12/31/2010

FELIZ 2011 !!

Postado por Luís Filipe de Azevedo

Gostaria de desejar um excelente ano de 2011 para todos os leitores e seguidores deste blog.
Meu votos são que cada um consiga alcançar seus objetivos e sonhos que porventura não conseguiram realizar em 2010. Que o Senhor Deus seja o Senhor dos sonhos de cada um de vocês também. Isso, porque sonhar os sonhos de Deus é extremamente melhor!


"Que o SENHOR, o Deus dos seus antepassados, os
multiplique mil vezes mais e os abençoe, conforme lhes prometeu!" (Dt 1.11)

“O SENHOR te abençoe e te guarde;
o SENHOR faça resplandecer o seu rosto sobre ti e te conceda graça;
o SENHOR volte para ti o seu rosto e te dê paz." (Nm 6.24-26)

Um abraço apertado e felicidades!!!

Pr. Luís Filipe.



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12/29/2010

O FUNDO HISTÓRICO DO NOVO TESTAMENTO (PARTE 5)

Postado por Luís Filipe de Azevedo

O GÊNERO APOCALÍPTICO


O aparecimento da literatura apocalíptica ocorreu quando a escatologia judaica (conteúdo da mensagem) uniu-se com o mito judaico (forma da mensagem) durante uma época de perseguição (propósito da mensagem). A partir de uma literatura casual do apocalíptico judaico, certas características podem ser determinadas. Ele sempre possuía significação histórica, de autoria pseudônima, uso liberal de visões, um forte elemento preditivo, altamente simbólico, dramático, e era uma defesa radical do povo para o qual era escrito.

Quanto à forma, era pseudônimo, simbólico, mitológico, tinha prerrogativas de inspiração, cósmico em seu escopo, alegórico, visionário. Quanto ao conteúdo,era determinista, escatológico, pessimista acerca da história, dualístico, transcendental, e continha um mínimo de ensinos éticos e morais. Quanto à função, respondia a perguntas de um povo perseguido. Trata da justiça de Deus e do sofrimento do homem; muito nacionalista em seu escopo; tentava explicar algumas das passagens obscuras da Escritura Sagrada.

Esta foi a literatura mais distintiva produzida pelo judaísmo. Ela reflete os ideais e esperança mais altos do judaísmo; intensamente messiânica e profundamente profética. O período foi adaptado para a produção do gênero apocalíptico por causa de intensa perseguição e sujeição aos poderes estrangeiros. Comumente olhada como "tratados para tempos difíceis", essa literatura tentou responder a perguntas sobre por que o povo de Deus sofre. Com ensino ético geralmente omitido, a relação especial de Israel com Deus é ressaltada. Deus vindicará Israel, porque assim terá que fazer. Completamente futurísticas em seu ponto-de-vista, as visões e profecias são gerais, ao invés de específicas. Para proteger tanto o autor como os leitores, a obra era geralmente escrita no nome de um dos homens famosos do Velho Testamento.

O Livro de Enoque — Comumente chamado Enoque Etiópico, para distingui-lo de Os Segredos de Enoque (ou Enoque Eslavônico). Este é o mais importante de todos os apocalipses. De toda a literatura deste período, somente esta é citada em o Novo Testamento (Judas 14,15). Há três versões: grega, latina e etiópica. Apenas a etiópica é completa. Contendo 108 capítulos, o livro foi escrito entre 200-64 a.C. Seu propósito foi encorajar os fiéis e predizer a queda dos inimigos de Israel. A maioria dos estudiosos concorda que este é o livro mais desafiador e gratificante fora do cânon. Há muita coisa nele que leva a uma compreensão da teologia do Novo Testamento, e muita coisa que o mantém fora do cânon. Contudo, a popularidade deste livro presta-se a um importante estudo, que não pode ser encontrado no Velho Testamento.

O Livro dos Segredos de Enoque — Também conhecido como II Enoque ou Enoque Eslavônico. Provavelmente escrito entre 30 a.C. e 50 d.C. por um judeu alexandrino, para familiarizar seus patrícios no Egito com as idéias apocalípticas do judaísmo padrão. O autor faz uso de Enoque Etiópico, Eclesiástico, Baruque e outras literaturas apócrifas, bem como do Velho Testamento canônico. Ele é importante, porque demonstra um tipo de helenização do apocalíptico judaico.

O Segundo Livro de Baruque — Reflete o ponto de vista religioso do judaísmo do primeiro século. Discussão farisaica da queda de Jerusalém em 70 d.C. A última tentativa de o judaísmo interpretar-se como um modo de vida dinâmico. É a resposta do judaísmo a Paulo.

IV Esdras O autor diz que foi escrito este livro trinta anos após a destruição do Templo de Salomão. Mais provavelmente escrito em seguida à destruição do Templo de Herodes. Escrito para responder à pergunta acerca do sofrimento humano e dos problemas fundamentais na relação do homem com Deus. Seguindo-se ao Enoque Etiópico, este é o mais importante para os estudos do Novo Testamento.

Os Livros de Adão e Eva — Escrito durante o primeiro quartel do primeiro século da era cristã. Farisaico e nacionalista em seu panorama, prevê a vinda do Messias para breve, quando todo o Israel se arrependeria. Judas 9 é uma referência a este livro. Reflete o fariseu do "centro do caminho", o judeu ortodoxo.

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12/08/2010

O FUNDO HISTÓRICO DO NOVO TESTAMENTO (PARTE 4)

Postado por Luís Filipe de Azevedo

LITERATURA

Muitos tipos de literatura foram escritos pelos judeus durante a época do período interbíblico: história, ficção, sabedoria, gêneros devocional e apocalíptico. A maior parte desses escritos perdeu-se, e o que sobreviveu se fez através de judeus cristãos, pois os judeus procuraram destruir todos os "livros de fora". Foi costumeiro agrupar-se esses escritos em duas classificações, conhecidas como Apócrifos (aqueles juntados com o Velho Testamento, em vários manuscritos da Septuaginta) e os Pseudo-epígrafos (aqueles escritos durante o período, mas não juntados à LXX).

O cânon encerrado do Velho Testamento foi formado por estágios, e não se completou até após a Guerra Judaico-Romana (66-70 d.C), quando se tornou evidente que o cristianismo e o judaísmo haviam-se definidamente separado, com nenhuma esperança de reconciliação. Os judeus farisaicos mudaram-se para Jâmnia e voltaram ao estudo da Torah com o novo propósito de reedificar o judaísmo. Eles não tolerariam nenhum outro escrito como tendo até mesmo igualdade aproximada com o Livro Sagrado. Só reconheciam os livros escritos em hebraico e aramaico antes do final do período persa. Eles então destruíram todos os originais semíticos, de toda a literatura extra-canônica. Os livros que sobreviveram foram preservados pelos cristãos. Os cristãos, contudo, desde o princípio reconheceram os "livros de fora" como não sendo parte das Sagradas Escrituras. O Concilio de Trento (1546), ao colocar a tradição em igual autoridade com o cânon aceito do Novo Testamento, declarou onze desses "livros de fora" como sendo genuínos.

Alguns desses livros têm grande valor histórico; outros são clássicos devocionais; uns são interessantes; outros, definidamente, são invenções. Tanta coisa, nessa literatura, é abertamente supersticiosa e fora de harmonia com o restante das Escrituras, que não pode ser admitida como sendo inspirada. Pode ser lida proveitosamente, mas não deve ser usada como autoridade em doutrina. A classificação a seguir é para dar uma pequena introdução a esse corpo de literatura.


HISTÓRICA

Esta matéria é, historicamente, a mais confiável do período. Há, contudo, tantos erros gritantes, que foi rejeitada como literatura inspirada.

I Esdras — Às vezes chamado III Esdras, porque na LXX os livros canônicos de Esdras e Neemias são chamados Esdras A e B. A Vulgata chama o Esdras canônico, I Esdras, Neemias, II Esdras e este livro, III Esdras. Há ainda outro livro chamado IV Esdras. Esta obra segue a narrativa bíblica de II Crônicas 35 até Esdras e Neemias. A seção 3:1-5:6 supostamente é uma renarração da construção do templo. As narrativas históricas dos reis persas estão invertidas. Devido à semelhança com outros escritos, a data mais lógica da escrita é de 200 a 150 a.C.

I e H Macabeus — Esta última obra refere-se aos sofrimentos dos judeus sob Antíoco (176-171 a.C.). A outra (I Macabeus) é mais extensa e é uma história dos judeus desde Antíoco até a morte de Simão (175-135 a.C.). I Macabeus é a fonte primária para a história desse período. II Macabeus preocupa-se mais com a religião judaica do que com a história. Ambos foram escritos no final do segundo ou no início do primeiro século antes de Cristo.


FICÇÃO

Estas obras são o que seria denominado hoje ficção histórica. Esta ficção, colocada numa estrutura histórica, era usada para propósitos didáticos. Era propaganda judaica para impressionar lições éticas, religiosas e patrióticas.

Tobias — Escrito este livro no final do terceiro ou início do segundo século antes de Cristo, supõe-se que os eventos ocorreram durante o oitavo século. Representa um alto tipo de piedade e ética judaicas. Ê colocada ênfase na obediência filial, sepultamento dos mortos, anjos, demônios e axiomas morais e éticos. A proeminência do ensino contra casamento misto é também observada. O autor não parece ser um judeu da Palestina. Ele descreve as variadas aventuras dos judeus no exílio como sendo um deles.

Judite — Esta obra retrata o patriotismo e devoção judaicos próprios. Provavelmente foi escrita por volta do início do segundo século antes de Cristo. O cenário é da época dos assírios, com Nabucodonozor sendo seu rei!

Epístola de Jeremias (Jeremias) — Teve como finalidade expor a insensatez da idolatria durante a época da helenização dos judeus, tendo sido escrita por volta da mesma época de Tobias (225-175 a.C.).

III Macabeus — Enfatiza a providência de Deus durante os tempos da perseguição sob os Ptolomeus do Egito. Relata como Ptolomeu foi miraculosamente repelido em seu esforço de entrar no Templo. Foi escrito por um judeu de Alexandria durante o primeiro século antes de Cristo.

Carta de Aristeas — Supostamente escrita por um gentio que ajudou a iniciar a tradução das Escrituras hebraicas para o grego. Ele elogia tudo o que é judaico. Foi escrita por volta da mesma época de III Macabeus, refletindo a filosofia judaico-alexandrina.


GNÔMICA (SABEDORIA)

Mesmo uma leitura casual do Velho Testamento indicará que os autores se preocupam com o prático e o concreto. A literatura grega é mais teológica e está preocupada com idéias. Para o judeu, a sabedoria precisa realizar-se na conduta diária. Sua origem se encontra na sabedoria de Deus e não é, portanto, o resultado da especulação. A literatura de sabedoria deste período expressa uma crescente amalgamação do fundo histórico judaico e grego, à medida que os judeus estavam gradualmente assimilando a helenização dos tempos.

Eclesiástico ou A Sabedoria de Jesus, o Filho de Siraque — Um manual de conduta para promover um viver superior. No prólogo é apresentada informação que possibilita datar-se o livro bem precisamente entre 190-170 a.C. Aproxima-se do livro canônico de Provérbios, quanto ao seu conteúdo.

Testamento dos Doze Patriarcas — Hagadaico em seu caráter, foi escrito durante a época de João Hircano I, quando ele estava tendo problema com os fariseus. Há doze seções, uma devotada a cada um dos patriarcas. O interesse principal é ético e semelhante ao Novo Testamento, em seu tom.

Sabedoria de Salomão — Refletindo a filosofia alexandrina, este livro foi escrito entre 100 e 50 a.C. Os primeiros capítulos são os mais interessantes, em toda a literatura do período. Um escrito de grande percepção espiritual, envolvido no conflito entre a realidade cotidiana e o judaísmo. O propósito do livro parece ser igualmente didático e evangelístico.

Salmos de Salomão — Uma coletânea de dezoito salmos, refletindo o judaísmo farisaico do primeiro século antes de Cristo. O mais importante é o décimo sétimo, para o estudo do Novo Testamento, pois é messiânico. O propósito foi verificar a crescente helenização e corrigir o judaísmo literal.

Livro dos Jubileus — Um documento do segundo século a.C., da autoria de um fariseu, para exaltar a lei. A forma é midrássica (comentário corrido) do Velho Testamento.

Oráculos Sibilinos — Reminiscências fragmentárias de ditos supostamente divinos, através de médiuns chamados sibilos. Reunidos para propaganda judaica de 300 a.C. a 150 d.C. Os elementos judaicos são encontrados no Livro III e consistem de um resumo da história judaica, destino dos ímpios, tempo do fim e o mundo por vir.

IV Macabeus — Construindo sobre o material contido em II Macabeus, o autor apresenta uma diatribe contra o imperador romano Calígula, quando ele conduziu uma perseguição dos judeus em Alexandria. Mostrando uma forte influência grega, o escritor mostra o poder da razão inspirada (recebida através de um estudo da lei) sobre a paixão. Quase estóico em seu conteúdo.

Oração de Manassés — Reflete a verdadeira piedade dos fariseus por volta da época de Jonatã (150 a.C.). Ênfase sobre valores morais e espirituais reais, e não sobre deveres artificiais ou legalísticos.

Assunção de Moisés — Estilo de I Baruque, mas um pouco anterior, 20-25 d.C.

Livro de Baruque — Às vezes denominado I Baruque, para distingui-lo do Apocalipse de Baruque (ou II Baruque). Supostamente escrito pelo secretário de Jeremias como uma profecia, lamenta a queda de Jerusalém após a Guerra Judaico-Romana de 66-70. O livro trata das razões da queda de Jerusalém e da esperança por sua restauração.

Adições ao Livro de Daniel — Estas adições ao Daniel canônico são encontradas na Septuaginta e no Velho Testamento Aramaico. Escritas por volta de 100 a.C., refletem as perseguições dos fariseus desde o tempo de Antíoco Epifânio. "A Oração de Azarias e O Cântico das Três Crianças Hebréias" ensinam que Jeová é o campeão particular de Israel contra seus inimigos. "Suzana" ilustra a necessidade e o valor do interrogatório contraditório e do castigo das falsas testemunhas. "Bel e o Dragão" mostra a unidade e independência de Jeová, o absurdo da idolatria e a supremacia do monoteísmo.

Adições ao Livro de Ester — Um produto do farisaísmo judaico da época das adições ao livro de Daniel. Numa tentativa de tornar o livro canônico mais religioso, o nome de Deus é introduzido no texto, dando-se detalhes mais precisos no lugar de declarações resumidas.

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12/07/2010

O FUNDO HISTÓRICO DO NOVO TESTAMENTO (PARTE 3)

Postado por Luís Filipe de Azevedo

GRUPOS RELIGIOSOS

Novo Testamento observa a presença de partidos religiosos que eram desconhecidos no Velho Testamento. A fonte principal de informação é encontrada nas obras de Flávio Josefo. Em dois de seus livros, As Guerras dos Judeus (II, viii, 1-4) e As Antigüidades dos Judeus (XIII, v. 9), ele escreve acerca de quatro desses partidos: fariseus, saduceus, zelotes e essênios. Para nossos propósitos, os herodianos e os zadoqueus devem ser acrescentados. Os samaritanos já foram mencionados

1. Fariseus — O grupo maior e mais importante é o chamado os fariseus. A palavra em si significa "separatistas", tendo sido, provavelmente, aplicada como expressão de escárnio aos oponentes. Eles fizeram seu primeiro aparecimento definido como um grupo com este nome durante a época de João Hircano I. Alguns estudiosos dizem que o termo foi pela primeira vez usado quando alguns judeus piedosos "se separaram" de Judas Macabeu, depois de 165 a.C. É mais provável que eles foram os sucessores dos "hasidins", que se haviam empenhado em "separar-se" do pecado, e na "separação" (interpretação) das Escrituras, durante as reformas de Esdras e Neemias.

Seja qual for sua origem, os fariseus foram o resultado final do movimento que teve seus primórdios com Esdras, intensificado pelos hasidins, sob os sírios e romanos. Eles representam aquela tendência, no judaísmo, que sempre reagiu contra dominadores estrangeiros, mantendo o exclusivismo judaico e a lealdade à tradição dos pais. Pouco se interessavam no poder político, mas se tornaram os mentores políticos de Israel. Eles tinham maior controle sobre o povo do que os saduceus, que eram mais abastados e politicamente poderosos. Controlavam a sinagoga, e só eles sobreviveram à Guerra Judaico-Romana de 66-70.

Devido à sua profunda reverência para com os ideais nacionais e religiosos judaicos, e devoção aos mesmos, os fariseus se opuseram à introdução das idéias gregas, e não deixou de ser natural que se tornassem o partido reacionário. Para eles, as coisas velhas eram as únicas coisas boas. Num desejo sincero de tornar a lei praticável dentro do mundo greco-romano em mudança, os fariseus aderiram ao sistema da tradição dos pais. Começando com as Escrituras, eram feitas interpretações para se ajustar uma situação existente ou combater um erro em teologia. Nas tentativas de responder a problemas levantados por religiões intrusas, muitas idéias dormentes no Velho Testamento foram desenvolvidas e aumentadas. Entre essas doutrinas desenvolvidas durante esses 400 anos estão a ressurreição dos mortos, os demônios, os anjos e a esperança messiânica.

Para o fariseu, a tradição oral suplantou a lei. Este era o principal ponto em que divergiam dos saduceus, que não viam nenhuma necessidade de alterar-se a lei. Os fariseus diziam que as finas distinções das tradições orais eram para facilitar o cumprimento da lei sob novas condições e tornar virtualmente impossível pecar-se. Eles também colocavam uma forte ênfase sobre a providência divina nos assuntos do homem.

2. Saduceus — Embora a origem da seita esteja perdida na obscuridade, o nome pode ter-se derivado de um certo Zadoque, que sucedeu Abiatar como sumo sacerdote durante os dias de Salomão. Pode ter vindo da palavra hebraica "zoddikim", que significa "os justos". Os saduceus gabavam-se de sua fidelidade à letra da lei mosaica, em contradistinção à tradição oral. Este era o partido da aristocracia e dos sacerdotes abastados. Eles controlavam o sinédrio e qualquer resquício de poder político que restava. Eram os colaboracionistas, a tendência que favorecia o poder estrangeiro e que se alinhava com ele pelo poder. Também controlavam o templo. O sumo sacerdote era sempre o líder deste grupo. Era um grupo fechado e não procurava prosélitos, como o faziam os fariseus.

Teologicamente conservadores (diziam),limitavam o cânon à Torah ou Pentateuco. Rejeitavam as doutrinas da ressurreição, demônios, anjos, espíritos, e advogavam a vontade livre, em lugar da providência divina. Este grupo não sobreviveu à Guerra Judaico-Romana de 66-70.

3. Zelotes — Os zelotes representavam o desenvolvimento na extrema esquerda entre os fariseus. Estavam interessados na independência da nação e sua autonomia, ao ponto de negligenciarem toda outra preocupação. Segundo Josefo, o fundador foi Judas de Gamala, que iniciou a revolta sobre o censo da taxação, em 6 d.C. Seu alvo era sacudir o jugo romano e anunciar o reino messiânico. Eles precipitaram a revolta em 66 d.C, que levou à destruição de Jerusalém em 70. Simão, o zelote, foi um dos apóstolos.

4. Essênios — Estes representavam o desenvolvimento na extrema direita entre os fariseus. Eram uma ordem distinta, na sociedade judaica, mais que uma seita dentro dela. Sendo o elemento mais conservador dos fariseus, eles enfatizavam a observação minuciosa da lei. Formavam uma comunidade ascética ao redor do Mar Morto, e viviam uma vida rigidamente devota. Eram a sobrevivência dos hasidins mais estritos, influenciados pela filosofia grega. A partir dos documentos de Qumram, parece que eles aguardavam um messias que iria combinar as linhagens real e sacerdotal, numa estrutura escatológica. Este grupo não é mencionado em o Novo Testamento.

5. Herodianos — Os saduceus da extrema esquerda eram conhecidos como os herodianos. Tirando o nome da família de Herodes, eles baseavam suas esperanças nacionais nessa família e olhavam para ela com respeito ao cumprimento das profecias acerca do Messias. Eles surgiram em 6 d.C, quando Arquelau, filho de Herodes, o Grande, foi deposto, e Augusto César enviou um procurador, Copônico. Os judeus que favoreciam a dinastia herodiana eram chamados "herodianos". Este grupo é mencionado em Mateus 22:16 e Marcos 3:6; 12:1.

6. Zadoqueus — Na extrema direita dos saduceus estava o grupo conhecido como os zadoqueus. Embora não mencionados em o Novo Testamento, este grupo é importante, porque mostra outra tendência entre os saduceus, talvez dando uma chave quanto à sua origem. Em 1896, um fragmento de um documento foi encontrado numa sinagoga no Cairo. Publicado em 1910, com o título Fragmentos de uma Obra Zadoquita, este termo entrou em todas as discussões acerca do judaísmo sectário. A descoberta de outros documentos na comunidade de Qumram, do Mar Morto, sugere alguma relação entre os zadoqueus, os essênios e a comunidade de Qumram. Um movimento de reforma foi iniciado entre os sacerdotes (filhos de Zadoque), entre os saduceus, durante o início do segundo século a.C. Quando a reforma fracassou, eles foram para Damasco e estabeleceram uma comunidade sob um novo conjunto de regulamentos, denominado "o novo concerto". Alguns posteriormente voltaram como missionários para sua terra natal e depararam com amarga oposição por parte dos fariseus e saduceus. Alguns, então, encontraram seu caminho em direção às comunidades ao redor do Mar Morto. Eram missionários fervorosos, em busca de um mestre de justiça que chamasse Israel de volta ao arrependimento e apareceria no advento do Messias. Eles aceitavam toda palavra escrita, mas rejeitavam a tradição oral. Eram muito abnegados na vida pessoal e leais aos regulamentos da pureza levítica. Deram grande ênfase à necessidade de arrependimento.

TRADIÇÃO ORAL

A tradição oral teve seus primórdios com a nova ênfase colocada na lei (escribismo) por Esdras, o escriba, por volta de 458 a.C., no período persa. Todavia, os judeus afirmavam popularmente que ela remontava ao próprio Moisés. Ele, diziam eles, a recebera de Deus ao mesmo tempo que a lei escrita, mas com instruções para não escrever a lei oral. A lei oral (ou tradição dos pais) não cresceu da noite para o dia, mas desenvolveu-se através de várias gerações, à medida que surgiam perguntas acerca da lei escrita. Constituía-se de interpretações rabínicas da Torah para situações específicas. A "exegese" da primeira geração foi conhecida como "haggadah". Esta era apenas uma opinião dada a uma pergunta. Durante as gerações seguintes, se as perguntas vinham novamente à tona e se o comentário hagadaico pudesse ser lembrado, a interpretação, então, tornava-se "halachah" e igual à lei escrita. Tudo isto era feito de memória e passado de geração para geração, pelos rabis e pelos escribas.

Naturalmente, apareceram diferenças nas interpretações, à medida que o tempo passava. E havia escolas diferentes. No primeiro século antes de Cristo, dois fariseus influentes estavam nas extremidades opostas do espectro teológico. Hillel, avô de Gamaliel de Atos 5:34, era liberal em seus pronunciamentos, e Shammai era muito estrito e legalístico. O Talmude babilônico registra 316 controvérsias entre estas duas escolas de posição teológica.

Após a destruição de Jerusalém em 70 d.C, os fariseus foram para Jâmnia e iniciaram a tarefa de escrita da tradição dos pais. O processo de codificação ocorreu entre 70 e 200 d.C. A obra acabada é chamada o Mishnah. Fez-se, então, um comentário sobre o Mishnah. Este é chamado o Gemarah. Estes dois foram combinados em uma obra completa, com o nome de Talmude. Este foi publicado em duas edições: o Talmude palestino (terminado pelo final do quarto século) e o Talmude babilônico (terminado pelo final do quinto século, e melhor organizado).

Fiquem com Deus e até a próxima parte do estudo.

Pr. Luís Filipe

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12/02/2010

O FUNDO HISTÓRICO DO NOVO TESTAMENTO (PARTE 2)

Postado por Luís Filipe de Azevedo

O PERÍODO MACABEU OU HASMONEU (167-63 a.C.)


A princípio a resistência dos judeus foi somente passiva. A medida que a perseguição aumentava em intensidade e os fogos da adoração de Deus queimavam cada vez mais baixo, iniciou-se a resistência ativa. A liderança para a organização da resistência ativa começou com um sacerdote, na cidade de Modin, situada entre Jerusalém e Jope. Matatias era da linhagem de um certo Asamoneu ou Chasmon (Hasmon). É deste último nome que a família tirou seu nome, hasmoneu. Estando avançado em idade, Matatias teve cinco filhos: João, Simão, Judas, Eleazar e Jonatã. Judeus de toda a Palestina, insatisfeitos com as políticas de helenização de Antíoco Epifânio e o sacerdócio corrupto, vieram a responder à chamada às armas. Muito antes, os hasidim ou assideus (zelotes da lei) uniram-se a Matatias. Após um ano e a morte do pai, a liderança do exército passou a Judas, Simão servindo como conselheiro principal. Judas provou ser um general capaz e levou o nome de Macabeu ("Martelador"). Depois de uma série de brilhantes vitórias, ele entrou em Jerusalém e rededicou o Templo, em 25 de dezembro de 165 a.C.

Não contente com simplesmente uma forma de liberdade religiosa em Jerusalém, Judas quis conseguir a liberdade política igualmente. Seus seguidores devotos (os hasidim), contudo, se opuseram a este plano ambicioso e o abandonaram. Com apenas 600 em seu exército, Judas foi morto na Batalha de Elasa, em 161 a.C. Muitos judeus sentiram-se ofendidos quando Judas apelara a Roma por ajuda (I Mac. 8:17-32).

Jonatã, irmão de Judas, tornou-se o líder da revolta, e, numa série de brilhantes manobras políticas, foi designado sumo sacerdote, e os judeus receberam liberdade religiosa. Mediante a morte de Jonatã, Simão, o filho mais velho de Matatias, assumiu a liderança e o sumo sacerdócio. Em 142 a.C., a astuta política diplomática de Simão foi recompensada com independência política completa.

De 142 a.C. a 63 a.C., a nação judaica esteve mais uma vez independente. Os príncipes que se seguiram a João Hircano I (filho de Simão) não tinham o espírito de patriotismo corajoso e auto-sacrificial que havia marcado os antigos macabeus, e eles se degeneraram em procuradores de posição e intriga política dentro da família. Irmão contra irmão, filho contra mãe, até no final de uma disputa, foi apelado à força romana e, com a intervenção dos romanos, a nação judaica tornou-se uma província romana.


O PERÍODO ROMANO (63 a.C. — 135 d.C.)

1. Sob Herodes, o Grande (63-4 a.C.) — Com a morte da rainha Alexandra Salomé, em 69 a.C., tanto o poder político como o religioso passaram para as mãos de um filho muito brando, João Hircano II. Seu irmão, Aristóbulo II, era muito ambicioso. Hircano foi persuadido a desistir do trono, mas reteve o ofício de sumo sacerdote. Aristóbulo logo cobiçou essa posição também. Antípater, um idumeu e conselheiro de Hircano, viu uma oportunidade de jogar um irmão contra o outro. Tomando o partido do irmão mais fraco, ele persuadiu Hircano que sua vida estava em perigo, e, assim, foi feito apelo a Pompeu, general romano. Em 63 a.C., Pompeu entrou em Jerusalém e decidiu em favor de Hircano. Contudo, a Judéia ficou sob o controle romano, e Antípater foi designado procurador, e Hircano, como sumo sacerdote. Antípater designou seu filho Fasael, governador da Judéia, e seu filho Herodes, governador da Galiléia.

Após a morte de Antípater e Fasael, Herodes recebeu de Antônio e Otávio, em 40 a.C., o título de "Rei dos Judeus". A nação da Judéia, contudo, ainda era uma parte da província romana da Síria. Hircano II permaneceu como sumo sacerdote por um certo tempo, mas finalmente foi despedido (depois que Herodes casou-se com sua neta Mariamne), e este ofício tornou-se outra vez sujeito ao maior arrematador.

Herodes, o Grande, foi um intermediário eficaz entre os romanos e os judeus. Embora os judeus o odiassem, por ser um estranho e estar sob os romanos, Herodes persuadiu estes a concederem vários privilégios àqueles. Ele manteve a nação em paz com Roma. Tentando ganhar o apoio dos judeus, Herodes entrou num ambicioso programa de construção, eliminou os bandos errantes de salteadores, e, em geral, trouxe prosperidade à Judéia. Ele era, contudo, um homem muito ciumento e cheio de suspeitas. Um de seus maiores empreendimentos foi a reconstrução do Templo, iniciada em 19 a.C., e ainda estava em progresso 46 anos mais tarde (João 2:20).

A vida familiar de Herodes foi muito infeliz e cheia de intrigas entre suas dez esposas, seus filhos e seus próprios irmãos e irmãs. Quando ele morreu, havia feito e mudado sua vontade várias vezes. Alguns de seus filhos ele matou, bem como a sua amada Mariamne. Foi durante seu reinado e por causa de preocupação ciumenta por sua posição que ele ordenou a matança das crianças ao redor de Belém, após o nascimento de Jesus.

2. Sob os Procuradores (4 a.C. 70 d.C.) — Como seus herdeiros não puderam controlar a Judéia, esta passou para o governo romano direto, através dos odiados procuradores. De 6 a 66 d.C., não menos que 14 homens foram enviados à Judéia para governar os negócios. Geralmente esses homens eram aqueles com quem o imperador romano tinha uma dívida. Era uma posição lucrativa, e esses homens estavam mais interessados em se tornarem ricos do que em serem bons governadores. De tempos em tempos os judeus expressavam sua insatisfação e os choques inevitáveis surgiam. Esses grupos reacionários aumentaram em número a tal ponto, e os procuradores se tornaram tão implacáveis em suas políticas.que a revolta aberta irrompeu-se em 66 d.C. Este foi o começo da Guerra Judaico-Romana de 66-70 d.C. Jerusalém foi tomada pelos romanos, sob a liderança de Tito, o Templo destruído, e o sacrifício ordenado por Moisés foi cessado até o dia presente. A nação judaica cessou de ser uma nação, e o judaísmo sofreu um golpe tremendo.


DESENVOLVIMENTOS RELIGIOSOS

O Novo Testamento demonstra uma marcante diferença na atmosfera religiosa, em comparação com a do Velho Testamento. Isto é visto nas várias instituições, grupos e pela ênfase na tradição oral.

INSTITUIÇÕES

1 A Sinagoga — Embora a tradição judaica afirme que a sinagoga teve origem mosaica, ela parece ter começado a existir durante o período babilônico ou persa. Até o tempo do exílio, a adoração e a instrução religiosa judaicas centralizam-se em torno do Tabernáculo ou do Templo de Salomão. Na Babilônia, a instrução religiosa foi prosseguida pelos sacerdotes e levitas, numa tentativa de conservar o conhecimento de Jeová vivo. Esses locais de adoração e instrução tornaram-se conhecidos como "sinagogas"; a palavra é grega e significa "reunidos juntos". O propósito nunca incluía a idéia de se oferecer sacrifícios, o que poderia ser feito somente no Tabernáculo ou no Templo. Alguns estudiosos acham que os fariseus usavam a sinagoga como um meio de obter a lealdade dos saduceus e adorarem no Templo.

A administração da sinagoga cabia a um grupo de anciãos (Zeqenim), um dos quais foi eleito seu presidente (Sheliach). Era necessário ter-se pelo menos dez homens numa comunidade antes que uma sinagoga pudesse ser organizada. A função do presidente era manter a ordem durante as reuniões e escolher o orador para o culto do sábado. Um auxiliar (Chazzam) era designado para estar a cargo da construção e do manuseio das Escrituras. Parece que gradualmente a ele foi transferida a responsabilidade do ensino.

A adoração na sinagoga foi desenvolvida de acordo com o modelo do culto do Templo e nas mesmas horas, no sábado: a terceira, a sexta e a nona. Posteriormente os cultos eram realizados na segunda e terça, bem como no sábado. As pessoas entravam, curvando-se para a parede do lado ocidental, onde as Escrituras estavam contidas num gabinete chamado a "arca". Fazia-se uma oração e depois eram cantados salmos. O auxiliar abria a "arca" e reverentemente removia as Escrituras, entregando-as ao presidente. Em seguida à leitura das Escrituras, durante a qual todos ficavam de pé, o presidente sentava-se e iniciava uma exortação, à luz da passagem lida. Freqüentemente, ele pedia, a algum visitante ilustre, para fazer essa "pregação". Depois as Escrituras eram recolocadas na "arca", em seguida sendo proferidos salmos e orações, e depois uma bênção era pronunciada.

Por toda a diáspora judaica, sempre que havia homens suficientes, eram instituídas sinagogas. Muitas cidades tinham várias sinagogas, para dar conta do vasto número de judeus naquelas áreas. Estima-se que Jerusalém, durante a época do Novo Testamento, tinha cerca de 500. Por esta razão, os missionários cristãos puderam ter acesso à maior parte do Império Romano. Eles, especialmente Paulo, iniciavam seu trabalho, sempre que possível, dentro da comunidade judaica e da sinagoga.

2. O Templo — Com o retorno do primeiro grupo de exilados, foi iniciado o trabalho da construção do Templo. Na realidade, este foi o propósito primordial para alguns que retornaram. Os que permaneceram na Babilônia deram apoio financeiro para o retorno, a fim de que o Templo fosse construído. Sob a pregação de Ageu e Zacarias, o Templo (conhecido como o Templo de Zorobabel) foi terminado e dedicado em 516 a.C. Com alguns poucos acréscimos, para aumentar as áreas de reunião, o Templo de Zorobabel durou até a época de Herodes, o Grande. Tentando obter o favor dos judeus, Herodes iniciou a construção de um templo que iria exceder em beleza o de Salomão. Com a construção iniciada em 19 a.C., o pórtico, o lugar santo e o santo dos santos foram terminados em um ano e meio (ver Josefo, Antigüidades dos Judeus — xv. 11.6), mas a estrutura inteira não foi terminada até 65 d.C., cinco anos antes de sua destruição pelas legiões romanas, na Guerra Judaico-Romana de 66-70. Foi nesse Templo inacabado que, segundo João, Jesus fez tantos milagres e deu ao mundo tantos ditos maravilhosos.

3. O Sinédrio — Quando Esdras e Neemias trabalhavam em Jerusalém, eles fizeram o povo fazer pacto de que iria viver por um código externo de regras baseadas, diziam eles, na lei de Moisés. Quando Esdras e Neemias morreram, esta responsabilidade de instrução passou a um grupo de pessoas denominadas sopherim ou a "Grande Sinagoga". Este grupo durou cerca de 400 a 200 a.C. Este grupo foi o precursor do sinédrio. Seus sucessores, como mestres da lei, foram os zugotes (200 a.C. — 10 d.C.), que, por sua vez, foram sucedidos pelos tanains (10 a 200 d.C.) e pelos amorains (220-500 d.C.).

Foi para o final da época da "Grande Sinagoga" que o termo sinédrion ( sune/drion ) entrou em uso. Ele executava a função da suprema corte dos judeus, sendo o sumo sacerdote o presidente. A tradição remonta suas origens ao conselho mencionado em Números 16:16. É verdade que, na história de Israel, os anciãos funcionaram como os corpos judiciários, legislativo e executivo da nação. Houve períodos de grande influência e poder, bem como períodos de quase completa sujeição ao poder dominante. Sob Herodes, o Grande, o sinédrio esteve sem força; mas, no tempo de Jesus, o sinédrio exerceu grande autoridade, excetuando-se-lhe apenas aquelas questões que envolveriam a política e jurisdição romanas. Ele poderia passar a sentença de morte, mas somente com a aprovação do governador romano a sentença poderia ser executada.

O conselho tinha setenta e um membros (pelo menos), encabeçados pelo sumo sacerdote. A maior parte dos membros era da linha sacerdotal e, portanto, do partido saduceu. Foi arranjado lugar, contudo, para fariseus abastados e bem conhecidos, especialmente os grandes rabis. A partir da tradição rabínica, parece que este corpo tinha o poder de legislar regras de conduta para todos os judeus, em todo lugar. Por causa de seu prestígio, suas decisões eram honradas por toda a dispersão judaica.

Até a próxima parte,

Pr. Luís Filipe.

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12/01/2010

O FUNDO HISTÓRICO DO NOVO TESTAMENTO (PARTE 1)

Postado por Luís Filipe de Azevedo

Estarei a partir de hoje, com a ajuda do Altíssimo, postando uma série de estudos introdutórios sobre o Novo Testamento, atendendo ao pedido de alguns alunos meus. É claro que, se houver necessidade, tratarei de outros temas.

Um estudo adequado da Bíblia não pode ser feito sem uma consciência aguda das diferenças nas atitudes e estruturas políticas, culturais e religiosas que existem entre o Velho e o Novo Testamentos. Suporse-ia, logicamente, um certo desenvolvimento durante os 400 anos que decorreram entre os dois livros; mas as várias mudanças observáveis devem ser explicadas. É necessário, portanto, voltar-se, na história, até o tempo entre os dois Testamentos, a fim de se apreciar mais completamente a situação pressuposta no Novo Testamento.

Algumas coisas que são aceitas como verdadeiras, no Novo Testamento, para as quais é necessária uma explicação, são as seguintes:

1. A situação política (domínio romano, as divisões da Palestina).

2. A dispersão judaica (judeus em cada cidade principal do Império Romano).

3. Uma sociedade urbana.

4. A língua (grego e aramaico; hebraico limitado aos eruditos).

5. Exclusivismo judaico.

6. Ênfase sobre a Tora.

7. O sinédrio.

8. A sinagoga e a escola.

9. Seitas religioso-políticas (saduceus, fariseus, essênios, escribas, zelotes, herodianos, zadoqueus).

10. Literatura extra-canônica (apócrifos e pseudo-epígrafos).

11. Tradição oral.

12. Fim da idolatria.

13. Doutrina explícita da ressurreição.

14. Doutrinas de anjos, demônios, etc.

15. Publicanos e pecadores (Ame-ha-Aretz).

16. Filosofia judaico-alexandrina.

17. Interesse no apocalíptico.

18. Samaritanos.

19. Monogamia estrita.

20. Sacerdócio corrupto.

21. Messianismo político.

A abordagem a ser feita, neste estudo do fundo histórico, será ao longo de três linhas: a história política, as instituições e as seitas religiosas, e a literatura do período.

HISTÓRIA

O Velho Testamento encerra-se com os filhos de Israel sob a dominação dos persas. No Novo Testamento, a Palestina é subserviente aos romanos. A história política que denota esta mudança incide em quatro partes: o período persa, o período grego, o período macabeu ou hasmoneu (o período da independência) e o período romano.

O PERÍODO PERSA (538-331 a.C.)

O reino do norte de Israel havia sido conquistado pelos assírios em 722 a.C. sob a liderança de Sargão. Seus habitantes foram então deportados para a Assíria (II Reis 17:6) e para outras terras conquistadas. Por sua vez, os povos de outras nações conquistadas foram então importados, para povoarem a área conhecida como Samária. A política dos assírios foi tentar destruir todo vestígio de linhagem nacional e, assim, unir todos os povos num só.

Em 612 a.C., os babilônios, liderados por Nabopolassar, destruíram Nínive e conquistaram os assírios. O reino do sul, Judá, caiu nas mãos dos babilônios, sob Nabucodonozor, em 605 a.C., e alguns da família real e líderes abastados foram levados cativos para a Babilônia. Entre estes, estavam Daniel e os três jovens de Daniel 1. Uma curta rebelião em 597 a.C. foi suprimida, servindo de pretexto para outra deportação (incluindo Ezequiel). Uma revolta ainda posterior, conduzida por Zedequias, foi suprimida em 587 a.C., com a destruição completa do Templo e deportação de todos, exceto algumas poucas pessoas pobres, para evitar que o país se tornasse um deserto.

O "cativeiro babilônico" não foi tanto um cativeiro como um exílio. O propósito das deportações não foi tanto destruir as linhagens nacionais (como foi a política assíria), mas punir aqueles que se opunham ao governo. Permitiu-se aos cativos uma parcela de liberdade, e eles podiam eleger seus próprios líderes em suas comunidades. Muitos desses exilados se tornaram líderes no governo babilônico (Dan. 1:20; 2:48,49; 3:30; etc.), e bem poderosos. Esses exilados estavam começando a encontrar seu ponto forte real nos campos da indústria e do comércio. A tendência que se iniciou na Babilônia tornou-se mais desenvolvida nas gerações posteriores, até que, durante os tempos do Novo Testamento, as comunidades judaicas eram primariamente urbanas e comerciais, em vez do meio agrícola e pastoral do Velho Testamento.

Durante esse período o nome judeus entrou em uso. Ele denotava o povo da nação conquistada de Judá. Os outros termos usados no Velho Testamento para referência aos descendentes de Abraão e Isaque tornaram-se menos usados, e o termo judeus entrou em uso quase que exclusivamente.

Estando tão longe de Jerusalém, e sem ter o Templo de Salomão e o Tabernáculo para cultuar, o povo exigiu dos sacerdotes um modo temporário de retenção do conhecimento de Jeová. Assim, surgiram os grupos de adoradores que se reuniam regularmente para ouvir a lei lida, uma palavra de exortação ou explicação, o cântico de salmos e a recitação das orações. Esses grupos formaram os primórdios da instituição que deveria posteriormente ser conhecida com o nome grego de "sinagoga" ("reunidos juntos"). A intenção, a princípio, era que a sinagoga fosse apenas uma coisa temporária, até que a volta a Jerusalém pudesse ser feita e o Templo, reconstruído. Contudo, a importância da sinagoga como força coesiva na unificação dos judeus numa comunidade foi gradualmente reconhecida e aceita universalmente pelos líderes religiosos. Ela não somente era o meio para ensino da lei e dos profetas, mas também um meio para ajudar os judeus a reterem sua identidade nacional.

Foi durante essa época e através desses grupos que Ezequiel realizou seu maravilhoso ministério. De seu trabalho e profecias, os cativos foram ensinados que a calamidade veio sobre eles por causa da idolatria. Nas sinagogas, isso foi ensinado à tamanha extensão que a idolatria foi abandonada e não mais era um grande problema para os judeus.

Na sinagoga surgiu a importante função de mestre. Homens com percepções excepcionais na lei foram recrutados para liderarem nessa importante posição. O mestre podia, ou não, ter sido da linhagem sacerdotal. O ensino regular da Torah levou a uma ênfase renovada sobre o sábado, a circuncisão e o jejum. Algumas influências sutis das religiões da Babilônia e da Pérsia foram introduzidas nas instruções religiosas dadas pela sinagoga. Estas podem ser vistas nas doutrinas em desenvolvimento acerca da vida depois da morte, angelologia e demonologia.

Ciro, tendo unido as nações da Média, Lídia e Pérsia, capturou a Babilônia em 538 a.C. e confirmou muitos dos judeus em suas posições ,de autoridade governamental (ver Dan. 6:1 e ss.). A política oficial dos persas era permitir o povo deslocado voltar para as terras de seus pais. Por causa dessa política, a restauração de Judá foi possível. Contudo, a maioria dos judeus estava feliz na Babilônia e não desejava voltar. Cerca de 50.000 retornaram, sob a liderança de três homens, em três épocas diferentes. Os que ficaram os apoiaram com doações.

Zorobabel um príncipe da linhagem real de Davi, conduziu a primeira volta em 535 a.C. Após alguma consolidação do poder, foi iniciada a reconstrução do Templo. Sob a pregação de Ageu e Zacarias, o Templo de Zorobabel foi terminado e dedicado em 516 a.C. Inferior em esplendor ao de Salomão, esse Templo existiu até que Herodes, o Grande, iniciou a obra de um maior, em 19 a.C.

Os adversários da reconstrução do Templo eram uma combinação daqueles que foram deixados após as deportações sob os assírios e babilônios — os povos trazidos para povoar o país — e os inimigos anteriores dos dois reinos de Israel e Judá, que, em sua ausência, tiveram oportunidade de estender seus limites de influência. Os descendentes do casamento misto desses grupos foram denominados "samaritanos". Era lógico que esse povo ia opor-se à volta e restauração dos judeus (ver Esd. 4:1 e ss.).

Uma segunda volta ocorreu sob Esdras, em 485 a.C. Uma terceira foi liderada por Neemias, em 445 a.C. Começando com Esdras e continuando através do trabalho de Neemias e Malaquias, foram iniciadas reformas, que deveriam ter resultados de longo alcance. Uma vez que os persas não iriam tolerar a restauração da realeza davídica, o oficial mais alto, politicamente era o sumo sacerdote. Esse homem respondia, de uma maneira geral, ao governador persa. Esse ofício resultou eventualmente em "reis-sacerdotes". Igualmente, era necessário obter a aprovação do governador persa para eleger-se o sumo sacerdote.

No final do Velho Testamento, Eliasibe era o sumo sacerdote (445-430 a.C.). Seu sucessor, Jeoiada (430-405 a.C.), teve dois filhos, Jonatã e Josué. Próximo à morte dos pais, ambos os filhos disputaram abertamente pelo oficio. O governador persa, Bagoses, foi persuadido a aprovar Josué, embora Jonatã fosse o herdeiro legal, de acordo com a lei de Moisés. Como resultado, Josué foi morto por seu irmão entre os muros do templo. O governador persa indignou-se e se moveu contra Jerusalém. Contudo, ele ficou satisfeito pela arrecadação de um imposto contra os sacrifícios do Templo durante os sete anos seguintes.

Jonatâ, sumo sacerdote de 405-359 a.C, também teve dois filhos (Jadua e Manasses). Jadua foi o sucessor no sumo sacerdócio e distinguiu-se por guardar com zelo as reformas e instituições, conforme restauradas por Esdras e Neemias. Não podendo exercer o ofício ocupado por seu irmão, Manassés casou-se com a filha de Sambalate, o horonita. Esse tipo de casamento era fortemente condenado por todos os judeus fiéis. Removido do sacerdócio, Manassés viu seu sogro desejando construir um templo rival no monte Gerizim. Manassés seria o sumo sacerdote e todos os samaritanos iriam adorar lá. Muitos judeus renegados também adorariam ali. Dessa maneira o cisma entre os judeus e os samaritanos foi alargado.

Durante todo o período persa, os judeus foram excepcionais em sua lealdade ao rei persa. Isto pode ter ocorrido porque havia mais judeus na Babilônia do que na Palestina. Somente cerca de 50.000 judeus haviam voltado à sua terra natal durante esses duzentos anos. Muitos dos judeus tinham altas posições de autoridade e alguns desfrutavam de grande riqueza. Mesmo uma judia tornou-se a esposa do rei (Est. 2). Esses judeus que estavam na Babilônia exerceram uma influência muito grande sobre seus patrícios na Palestina, através de seus poderes políticos e suas contribuições financeiras.

O PERÍODO GREGO (331-167 a.C.)

Em 336 a.C., quando Jadua era o sumo sacerdote, Filipe II da Macedônia foi assassinado quando fazia planos para invadir a Pérsia. Seu filho, Alexandre, sucedeu-o com a idade de 20 anos. Ele uniu toda a Macedônia e a Grécia e, em 334 a.C., atravessou o Helesponto, para libertar as colônias gregas da Ásia Menor. Com apenas 35.000 homens, Alexandre derrotou três generais de Dario III, em Granico, em 334 a.C., após passar uma noite sem dormir e ter tido uma visão de um ancião, que o aconselhava a continuar sua luta contra os persas. No ano seguinte, 333 a.C., Alexandre outra vez derrotou um grande exército em Issus. Somente após esta vitória Alexandre se pôs a sonhar com a conquista do mundo.

Atravessando ele os montes Tauros, distrito após distrito caiu diante do exército grego. Josefo tem uma interessante história do encontro de Alexandre com Jadua. Alexandre disse que Jadua era o homem do sonho. Por esta razão, os judeus foram tratados com respeito e obtiveram muitas das mesmas vantagens dos gregos. Parece que Manassés também recebeu a aprovação de Alexandre na construção do templo no monte Gerizim. Foi a política de Alexandre fazer amigos dos conquistados sempre, quando e onde possível.

Depois de conquistar o Egito, Alexandre partiu para o leste, contra Dario. Em Guagámela (Arbela), em 4 de outubro de 331 a.C., Alexandre derrotou o exército inteiro dos persas e Dario III foi morto (provavelmente por um de seus próprios homens). Alexandre quis ir mais para o leste, mas seus generais e exército recusaram-se a cruzar o rio Indo. Estabelecendo-se na Babilônia, Alexandre organizou seu império em satrápias. Cada uma destas era uma colônia de gregos, geralmente constituídade seus soldados. Através deste tipo de colonização e inter-relação com os nativos, a cultura e a língua gregas começaram a espalhar-se através do Império.

Alexandre morreu em 323 a.C., com a idade de 32 anos. Sua maior consecução não é considerada ser seu gênio militar (por grande que fosse). Ele é lembrado principalmente por sua qualidade de estadista. Ele é responsável pela fusão do Ocidente com o Oriente. Derrubando a parede que estava entre o Oriente e o Ocidente, ele foi capaz de abrir as portas do comércio. Através da propagação do idioma grego, a língua franca, o mundo capacitou-se para a comunicação. A cultura grega quebrou as barreiras raciais, sociais e nacionais. A miscigenação das raças estimulou um espírito de cosmopolitanismo, um sincretismo religioso e um interesse no indivíduo. A duradoura contribuição de Alexandre para a civilização mundial dificilmente pode ser sobrestimada ou imaginada.

1. Os Ptolomeus e o Egito (321-198 a.C.) — Depois da morte de Alexandre, o Império caiu nas mãos de seis de seus generais. Laomedon tomou posse da Síria, Ptolomeu Lagus (Soter) recebeu o Egito, e a Babilônia caiu nas mãos de Seleuco. Os outros três tinham a ver com os judeus. Dentro de dois anos, Ptolomeu e Seleuco derrotaram Laomedon, e os dois generais dividiram o território da Síria. A Palestina ficou sob o controle de Ptolomeu.

Alexandria, planejada por Alexandre e seu arquiteto, tornou-se a capital e logo o centro liderante da cultura grega. Soter iniciou uma biblioteca que, na época de seu filho Ptolomeu Filadelfo (285-277 a.C.), tornou-se a maior do mundo antigo. Desejando ter uma cópia, em sua biblioteca, de cada livro conhecido (traduzido para o grego), Filadelfo solicitou o sumo sacerdote Eleazar para providenciar a tradução das Escrituras hebraicas. A tradução resultante, a Septuaginta (LXX), tornou-se as Escrituras para a comunidade judaica de fala grega.

Durante esse período, a Palestina estava experimentando uma helenização gradual e pacífica. Ela foi exposta à atração do modo de vida grega na língua, na arte, no comércio, na liberdade e na alegria de seus festivais e jogos. Houve uma dispersão voluntária pelo mundo grego afora. A política dos Ptolomeus era conceder aos judeus direitos civis iguais aos dos macedônios.

2. Os Selêucidas e a Síria (198-167 a.C.) — Durante todo o tempo da dominação ptolomaica na Palestina, os reis selêucidas da Síria estiveram olhando gananciosamente a área rica em ferro e outros metais. Os judeus da Palestina eram um "futebol" político entre os dois países poderosos. Devido a casamentos mistos e complicações políticas, Antíoco III (o Grande) marchou contra Ptolomeu Epifânio, em 198 a.C. Na Batalha de Panéias, o exército egípcio, sob a liderança de Escopas, foi derrotado. Os judeus parece terem recebido Antíoco de braços abertos.

Em 192 a.C., ocorreu um evento que iria ter implicações políticas de longo alcance. As duas grandes ligas gregas, sempre em guerra uma com a outra, convidaram os sírios e os romanos a tomarem partido. Este é o primeiro aparecimento dos romanos como potência mundial. Em 190 a.C., na Batalha de Magnésia (entre Sardes e Esmirna), os romanos, sob a liderança de Cornélio Cipião (Scipio Asiaticus), derrotaram Antíoco. Ele teve que pagar uma indenização tremenda, entregar sua marinha e elefantes de guerra, enviar um filho como refém para Roma, desistir de todos, exceto dez, de seus navios mercantes (e não construir mais),e não devia fazer guerra contra nenhum dos aliados de Roma. Ao tentar levantar fundos para a dívida, ele recorreu ao roubo dos templos de seu Império. Em uma de suas viagens, na parte oriental de seu território, os guardas e sacerdotes do templo o mataram (187 a.C.).

Seleuco IV herdou o trono e a grande dívida de seu pai. Ele seguiu uma política mal orientada em seu tratamento com os judeus. Como resultado, seu tesoureiro, Heliodoro, assassinou-o em 175 a.C. e tentou tomar o trono. Contudo, o irmão de Seleuco, que havia sido enviado a Roma como refém, retornou a Antioquia a tempo de se apoderar do trono.

Antíoco IV (Epifânio) passara doze anos em Roma como refém. Ele foi saturado com a cultura grega e o legalismo romano. Ao voltar, determinou unificar o Império, estabelecendo o politeísmo grego como religião estatal. Ele não iria tolerar nenhuma oposição aos seus planos. O único curso de ação, para ele, era forçar o povo, por todo o seu domínio, a aceitar a cultura grega. Através do sumo sacerdócio corrupto, em Jerusalém, os judeus mais influentes a princípio estavam bem simpáticos à helenização.

Sob o pretexto de resolver um problema de casamento (a irmã era casada com Ptolomeu), Antíoco invadiu o Egito em 169-8 a.C. Jerusalém soube que ele fora morto e a cidade ardeu de exultação. Houve também alguma disputa sobre duas facções, que tentavam conseguir o sumo sacerdócio. Antíoco soube dessa disputa e, pensando que a Palestina estava em revolta contra ele, voltou e, entrando em Jerusalém, matou 40.000 e roubou o santuário. Retornando ao Egito, para prosseguir sua conquista ali, ele encontrou Laenus, o embaixador romano. O Egito era um aliado de Roma.

Forçado a deixar o Egito em vergonha e ignomínia, Antíoco voltou para casa através da Palestina. Ele culpou os judeus por sua falha em tomar o Egito. Mais uma vez entrando em Jerusalém, ele sacrificou um porco no altar, um altar dedicado a Zeus foi colocado no Templo e as cópias da lei foram confiscadas e destruídas. A pena por se ter uma cópia da lei e praticar-se a circuncisão era a morte. Qualquer observância do sábado foi declarada ilegal. No mês de dezembro de 168 a.C.,o sacrifício do Templo cessou. A "abominação da desolação" referida em Daniel 9:27 ocorrera.

Até o próximo,

Pr. Luís Filipe.

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