12/02/2010

O FUNDO HISTÓRICO DO NOVO TESTAMENTO (PARTE 2)

Postado por Luís Filipe de Azevedo

O PERÍODO MACABEU OU HASMONEU (167-63 a.C.)


A princípio a resistência dos judeus foi somente passiva. A medida que a perseguição aumentava em intensidade e os fogos da adoração de Deus queimavam cada vez mais baixo, iniciou-se a resistência ativa. A liderança para a organização da resistência ativa começou com um sacerdote, na cidade de Modin, situada entre Jerusalém e Jope. Matatias era da linhagem de um certo Asamoneu ou Chasmon (Hasmon). É deste último nome que a família tirou seu nome, hasmoneu. Estando avançado em idade, Matatias teve cinco filhos: João, Simão, Judas, Eleazar e Jonatã. Judeus de toda a Palestina, insatisfeitos com as políticas de helenização de Antíoco Epifânio e o sacerdócio corrupto, vieram a responder à chamada às armas. Muito antes, os hasidim ou assideus (zelotes da lei) uniram-se a Matatias. Após um ano e a morte do pai, a liderança do exército passou a Judas, Simão servindo como conselheiro principal. Judas provou ser um general capaz e levou o nome de Macabeu ("Martelador"). Depois de uma série de brilhantes vitórias, ele entrou em Jerusalém e rededicou o Templo, em 25 de dezembro de 165 a.C.

Não contente com simplesmente uma forma de liberdade religiosa em Jerusalém, Judas quis conseguir a liberdade política igualmente. Seus seguidores devotos (os hasidim), contudo, se opuseram a este plano ambicioso e o abandonaram. Com apenas 600 em seu exército, Judas foi morto na Batalha de Elasa, em 161 a.C. Muitos judeus sentiram-se ofendidos quando Judas apelara a Roma por ajuda (I Mac. 8:17-32).

Jonatã, irmão de Judas, tornou-se o líder da revolta, e, numa série de brilhantes manobras políticas, foi designado sumo sacerdote, e os judeus receberam liberdade religiosa. Mediante a morte de Jonatã, Simão, o filho mais velho de Matatias, assumiu a liderança e o sumo sacerdócio. Em 142 a.C., a astuta política diplomática de Simão foi recompensada com independência política completa.

De 142 a.C. a 63 a.C., a nação judaica esteve mais uma vez independente. Os príncipes que se seguiram a João Hircano I (filho de Simão) não tinham o espírito de patriotismo corajoso e auto-sacrificial que havia marcado os antigos macabeus, e eles se degeneraram em procuradores de posição e intriga política dentro da família. Irmão contra irmão, filho contra mãe, até no final de uma disputa, foi apelado à força romana e, com a intervenção dos romanos, a nação judaica tornou-se uma província romana.


O PERÍODO ROMANO (63 a.C. — 135 d.C.)

1. Sob Herodes, o Grande (63-4 a.C.) — Com a morte da rainha Alexandra Salomé, em 69 a.C., tanto o poder político como o religioso passaram para as mãos de um filho muito brando, João Hircano II. Seu irmão, Aristóbulo II, era muito ambicioso. Hircano foi persuadido a desistir do trono, mas reteve o ofício de sumo sacerdote. Aristóbulo logo cobiçou essa posição também. Antípater, um idumeu e conselheiro de Hircano, viu uma oportunidade de jogar um irmão contra o outro. Tomando o partido do irmão mais fraco, ele persuadiu Hircano que sua vida estava em perigo, e, assim, foi feito apelo a Pompeu, general romano. Em 63 a.C., Pompeu entrou em Jerusalém e decidiu em favor de Hircano. Contudo, a Judéia ficou sob o controle romano, e Antípater foi designado procurador, e Hircano, como sumo sacerdote. Antípater designou seu filho Fasael, governador da Judéia, e seu filho Herodes, governador da Galiléia.

Após a morte de Antípater e Fasael, Herodes recebeu de Antônio e Otávio, em 40 a.C., o título de "Rei dos Judeus". A nação da Judéia, contudo, ainda era uma parte da província romana da Síria. Hircano II permaneceu como sumo sacerdote por um certo tempo, mas finalmente foi despedido (depois que Herodes casou-se com sua neta Mariamne), e este ofício tornou-se outra vez sujeito ao maior arrematador.

Herodes, o Grande, foi um intermediário eficaz entre os romanos e os judeus. Embora os judeus o odiassem, por ser um estranho e estar sob os romanos, Herodes persuadiu estes a concederem vários privilégios àqueles. Ele manteve a nação em paz com Roma. Tentando ganhar o apoio dos judeus, Herodes entrou num ambicioso programa de construção, eliminou os bandos errantes de salteadores, e, em geral, trouxe prosperidade à Judéia. Ele era, contudo, um homem muito ciumento e cheio de suspeitas. Um de seus maiores empreendimentos foi a reconstrução do Templo, iniciada em 19 a.C., e ainda estava em progresso 46 anos mais tarde (João 2:20).

A vida familiar de Herodes foi muito infeliz e cheia de intrigas entre suas dez esposas, seus filhos e seus próprios irmãos e irmãs. Quando ele morreu, havia feito e mudado sua vontade várias vezes. Alguns de seus filhos ele matou, bem como a sua amada Mariamne. Foi durante seu reinado e por causa de preocupação ciumenta por sua posição que ele ordenou a matança das crianças ao redor de Belém, após o nascimento de Jesus.

2. Sob os Procuradores (4 a.C. 70 d.C.) — Como seus herdeiros não puderam controlar a Judéia, esta passou para o governo romano direto, através dos odiados procuradores. De 6 a 66 d.C., não menos que 14 homens foram enviados à Judéia para governar os negócios. Geralmente esses homens eram aqueles com quem o imperador romano tinha uma dívida. Era uma posição lucrativa, e esses homens estavam mais interessados em se tornarem ricos do que em serem bons governadores. De tempos em tempos os judeus expressavam sua insatisfação e os choques inevitáveis surgiam. Esses grupos reacionários aumentaram em número a tal ponto, e os procuradores se tornaram tão implacáveis em suas políticas.que a revolta aberta irrompeu-se em 66 d.C. Este foi o começo da Guerra Judaico-Romana de 66-70 d.C. Jerusalém foi tomada pelos romanos, sob a liderança de Tito, o Templo destruído, e o sacrifício ordenado por Moisés foi cessado até o dia presente. A nação judaica cessou de ser uma nação, e o judaísmo sofreu um golpe tremendo.


DESENVOLVIMENTOS RELIGIOSOS

O Novo Testamento demonstra uma marcante diferença na atmosfera religiosa, em comparação com a do Velho Testamento. Isto é visto nas várias instituições, grupos e pela ênfase na tradição oral.

INSTITUIÇÕES

1 A Sinagoga — Embora a tradição judaica afirme que a sinagoga teve origem mosaica, ela parece ter começado a existir durante o período babilônico ou persa. Até o tempo do exílio, a adoração e a instrução religiosa judaicas centralizam-se em torno do Tabernáculo ou do Templo de Salomão. Na Babilônia, a instrução religiosa foi prosseguida pelos sacerdotes e levitas, numa tentativa de conservar o conhecimento de Jeová vivo. Esses locais de adoração e instrução tornaram-se conhecidos como "sinagogas"; a palavra é grega e significa "reunidos juntos". O propósito nunca incluía a idéia de se oferecer sacrifícios, o que poderia ser feito somente no Tabernáculo ou no Templo. Alguns estudiosos acham que os fariseus usavam a sinagoga como um meio de obter a lealdade dos saduceus e adorarem no Templo.

A administração da sinagoga cabia a um grupo de anciãos (Zeqenim), um dos quais foi eleito seu presidente (Sheliach). Era necessário ter-se pelo menos dez homens numa comunidade antes que uma sinagoga pudesse ser organizada. A função do presidente era manter a ordem durante as reuniões e escolher o orador para o culto do sábado. Um auxiliar (Chazzam) era designado para estar a cargo da construção e do manuseio das Escrituras. Parece que gradualmente a ele foi transferida a responsabilidade do ensino.

A adoração na sinagoga foi desenvolvida de acordo com o modelo do culto do Templo e nas mesmas horas, no sábado: a terceira, a sexta e a nona. Posteriormente os cultos eram realizados na segunda e terça, bem como no sábado. As pessoas entravam, curvando-se para a parede do lado ocidental, onde as Escrituras estavam contidas num gabinete chamado a "arca". Fazia-se uma oração e depois eram cantados salmos. O auxiliar abria a "arca" e reverentemente removia as Escrituras, entregando-as ao presidente. Em seguida à leitura das Escrituras, durante a qual todos ficavam de pé, o presidente sentava-se e iniciava uma exortação, à luz da passagem lida. Freqüentemente, ele pedia, a algum visitante ilustre, para fazer essa "pregação". Depois as Escrituras eram recolocadas na "arca", em seguida sendo proferidos salmos e orações, e depois uma bênção era pronunciada.

Por toda a diáspora judaica, sempre que havia homens suficientes, eram instituídas sinagogas. Muitas cidades tinham várias sinagogas, para dar conta do vasto número de judeus naquelas áreas. Estima-se que Jerusalém, durante a época do Novo Testamento, tinha cerca de 500. Por esta razão, os missionários cristãos puderam ter acesso à maior parte do Império Romano. Eles, especialmente Paulo, iniciavam seu trabalho, sempre que possível, dentro da comunidade judaica e da sinagoga.

2. O Templo — Com o retorno do primeiro grupo de exilados, foi iniciado o trabalho da construção do Templo. Na realidade, este foi o propósito primordial para alguns que retornaram. Os que permaneceram na Babilônia deram apoio financeiro para o retorno, a fim de que o Templo fosse construído. Sob a pregação de Ageu e Zacarias, o Templo (conhecido como o Templo de Zorobabel) foi terminado e dedicado em 516 a.C. Com alguns poucos acréscimos, para aumentar as áreas de reunião, o Templo de Zorobabel durou até a época de Herodes, o Grande. Tentando obter o favor dos judeus, Herodes iniciou a construção de um templo que iria exceder em beleza o de Salomão. Com a construção iniciada em 19 a.C., o pórtico, o lugar santo e o santo dos santos foram terminados em um ano e meio (ver Josefo, Antigüidades dos Judeus — xv. 11.6), mas a estrutura inteira não foi terminada até 65 d.C., cinco anos antes de sua destruição pelas legiões romanas, na Guerra Judaico-Romana de 66-70. Foi nesse Templo inacabado que, segundo João, Jesus fez tantos milagres e deu ao mundo tantos ditos maravilhosos.

3. O Sinédrio — Quando Esdras e Neemias trabalhavam em Jerusalém, eles fizeram o povo fazer pacto de que iria viver por um código externo de regras baseadas, diziam eles, na lei de Moisés. Quando Esdras e Neemias morreram, esta responsabilidade de instrução passou a um grupo de pessoas denominadas sopherim ou a "Grande Sinagoga". Este grupo durou cerca de 400 a 200 a.C. Este grupo foi o precursor do sinédrio. Seus sucessores, como mestres da lei, foram os zugotes (200 a.C. — 10 d.C.), que, por sua vez, foram sucedidos pelos tanains (10 a 200 d.C.) e pelos amorains (220-500 d.C.).

Foi para o final da época da "Grande Sinagoga" que o termo sinédrion ( sune/drion ) entrou em uso. Ele executava a função da suprema corte dos judeus, sendo o sumo sacerdote o presidente. A tradição remonta suas origens ao conselho mencionado em Números 16:16. É verdade que, na história de Israel, os anciãos funcionaram como os corpos judiciários, legislativo e executivo da nação. Houve períodos de grande influência e poder, bem como períodos de quase completa sujeição ao poder dominante. Sob Herodes, o Grande, o sinédrio esteve sem força; mas, no tempo de Jesus, o sinédrio exerceu grande autoridade, excetuando-se-lhe apenas aquelas questões que envolveriam a política e jurisdição romanas. Ele poderia passar a sentença de morte, mas somente com a aprovação do governador romano a sentença poderia ser executada.

O conselho tinha setenta e um membros (pelo menos), encabeçados pelo sumo sacerdote. A maior parte dos membros era da linha sacerdotal e, portanto, do partido saduceu. Foi arranjado lugar, contudo, para fariseus abastados e bem conhecidos, especialmente os grandes rabis. A partir da tradição rabínica, parece que este corpo tinha o poder de legislar regras de conduta para todos os judeus, em todo lugar. Por causa de seu prestígio, suas decisões eram honradas por toda a dispersão judaica.

Até a próxima parte,

Pr. Luís Filipe.

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