12/08/2010

O FUNDO HISTÓRICO DO NOVO TESTAMENTO (PARTE 4)

Postado por Luís Filipe de Azevedo

LITERATURA

Muitos tipos de literatura foram escritos pelos judeus durante a época do período interbíblico: história, ficção, sabedoria, gêneros devocional e apocalíptico. A maior parte desses escritos perdeu-se, e o que sobreviveu se fez através de judeus cristãos, pois os judeus procuraram destruir todos os "livros de fora". Foi costumeiro agrupar-se esses escritos em duas classificações, conhecidas como Apócrifos (aqueles juntados com o Velho Testamento, em vários manuscritos da Septuaginta) e os Pseudo-epígrafos (aqueles escritos durante o período, mas não juntados à LXX).

O cânon encerrado do Velho Testamento foi formado por estágios, e não se completou até após a Guerra Judaico-Romana (66-70 d.C), quando se tornou evidente que o cristianismo e o judaísmo haviam-se definidamente separado, com nenhuma esperança de reconciliação. Os judeus farisaicos mudaram-se para Jâmnia e voltaram ao estudo da Torah com o novo propósito de reedificar o judaísmo. Eles não tolerariam nenhum outro escrito como tendo até mesmo igualdade aproximada com o Livro Sagrado. Só reconheciam os livros escritos em hebraico e aramaico antes do final do período persa. Eles então destruíram todos os originais semíticos, de toda a literatura extra-canônica. Os livros que sobreviveram foram preservados pelos cristãos. Os cristãos, contudo, desde o princípio reconheceram os "livros de fora" como não sendo parte das Sagradas Escrituras. O Concilio de Trento (1546), ao colocar a tradição em igual autoridade com o cânon aceito do Novo Testamento, declarou onze desses "livros de fora" como sendo genuínos.

Alguns desses livros têm grande valor histórico; outros são clássicos devocionais; uns são interessantes; outros, definidamente, são invenções. Tanta coisa, nessa literatura, é abertamente supersticiosa e fora de harmonia com o restante das Escrituras, que não pode ser admitida como sendo inspirada. Pode ser lida proveitosamente, mas não deve ser usada como autoridade em doutrina. A classificação a seguir é para dar uma pequena introdução a esse corpo de literatura.


HISTÓRICA

Esta matéria é, historicamente, a mais confiável do período. Há, contudo, tantos erros gritantes, que foi rejeitada como literatura inspirada.

I Esdras — Às vezes chamado III Esdras, porque na LXX os livros canônicos de Esdras e Neemias são chamados Esdras A e B. A Vulgata chama o Esdras canônico, I Esdras, Neemias, II Esdras e este livro, III Esdras. Há ainda outro livro chamado IV Esdras. Esta obra segue a narrativa bíblica de II Crônicas 35 até Esdras e Neemias. A seção 3:1-5:6 supostamente é uma renarração da construção do templo. As narrativas históricas dos reis persas estão invertidas. Devido à semelhança com outros escritos, a data mais lógica da escrita é de 200 a 150 a.C.

I e H Macabeus — Esta última obra refere-se aos sofrimentos dos judeus sob Antíoco (176-171 a.C.). A outra (I Macabeus) é mais extensa e é uma história dos judeus desde Antíoco até a morte de Simão (175-135 a.C.). I Macabeus é a fonte primária para a história desse período. II Macabeus preocupa-se mais com a religião judaica do que com a história. Ambos foram escritos no final do segundo ou no início do primeiro século antes de Cristo.


FICÇÃO

Estas obras são o que seria denominado hoje ficção histórica. Esta ficção, colocada numa estrutura histórica, era usada para propósitos didáticos. Era propaganda judaica para impressionar lições éticas, religiosas e patrióticas.

Tobias — Escrito este livro no final do terceiro ou início do segundo século antes de Cristo, supõe-se que os eventos ocorreram durante o oitavo século. Representa um alto tipo de piedade e ética judaicas. Ê colocada ênfase na obediência filial, sepultamento dos mortos, anjos, demônios e axiomas morais e éticos. A proeminência do ensino contra casamento misto é também observada. O autor não parece ser um judeu da Palestina. Ele descreve as variadas aventuras dos judeus no exílio como sendo um deles.

Judite — Esta obra retrata o patriotismo e devoção judaicos próprios. Provavelmente foi escrita por volta do início do segundo século antes de Cristo. O cenário é da época dos assírios, com Nabucodonozor sendo seu rei!

Epístola de Jeremias (Jeremias) — Teve como finalidade expor a insensatez da idolatria durante a época da helenização dos judeus, tendo sido escrita por volta da mesma época de Tobias (225-175 a.C.).

III Macabeus — Enfatiza a providência de Deus durante os tempos da perseguição sob os Ptolomeus do Egito. Relata como Ptolomeu foi miraculosamente repelido em seu esforço de entrar no Templo. Foi escrito por um judeu de Alexandria durante o primeiro século antes de Cristo.

Carta de Aristeas — Supostamente escrita por um gentio que ajudou a iniciar a tradução das Escrituras hebraicas para o grego. Ele elogia tudo o que é judaico. Foi escrita por volta da mesma época de III Macabeus, refletindo a filosofia judaico-alexandrina.


GNÔMICA (SABEDORIA)

Mesmo uma leitura casual do Velho Testamento indicará que os autores se preocupam com o prático e o concreto. A literatura grega é mais teológica e está preocupada com idéias. Para o judeu, a sabedoria precisa realizar-se na conduta diária. Sua origem se encontra na sabedoria de Deus e não é, portanto, o resultado da especulação. A literatura de sabedoria deste período expressa uma crescente amalgamação do fundo histórico judaico e grego, à medida que os judeus estavam gradualmente assimilando a helenização dos tempos.

Eclesiástico ou A Sabedoria de Jesus, o Filho de Siraque — Um manual de conduta para promover um viver superior. No prólogo é apresentada informação que possibilita datar-se o livro bem precisamente entre 190-170 a.C. Aproxima-se do livro canônico de Provérbios, quanto ao seu conteúdo.

Testamento dos Doze Patriarcas — Hagadaico em seu caráter, foi escrito durante a época de João Hircano I, quando ele estava tendo problema com os fariseus. Há doze seções, uma devotada a cada um dos patriarcas. O interesse principal é ético e semelhante ao Novo Testamento, em seu tom.

Sabedoria de Salomão — Refletindo a filosofia alexandrina, este livro foi escrito entre 100 e 50 a.C. Os primeiros capítulos são os mais interessantes, em toda a literatura do período. Um escrito de grande percepção espiritual, envolvido no conflito entre a realidade cotidiana e o judaísmo. O propósito do livro parece ser igualmente didático e evangelístico.

Salmos de Salomão — Uma coletânea de dezoito salmos, refletindo o judaísmo farisaico do primeiro século antes de Cristo. O mais importante é o décimo sétimo, para o estudo do Novo Testamento, pois é messiânico. O propósito foi verificar a crescente helenização e corrigir o judaísmo literal.

Livro dos Jubileus — Um documento do segundo século a.C., da autoria de um fariseu, para exaltar a lei. A forma é midrássica (comentário corrido) do Velho Testamento.

Oráculos Sibilinos — Reminiscências fragmentárias de ditos supostamente divinos, através de médiuns chamados sibilos. Reunidos para propaganda judaica de 300 a.C. a 150 d.C. Os elementos judaicos são encontrados no Livro III e consistem de um resumo da história judaica, destino dos ímpios, tempo do fim e o mundo por vir.

IV Macabeus — Construindo sobre o material contido em II Macabeus, o autor apresenta uma diatribe contra o imperador romano Calígula, quando ele conduziu uma perseguição dos judeus em Alexandria. Mostrando uma forte influência grega, o escritor mostra o poder da razão inspirada (recebida através de um estudo da lei) sobre a paixão. Quase estóico em seu conteúdo.

Oração de Manassés — Reflete a verdadeira piedade dos fariseus por volta da época de Jonatã (150 a.C.). Ênfase sobre valores morais e espirituais reais, e não sobre deveres artificiais ou legalísticos.

Assunção de Moisés — Estilo de I Baruque, mas um pouco anterior, 20-25 d.C.

Livro de Baruque — Às vezes denominado I Baruque, para distingui-lo do Apocalipse de Baruque (ou II Baruque). Supostamente escrito pelo secretário de Jeremias como uma profecia, lamenta a queda de Jerusalém após a Guerra Judaico-Romana de 66-70. O livro trata das razões da queda de Jerusalém e da esperança por sua restauração.

Adições ao Livro de Daniel — Estas adições ao Daniel canônico são encontradas na Septuaginta e no Velho Testamento Aramaico. Escritas por volta de 100 a.C., refletem as perseguições dos fariseus desde o tempo de Antíoco Epifânio. "A Oração de Azarias e O Cântico das Três Crianças Hebréias" ensinam que Jeová é o campeão particular de Israel contra seus inimigos. "Suzana" ilustra a necessidade e o valor do interrogatório contraditório e do castigo das falsas testemunhas. "Bel e o Dragão" mostra a unidade e independência de Jeová, o absurdo da idolatria e a supremacia do monoteísmo.

Adições ao Livro de Ester — Um produto do farisaísmo judaico da época das adições ao livro de Daniel. Numa tentativa de tornar o livro canônico mais religioso, o nome de Deus é introduzido no texto, dando-se detalhes mais precisos no lugar de declarações resumidas.

4 comentários :

Ademir disse...

a paz
li os quatro artigos muito bons Deus te abençoe

Graça e Paz irmão Ademir,

Obrigado por visitar meu humilde blog e tecer aqui seu precioso comentário. Suas palavras me incentivam a postar mais e mais assuntos como estes que trazem informação e instrução biblico-teológica ao povo de Deus.

Deus te abençoe também amado,

Pr. Luís Filipe

Paz,,, Pr sei que tenho passado pouco por aqui porem cada vez que assim faço fico muito feliz pois fico um pouco mais rico,,, Deus continue te abençoando e vc seja sempre este canal de bençãos, um Feliz natal!!! E um 2011 abençoado....

Graça e Paz meu amado irmão Almir!

Gostaria de dizer que, para mim, é uma honra tê-lo por aqui. Sei muito bem que és um homem ocupado... mas fico grato mesmo pela visita. Um abraço pra você e outro pra família. Meus sinceros votos a todos vocês é que tenham um 2011 repleto de bençãos. Estarei sempre por aqui, quando precisar de mim, estamos às ordens. Ok?

A Paz amado,

Pr. Luís Filipe.