O FUNDO HISTÓRICO DO NOVO TESTAMENTO (PARTE 5)
Postado por Luís Filipe de Azevedo
O GÊNERO APOCALÍPTICO
O aparecimento da literatura apocalíptica ocorreu quando a escatologia judaica (conteúdo da mensagem) uniu-se com o mito judaico (forma da mensagem) durante uma época de perseguição (propósito da mensagem). A partir de uma literatura casual do apocalíptico judaico, certas características podem ser determinadas. Ele sempre possuía significação histórica, de autoria pseudônima, uso liberal de visões, um forte elemento preditivo, altamente simbólico, dramático, e era uma defesa radical do povo para o qual era escrito.
Quanto à forma, era pseudônimo, simbólico, mitológico, tinha prerrogativas de inspiração, cósmico em seu escopo, alegórico, visionário. Quanto ao conteúdo,era determinista, escatológico, pessimista acerca da história, dualístico, transcendental, e continha um mínimo de ensinos éticos e morais. Quanto à função, respondia a perguntas de um povo perseguido. Trata da justiça de Deus e do sofrimento do homem; muito nacionalista em seu escopo; tentava explicar algumas das passagens obscuras da Escritura Sagrada.
Esta foi a literatura mais distintiva produzida pelo judaísmo. Ela reflete os ideais e esperança mais altos do judaísmo; intensamente messiânica e profundamente profética. O período foi adaptado para a produção do gênero apocalíptico por causa de intensa perseguição e sujeição aos poderes estrangeiros. Comumente olhada como "tratados para tempos difíceis", essa literatura tentou responder a perguntas sobre por que o povo de Deus sofre. Com ensino ético geralmente omitido, a relação especial de Israel com Deus é ressaltada. Deus vindicará Israel, porque assim terá que fazer. Completamente futurísticas em seu ponto-de-vista, as visões e profecias são gerais, ao invés de específicas. Para proteger tanto o autor como os leitores, a obra era geralmente escrita no nome de um dos homens famosos do Velho Testamento.
O Livro de Enoque — Comumente chamado Enoque Etiópico, para distingui-lo de Os Segredos de Enoque (ou Enoque Eslavônico). Este é o mais importante de todos os apocalipses. De toda a literatura deste período, somente esta é citada em o Novo Testamento (Judas 14,15). Há três versões: grega, latina e etiópica. Apenas a etiópica é completa. Contendo 108 capítulos, o livro foi escrito entre 200-64 a.C. Seu propósito foi encorajar os fiéis e predizer a queda dos inimigos de Israel. A maioria dos estudiosos concorda que este é o livro mais desafiador e gratificante fora do cânon. Há muita coisa nele que leva a uma compreensão da teologia do Novo Testamento, e muita coisa que o mantém fora do cânon. Contudo, a popularidade deste livro presta-se a um importante estudo, que não pode ser encontrado no Velho Testamento.
O Livro dos Segredos de Enoque — Também conhecido como II Enoque ou Enoque Eslavônico. Provavelmente escrito entre 30 a.C. e 50 d.C. por um judeu alexandrino, para familiarizar seus patrícios no Egito com as idéias apocalípticas do judaísmo padrão. O autor faz uso de Enoque Etiópico, Eclesiástico, Baruque e outras literaturas apócrifas, bem como do Velho Testamento canônico. Ele é importante, porque demonstra um tipo de helenização do apocalíptico judaico.
O Segundo Livro de Baruque — Reflete o ponto de vista religioso do judaísmo do primeiro século. Discussão farisaica da queda de Jerusalém em 70 d.C. A última tentativa de o judaísmo interpretar-se como um modo de vida dinâmico. É a resposta do judaísmo a Paulo.
IV Esdras — O autor diz que foi escrito este livro trinta anos após a destruição do Templo de Salomão. Mais provavelmente escrito em seguida à destruição do Templo de Herodes. Escrito para responder à pergunta acerca do sofrimento humano e dos problemas fundamentais na relação do homem com Deus. Seguindo-se ao Enoque Etiópico, este é o mais importante para os estudos do Novo Testamento.
Os Livros de Adão e Eva — Escrito durante o primeiro quartel do primeiro século da era cristã. Farisaico e nacionalista em seu panorama, prevê a vinda do Messias para breve, quando todo o Israel se arrependeria. Judas 9 é uma referência a este livro. Reflete o fariseu do "centro do caminho", o judeu ortodoxo.
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