jogos em geral, e da corrida a pé e da corrida de carros, em particular. Na Bíblia é sempre ressaltado o fato de que o atleta não se preocupava simplesmente com o prêmio imediato da coroa de oliveira brava, de salsa, de pinho, ou louro, mas sim, com a recompensa posterior: a virtude. O crente, semelhantemente, é exortado a esforçar-se para conseguir “a maestria”, ou seja, a virtude cristã, pois sua recompensa em contraste com a do atleta deste mundo, é uma coroa incorruptível.
Em muitas passagens do NT vemos sendo feitas referências à corrida a pé, para a qual era usada uma quantidade mínima de roupa. O atleta deveria se desembaraçar de todo peso possível, que provavelmente usava nos treinos preparatórios, a fim de aproveitar o seu melhor estado físico. O peso, ou mesmo a quantidade excessiva de roupa, simboliza tudo aquilo que tenta nos impedir de continuar a nossa corrida cristã, isto é, o “pecado que tão de perto nos assedia”.
Os corredores não podiam se embaraçar também com as multidões, que eram chamadas de “nuvem de testemunhas”. Isso sugere que a visão do corredor deveria estar fixada no alvo, e ver os espectadores apenas pelos cantos dos olhos, como nuvens.
A corrida exigia do corredor paciência e perseverança, que se obtêm, quando a preocupação está posta no alvo e no juiz colocado na outra extremidade da pista para conferir o prêmio ao vencedor.
Cada um destes pormenores tem distinta aplicação espiritual que nos impressiona vivamente quando lemos as páginas do Novo Testamento. Entretanto, pensemos primeiro no estado de ânimo do atleta.

1.      O Estado de Espírito (v.12, 13)

Estado de espírito e estado de ânimo é a mesma coisa. Falar sobre o estado de espírito cristão aqui nesta passagem é falar da determinação, da coragem, do valor e da decisão que tomamos no coração diante dos obstáculos que estão diante de nós e tentam nos impedir de alcançar a santificação. Antes, é preciso que algo fique bem claro: assim como o que determina o sucesso de um competido é o seu estado de ânimo, o mesmo acontece com o cristão. A maneira como ele encara a corrida cristã e seus desafios, determinará sua vitória.
Estou convencido de que o grande adversário do corredor e do cristão é a apatia. É o estado de abatimento, de falta de energia da alma conformada, de acomodação e indolência; estado que se manifesta pelo desinteresse, insensibilidade, indiferença, falta de atividade. É a paralisia espiritual.
O texto, com a dupla declaração de Paulo de que não alcançou a perfeição, parece sugerir que a igreja filipense estava sendo perturbada por pessoas que imaginavam já haver alcançado a perfeição. E perfeição para esses era a união do crer nos fatos da salvação com os ritos judaizantes cujo resultado era o conformismo religioso e a paralisia espiritual.
Qual era o estado de espírito de Paulo quando escreveu a carta? Ele não diz com tom de pessimismo assim: “Eu me esforço tanto, corro tanto e estou muito longe de chegar ao alvo. Acho que isso não depende de mim, por isso vou parar e aguardar que Deus faça algo a respeito desse pecado, afinal eu quero ser santificado”. Pelo contrário! Seu raciocínio é inverso, ele diz: “Admito e reconheço que ainda falta muito para que eu chegue ao alvo, mas assemelho-me ao corredor que concentrando esforços se precipita determinado, rumo ao alvo, para obter o prêmio da vitória!”.
Veja a expressão “mas uma coisa” (v. 13), que parece ser uma exclamação de Paulo dizendo que ele não desistiu, ele não paralisou diante do obstáculo. Não é fácil ser fiel, não é fácil ser um verdadeiro cristão, não é fácil ser santo, mas “Atenção! Agora vem o principal!” Esse é o ponto decisivo, “estou com disposição de continuar correndo atrás do prêmio”. É aqui que percebemos as  características básicas da vida cristã autêntica que Paulo quer ensinar à igreja de ontem e de hoje: temos que ser como corredores, levantarmos toda manhã animosamente, despertados e cheios de energia, cheios de ousadia e intrepidez, cheio de fé de que venceremos nossa própria carne, conseguiremos ser mais santos sim, em nome de Jesus, venceremos o adversário e suas propostas mais uma vez! Deixe que nos chamem de perfeccionistas.
Presume-se que a questão na igreja de Filipos era a concepção de que a fé e tudo que provem dela é um presente de Deus, independe de mim. Logo, eu não posso mais viver sob o chicote da lei. Se de fato recebemos tudo de presente, somente precisamos aceitá-lo pela fé e sossegar. Se “ganhei a Cristo” não estará “tudo bem”? Será que não cheguei praticamente ao alvo aceitando a Jesus, já que tenho tudo o que preciso? Não me resta apenas esperar tão-somente até que a volta do Senhor aperfeiçoe tudo? Guardarei o meu esforço no baú. Colocarei minha determinação e coragem no guarda-roupa. Sei que não sou perfeito e Deus me ama assim, por isso vou ficar da mesma maneira.
É e problemática do falso ensino da “justificação sem santificação” que está em pauta aqui. É a salvação deficiente. É a profissão de fé sem transformação. É o barateamento da graça. É o divórcio da fé e fidelidade.
Essa idéia tornou muitos cristãos assustadoramente seguros de si e verdadeiros parasitas! Com temor e ira santa temos constatado o câncer da perniciosa apatia espiritual no seio da “igreja”. Muitos estão sinceramente equivocados, pois crêem que estão salvos, todavia, são completamente estéreis, não se verifica fruto em suas vidas. A verdadeira salvação não pode estar separada da regeneração, da santificação e da glorificação final. A salvação é tanto um ato quanto um processo em andamento. É operação de Deus, através da qual somos feitos “conformes a imagem de Seu Filho” (Rm 8.29; 13.11).
Assim como Paulo somos desafiados a tarefa de desalojar a indiferença e dar ordem de despejo ao erro de se sentir pronto, embora sem destruir toda a gloriosa certeza da qual ele próprio acaba de dar testemunho, bem como de mostrar a necessidade de engajamento intenso, sem que esta motivação o leve outra vez a ficar debaixo da lei.
A obtenção da salvação, o fazer parte da comunidade dos eleitos, não nos isenta da responsabilidade do esforço cristão. É impossível ser um verdadeiro cristão sem ser comparado ao corredor numa pista. E o que faz um corredor na pista? Fica parado? Não, ele corre! Não há fé se não há obras. Não há justificação se não há perseverança na retidão. Não há discipulado se não seguirmos a Jesus. Não há um Jesus Salvador e um outro Jesus Senhor. Não! O Jesus que salva é o Senhor que exige que façamos o que ele manda. É o Salvador e Senhor que diz: “se alguém quer vir após mim, negue-se a si mesmo, e tome a cada dia a sua cruz, e siga-me” (Lc 9.23). Não se engane, “sem a santificação ninguém verá o Senhor” (Hb 12.14).
Aprendamos com Paulo a estar certo de uma coisa: não alcançamos ainda a perfeição. “não sou perfeito”! A luta contra o pecado não terminou quando eu aceitei a fé, ela somente começou! Não basta crer nos fatos do evangelho e clamar por salvação, temos de abandonar o pecado, mudar de estilo de vida, assumir um compromisso de fidelidade, termos disposição para se submeter a Cristo. Os crentes maduros, os que foram aperfeiçoados pela Palavra de Deus pensam assim como Paulo.

ILUSTRAÇÃO: Lembro-me da fábula de Esopo “A lebre a tartaruga”.

A lebre vivia a se gabar de que era o mais veloz de todos os animais. Até o dia em que encontrou a tartaruga.

– Eu tenho certeza de que, se apostarmos uma corrida, serei a vencedora – desafiou a tartaruga.

A lebre caiu na gargalhada. 

– Uma corrida? Eu e você? Essa é boa!
– Por acaso você está com medo de perder? – perguntou a tartaruga. 
– É mais fácil um leão cacarejar do que eu perder uma corrida para você – respondeu a lebre.

No dia seguinte a raposa foi escolhida para ser a juíza da prova. Bastou dar o sinal da largada para a lebre disparar na frente a toda velocidade. A tartaruga não se abalou e continuou na disputa. A lebre estava tão certa da vitória que resolveu tirar uma soneca.

"Se aquela molenga passar na minha frente, é só correr um pouco que eu a ultrapasso" – pensou.

A lebre dormiu tanto que não percebeu quando a tartaruga, em sua marcha vagarosa e constante, passou. Quando acordou, continuou a correr com ares de vencedora. Mas, para sua surpresa, a tartaruga, que não descansara um só minuto, cruzou a linha de chegada em primeiro lugar.
Desse dia em diante, a lebre tornou-se o alvo das chacotas da floresta. Quando dizia que era o animal mais veloz, todos lembravam-na de uma certa tartaruga...

Moral: Quem segue mesmo que devagar, mas com constância, sempre alcançará a vitória tão esperada.


É por isso que Paulo mostra o seu currículo a eles. Não como alguém que se sentisse superior, mas para mostrá-los que como crente em Cristo, confiava apenas na suficiência de Cristo e não em sua própria; mais ainda, estava longe do alvo da perfeição espiritual. Ele era um corredor na pista.
A sua conversão a Jesus Cristo levou-o não meramente a desprezar, mas também a renunciar a todas as vantagens de seu judaísmo anterior, passando a considerá-las agora desvantagens. E continuou a crescer nessa atitude, chegando a considerá-las mero “refugo” (3.8). Esse era o sentimento do seu coração. Paulo desmente qualquer reivindicação de perfeição, mais ainda, diz que se esquecendo do passado, prosseguia diretamente ao alvo celeste (3.12-16). É aqui que começa o empenho do corredor.

2.      O Empenho

Empenho é insistência obstinada, é tenacidade é afinco. Nisso a imagem do desportista também é extremamente útil. Por que o homem corre no estádio? Por ser “obrigação”? Por que alguém corre atrás dele com o chicote? Não, ele o faz de forma completamente voluntária e, não obstante, empenhando todas as suas forças! Como isso é possível? Ele não é instigado nem atiçado por trás, com ordens. Um único objetivo ocupa continuamente o pensamento de um corredor na pista de corrida: correr para o alvo, para ganhar o tão aguardado prêmio. Ele é convencido e atraído pelo alvo e pelo prêmio da vitória. Ele não permite que nada e ninguém o desviem da rota. Seu propósito é definido, muito bem definido. Assim é o cristão! O que põe o cristão em movimento? Não é uma “lei” com ordens e ameaças.
Quando Paulo diz nos versos 12 e 13: “prossigo” e “... esquecendo-me das coisas que atrás ficam e avançando ...”. Percebemos dois verbos muito importantes: esquecer e prosseguir ou avançar.

a)     Esquecendo

O bom corredor é aquele que não olha para trás, pois ele sabe que se o fizer perderá a velocidade, o equilíbrio, a direção e, finalmente, a própria corrida. Não tem como andar, muito mais correr, olhando para trás. É arriscado.
O mesmo ocorre espiritualmente. É proibido olhar para trás. Lembre-se da mulher de Ló (Lc 17.32)! Temos que desenvolver um esquecimento não meramente passivo, mas ativo, de forma que quando a lembrança de meus méritos, acumulados no passado, vier à mente, o esquecimento automaticamente apaga. Paulo se empenhou nisto. A marca da verdadeira salvação é que ela sempre produz um coração que sabe e sente sua responsabilidade de corresponder ao Senhor e às suas exigências. A própria essência da obra divina é a transformação da vontade, de desejos e atitudes que produz inevitavelmente o fruto do Espírito e resulta no amor a Deus.
A corrida em direção a semelhança de Cristo começa com um sentimento de honestidade e descontentamento em relação à santificação. Nada do que eu faça ou tenha, pode me fazer pensar que já cheguei ao ponto que Deus quer. Como quem diz: estou satisfeito, não sou como outros por aí, mês sempre dei o meu dízimo, sempre orei três vezes por dia, sempre fui um crente fervoroso, subia ao monte, numa época, duas vezes por semana, outrora eu lia a bíblia todos os dias, 10 capítulos, na verdade já li a Bíblia toda 20 vezes.
Amados, o passado passou! E hoje? Como vai a sua vida? Esqueça do passado, apague da sua memória a lembrança dos seus méritos, das suas obras, dos dons que recebestes. Pois só assim poderás avançar, prosseguir, crescer!

b)     Avançando

Eu preciso avançar para aquilo que está na minha frente. Nunca podemos nos achar “perfeitos” e completamente “nEle”. Eu sei muito bem que a Salvação não se trata de nós alcançarmos a Jesus, mas de Jesus nos conquistar! Mas, como está bem expresso no verso 12, os que foram alcançados por Cristo prosseguem correndo para conquistar o prêmio da santificação. É a perseverança dos santos que prova que estamos na fé. Eu preciso progredir na fé!  
Fomos “agarrados por Cristo Jesus” já por ocasião da cruz, onde ele nos estendeu a mão para nos salvar. Essa obra da cruz chegou à realização atual em nossa vida quando, no momento de nosso despertar e de nossa conversão, Jesus nos agarrou e venceu de forma bem pessoal, transformando-nos em propriedade dele. Essa é a base inabalável e perfeita: “Fui agarrado por Cristo Jesus.” Porém, “com base” nesse fato inabalável o incessante movimento de agarrar, de conquistar, de alcançar, passa agora pela vida cristã de acordo com as palavras de Paulo no texto. O que é maravilhoso e admirável para nós que fomos educados nas bases da Reforma, é que o motivo do movimento aqui não é simplesmente a nossa miséria, nosso anseio, nossa carência em si, mas a magnitude e plenitude de Cristo, ao qual estendemos as mãos sôfregas para agarrar. Como diz o louvor da Comunidade de Nilópolis: “eu, eu, eu, eu quero é Deus... não importa o que vão pensar de mim, eu quero é Deus”! Mas eu só quero por que foi para isso que fui alcançado por Ele.
O teólogo John Murray, no livro Redenção Consumada e Aplicada, diz que “é completamente errôneo afirmar que um crente está seguro, independentemente de sua vida subseqüente de pecado e infidelidade”. A expressão “uma vez salvo, salvo para sempre”, é incompleta em si mesma. Essa noção depende de explicação, pois o que parece é que a salvação de Deus consiste apenas na justificação do pecado, excluindo o arrependimento e a santificação do pecador.
De acordo com a Confissão de Fé Belga, as marcas do verdadeiro cristão são: 1. Receber a Cristo pela fé como único Salvador; 2) evitar o pecado; 3) seguir a justiça; 4) amar o Deus verdadeiro e o próximo; 5) não se desviar para a direita ou para a esquerda; 6) crucificar a carne com as suas obras; 7) lutar contras as fraquezas; 8) refugiar-se continuamente na paixão e na obediência de Cristo (Artigo 29).
O puritano John Owen disse: “A mortificação do pecado enfraquece a força [do pecado], mas não muda sua natureza. A graça muda a natureza do homem, mas nada pode mudar a natureza do pecado... Mortifique o pecado; faça disso sua labuta diária, sempre, enquanto viver; não termine nenhum dia sem lutar; continue matando o pecado ou ele o matará”.

Há muitos e muitos textos na Bíblia que nos exortam a não desistir e que prometem um prêmio aos que, perseverando, atravessam a linha de chegada da vida. Não somos perfeitos, admitimos: o pecado remanescente ainda vive em nós, em certa medida, até o dia da nossa morte ou arrebatamento. Mas nós como cristãos, com o auxílio do Espírito Santo, não podemos falhar em mortificar a carne com suas paixões pecaminosas diariamente. O Espírito de Deus habita em nós e nos dá força para vencer os obstáculos à santidade. Quem deixa de avançar, está pecando contra a bondade, a benevolência, a sabedoria e a graça de Deus que lhe tem dado os meios para avançar. Nós temos que progredir e não o pecado progredir em nós.
Aqui estão, pois, as atitudes que colaboram com o empenho do cristão: esquecer e avançar. Elas são a chaves para o empenho espiritual que resulta na perfeição. É por esse meio que o crente prossegue rumo ao alvo.
         
II.               O ALVO E O PRÊMIO CELESTIAL (v. 14)

A versão NVI do verso 14 diz assim: "prossigo para o alvo, a fim de ganhar o prêmio do chamado celestial de Deus em Cristo Jesus". Mas gosto também da paráfrase da NTLH que registra esse verso da seguinte maneira: "Corro direto para a linha de chegada a fim de conseguir o prêmio da vitória. Esse prêmio é a nova vida para a qual Deus me chamou por meio de Cristo Jesus".


1.      O Alvo

Veja que Paulo continua no texto, v.14, dizendo: “prossigo para o alvo...”. Em outras palavras, corro direto para a linha de chegada. O alvo é o centro de interesse, é o ponto que se pretende atingir, é o objetivo, é o desígnio fixado. Durante a corrida, a visão daquela coluna no fim da pista encorajava o competidor a redobrar seus esforços. Ele continuava a correr para o alvo, perseguindo o que estava diante de seus olhos.
Na corrida espiritual só há um alvo: Cristo. Ter o caráter de Cristo! O alvo tem a ver com a semelhança de Cristo aqui e agora na terra. O apóstolo desejava de todo o seu coração, ser completamente libertado do pecado. Ele procurou ardentemente manifestar a glória de Deus, por todos os meios ao seu alcance, particularmente como um testemunho vivo a todos os homens. O objetivo pelo qual Paulo se esforça promete um esplêndido troféu. Que troféu é esse? Que prêmio tão grande é esse?

2.      O Prêmio

O corredor jamais esquece o prêmio. Portanto, Paulo prossegue pelo prêmio da soberana vocação de Deus em Cristo Jesus”. Esse é o prêmio da salvação em toda a sua plenitude. Deus chamou o apóstolo e a todos nós, na conversão, por isso podemos todos dizer que fomos conquistados por Jesus. No entanto, a história não termina na conversão, mas apenas na glorificação final. Paulo entendia que o prêmio era a vida na glória com Cristo (v.13).
No final de cada corrida, o vencedor olímpico era convocado, da pista do estádio, a comparecer diante do banco do juiz a fim de receber o prêmio. Esse prêmio consistia numa coroa de louros. Em Atenas, na antiguidade, o vencedor olímpico também recebia a soma de 500 drachmai (drácmas). Além de tudo, era lhe permitido comer com todas as despesas pagas com o dinheiro público, e era-lhe concedido sentar-se no teatro em lugares de primeira classe.
Tudo me leva a pensar que Paulo tinha alguns desses fatos no mais recôndito dos seus pensamentos, ao declarar que prosseguia rumo ao alvo, rumo ao prêmio da vocação celestial de Deus em Cristo Jesus.

ILUSTRAÇÃO: Certa feita li um texto cujo tema era a perseverança cristã... ali estava o depoimento de certo nadador.

Observe o depoimento do nadador e faça uma comparação com alguns cristãos de hoje em dia e sua busca por alcançar o alvo e receber o prêmio final:

Meus braços já não suportavam mais. Eu buscava o fôlego com desespero. O vai e vem da cabeça que submergia e emergia para buscar oxigênio tornara-se frenético. Nadava me preparando para a próxima competição e precisaria intensificar os treinos. Mas, naquele dia estava exausto. Depois de quase meia hora de suplício, resolvi desistir.
Prometi a mim mesmo que ao tocar na borda da piscina pediria ao técnico para ir embora. Decididamente não agüentava mais. “Cheguei no meu limite”, disse ofegante. “Vou parar agora!”. Sem demonstrar pena de mim, ele respondeu-me dando-me as costas: “É nessa hora que os medíocres param!”. Senti-me um lixo. Busquei forças onde não tinha mais e voltei ao meu treino.
Aprendera uma lição que me serviria para o resto da vida: O prêmio será dado aos que não desistem e permanecem na luta.
   
Existe uma diferença real entre alvo e prêmio? Em certo sentido são uma só e a mesma coisa. Ambos apontam para Cristo, ou seja, a perfeição nEle. Não obstante, alvo e prêmio representam diferentes aspectos da mesma perfeição. Como dissemos acima, essa perfeição, ao ser chamada de alvo, é considerada como objetivo do esforço humano e está relacionado com o presente, com o aqui e agora. Ao ser chama de prêmio, é considerada dom da soberana graça de Deus. Deus concede vida eterna àqueles que se esforçam por alcançá-las. O prêmio fixa a atenção do corredor na glória futura, que começará na nova terra e no novo céu.
Com esse glorioso prêmio na mente – a saber, as bênçãos da vida eterna, tais com a perfeita sabedoria, o pleno gozo, a incorruptível santidade, a paz perfeita, a comunhão imensurável, tudo desfrutando para glória de Deus, num maravilhoso universo restaurado, e na companhia de Cristo e de todos os santos – Paulo e todos os cristãos prosseguem rumo ao alvo e rumo ao prêmio final.

CONCLUSÃO

É por isso que Paulo descreve a si mesmo como participante de uma corrida, disposto a exercitar todos os nervos e músculos, utilizando cada fração de suas energias, como atleta de veias inchadas, para não deixar de atingir o alvo. Esse alvo era alcançar o aperfeiçoamento da fé, na ressurreição dos mortos, para assim viver a plenitude da comunhão com Cristo nos céus. Esse era o segredo da vida de Paulo. Ele tivera um vislumbre da glória do céu (2Co 12.4) e estava totalmente disposto, absolutamente resoluto no sentido de chegar lá, pela graça de Cristo, junto com tantos outros quantos conseguisse persuadir pela pregação e testemunho de fé, a acompanhá-lo. Esse capítulo é uma das declarações mais enfáticas da esperança pessoal do céu por parte do grande apóstolo dos gentios. Somos cidadãos dos céus. Estamos aqui só de passagem, somos como estrangeiros, nossa pátria está lá. Os pés estão aqui, nossos corações estão, ou deveriam estar, lá nas alturas! Conhecer a Jesus Cristo e ter o caráter semelhante ao dEle é o prêmio supremo pelo qual todo crente deve se esforçar, 3:7-14.

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA:

Bíblias:

Bíblia de Estudo Almeida.
Bíblia de Estudo Genebra.
Bíblia de Estudo John MacArthur.
Bíblia de Estudo Thompson.
Bíblia de Estudo Vida Nova.
Bíblia Viva, uma paráfrase da Bíblia.
Bíblia Nova Tradução na Linguagem de Hoje.

Dicionários e Manuais:

Dicionário da Bíblia John D. Davis. Ed. Juerp e Hagnos.
O Novo Dicionário da Bíblia. Org. J. D. Douglas. Edições Vida Nova.
Dicionário de Paulo e Suas Cartas. Orgs. Gerald F. Hawthorne, Ralf P. Martin e Daniel G. Reid. Edições Vida Nova, Ed. Paulus e Ed. Loyola.
Manual Bíblico de Halley. SP: Editora Vida.
Manual Bíblico de Unger. SP: Edições Vida Nova.

Livros:

HENDRIKSEN, William. Comentário do Novo Testamento: Efésios e Filipenses. SP: Cultura Cristã, 2005.

CHEUNG, Vincent. Comentário sobre Filipenses. Boston, EUA: Reformation Ministries International. Direitos cedidos pelo autor ao site monergismo.com, 2003.

HAHN, Eberhard  e BOOR, Werner de. Cartas aos Efésios, Filipenses e Colossenses : Comentário Esperança / tradutor Werner Fuchs – Curitiba, PR : Editora Evangélica Esperança, 2006.

BARCLAY, William. O Novo Testamento Comentado por William Barclay: Filipenses. Tradução: Carlos Biagini. Versão eletrônica.

HARRISON, Everett F. Comentário Bíblico de Moody. Volume 2- Mateus a Apocalipse, p. 554ss. SP: Imprensa Batista Regular. Primeira impressão da nova edição, 2010.

DAVIDSON, F. org. O Novo Comentário da Bíblia. São Paulo: Edições Vida Nova, 1997.

MACARTHUR , John Jr. O Evangelho Segundo Jesus. São Paulo: Editora Fiel, 2003.

Ibid________________ . Sociedade Sem Pecado.  São Paulo: Cultura Cristã, 2010.

BEEK, Joel R. Vivendo Para Glória de Deus. São Paulo: Editora Fiel, 2010.

OWEN, John. O Que Todo Cristão Precisa Saber – A Tentação e A Mortificação do Pecado. São Paulo: PES, 2000.

2 comentários :

Muito bom o vosso artigo e ou sermão que vem ao encontro e necessidade que tenho de ministrar sobre este tema, e com irá contribuir com muitos pregadores/as da Palavra de Deus em todas as localidades. A paz e que o Senhor Deus contínue abençoando-o vosso ministério hoje e sempre. www.pastormurback.blogspot.com

Anônimo disse...

Deus o abençoe por essa palavra Pastor!