10/19/2010

A ENCARNAÇÃO DO VERBO (4)

Postado por Luís Filipe de Azevedo

Continuação...

Meus queridos, em oração, leiam o seguinte texto que testemunha da humanidade de Jesus:

"E o verbo se fez carne e habitou entre nós" (Jo 1:14)

Continuando nossa série de estudos A Encarnação do Verbo, gostaria de dizer que costumamos por em pauta com freqüência a temática da divindade de Cristo e não discutir tanto o tópico sobre a humanidade de Jesus. Entretanto, este estudo é tão importante quanto aquele. Que Jesus é Deus, todos os cristãos genuínos e sinceros concordam e entendem, contudo a idéia da sua humanidade, ainda que aceita, não é corretamente entendida, e poucas vezes ensinada.

A fé cristã bíblica, confirmada pela tradição patrística, medieval e reformada, formula a natureza de Jesus como sendo plenamente divina e, ao mesmo tempo, plenamente humana. Ou seja, Deus o Filho enquanto verbo encarnado assumiu completamente a humanidade, tornando-se passível das mesmas limitações físicas e psicológicas comuns a todos os homens. E, torna-se tão fundamental concordarmos com isso, pois, uma vez que estávamos separados de Deus pelo pecado, foi necessário que o próprio Deus encarnasse para que pudéssemos voltar a ter novamente comunhão com consigo. Dessa forma, a genuinidade da divindade de Cristo garante a eficácia de sua obra realizada na cruz, e a realidade de sua humanidade garante que sua morte é aplicável a seres humanos.

Vejamos o que a Bíblia tem a nos ensinar sobre o aspecto humano da natureza de Cristo.

1. O Testemunho das Escrituras Sobre a Humanidade de Jesus

Há indicações claras na Bíblia que Jesus era uma pessoa plenamente humana, sujeito a todas as limitações comuns à raça humana, embora sem pecado. Como tal nasceu como todo ser humano nasce. Mesmo que sua concepção tenha sido diferente, sem a participação de um ser humano masculina, todos os outros estágios de crescimento foram idênticos ao de qualquer ser humano normal, tanto física como intelectual e emocional. Também no sentido psicológico, era genuinamente humano, pois pensava, raciocinava, se emocionava, como todo ser humano normal. Uma das respostas que costumo dar aos meus alunos quando me perguntam sobre a infância e adolescência de Jesus é esta: “Ele deve ter tido uma vida tão normal nesta época, que acharam melhor nem registrá-la”. Claro que reflete minha total ignorância sobre o assunto por ser uma resposta baseada no silêncio escriturístico, mas corrobora com o testemunho das Escrituras sobre a humanidade de Jesus, que na minha concepção bíblica foi genuinamente homem. E por algumas razões:

1.1. Possuía Natureza Física.

a) Comprovada por Seu nascimento (Lc 2: 6,7): Jesus não desceu dos céus, e sim nasceu de uma mulher humana, passando por todas as fases que uma criança normal passaria. Ele nasceu assim como nascem todos os bebês humanos.

b) Comprovada por Sua árvore genealógica (Lc 3: 23-38; Mt 1:1-17): a Bíblia deixa evidente portanto que Jesus teve, por parte de Maria, ancestrais humanos, dos quais provavelmente herdou características genéticas, como todos os homens o recebem de seus antepassados.

c) Comprovada por Seu crescimento (Lc 2:52): cresceu como toda criança normal cresceria, alimentada por comida e água. Seu corpo não era sobre-humano, e não tinha características especiais, diferentes de qualquer ser humano normal. Ele passou da infância para a maturidade assim como crescem todas as outras crianças: “Crescia o menino e se fortalecia, enchendo-se de sabedoria; e a graça de Deus estava sobre ele” (Lc 2.40).

d) Comprovada por Suas limitações físicas: em tudo idênticas aos de um ser humano.

Sentia fome (Mt 4:2; Mc 11:12).

Sentia sede (Jo 19:28)

Ficava cansado (Jo 4:6)

Sofria a dor (Jo 18:22; 19: 2,3)

e) Comprovada por Sua percepção pelos homens (I Jo 1:1; Mt 9: 20-22; 26:12; Jo 20: 25,27): Jesus de fato foi visto e tocado pelos homens a sua volta. Não era um espírito com a forma humana, nem um fantasma, mas um homem real, a ponto de Tomé só acreditar em sua ressurreição após tocá-lo. Mesmo o testemunho do Espírito de Deus afirma que Jesus tomou plenamente a forma humana (I Jo 4: 2,3a).

f) Comprovada por Sua morte (Lc 23: 46; Jo 19: 33,34): Jesus Podia morrer, como de fato morreu. Sua morte não foi aparente, mas verdadeira. Seu corpo sucumbiu aos sofrimentos infligidos e de fato expirou à semelhança de todos os homens. Esta é talvez a suprema identificação de Jesus com a humanidade, pois sendo Deus não deveria morrer, mas ao assumir plenamente a humanidade, torna-se sujeito a possibilidade da morte. Eis uma verdade tremenda e profunda.

1.2. Possuía Natureza Psicológica e Intelectual

a) Comprovada pelo Seu Caráter Emotivo:

Ele sentia emoções (Mt 9:36; 14:14; 15:32; 20:34): ainda que sentir emoções não seja uma prova da humanidade de Jesus, uma vez que Deus também se emociona, elas demonstram a plena humanidade de Cristo, como também deixam claro algumas reações tipicamente humanas.

Ele sentia tristeza e angústia (Mt 26:37)

Ele sentia alegria (Jo 15:11; 17:13; Hb12:2)

Ele sentia indignação (Mc 3:5; 10:14)

Ele sentia ira (Mt 21: 12,13)

Ele se surpreende (Lc 7:9; Mc 6:6): Jesus se mostra genuinamente surpreso perante a fé do centurião e se admira da incredulidade dos habitantes de Nazaré. Não era uma atitude falsa ou de retórica, Jesus realmente era surpreendido em algumas circunstâncias.

Ele se sente atormentado (Mc 14:33): no Getsêmani Jesus foi tomado de grande angústia e pavor. Estava em conflito íntimo e se atormenta pelo fato de não querer ser deixado só, contudo ainda assim escolhe fazer a vontade do Pai. Mesmo na cruz, sua frase "Deus meu, Deus meu, por que me desamparaste?" (Mc 15:34), é uma das expressões mais humanas de solidão já registradas na história dos homens.

Ele se comove e chora (Jo 11:33,35,38): Mesmo sabendo de antemão que Lázaro havia morrido, Jesus é tomado de comoção e chora ao ver a tristeza ao seu redor e a triste realidade humana da morte. A expressão "agitou-se no espírito", retrata vividamente alguém gemendo no íntimo, aflito e comovido com uma situação que trás dor e cansaço.

b) Comprovada pelo Seu Caráter Intelectual:

Seu conhecimento era superior ao dos homens: em termos intelectuais, Jesus possuía um conhecimento que se destacava em relação aos outros homens. Ninguém na História Humana disse palavras tão belas, de grande profundidade e de maior alcance. Não só isso, Jesus deu claras demonstrações de um conhecimento além da capacidade humana. Sabia o que pensava os seus amigos e inimigos(Lc 6:8; 9:47). Conhecia coisas sobre o presente, pois sabia que Lázaro estava morto (11:14), o passado, uma vez que conhecia o fato da mulher samaritana ter tido cinco maridos (Jo 4:18) e o futuro das pessoas, ilustrado no fato de antemão ter avisado a Simão Pedro de sua negação (Lc 22:33).

Seu conhecimento não era ilimitado: em algumas passagens vemos Jesus fazendo perguntas retóricas afim de reforçar algum ensinamento (Mt 22: 41-45), contudo há outras passagens em que Jesus pergunta sinceramente em busca de informações às quais não possuía. Um exemplo claro foi o caso do garoto acometido de um espírito de surdez e mudez, onde Jesus pergunta ao pai dele "Há quanto tempo isto lhe sucede?" (Mt 9: 20,21). Há nesta passagem uma clara alusão que Jesus não tinha tal informação, e a julgava útil e necessária para promover a restauração daquele garoto. Um outro caso ainda mais explícito foi no discurso apocalíptico em Mc 13:32, quando ao ser interpelado sobre quando voltaria uma segunda vez, Jesus respondeu francamente: "Mas a respeito daquele dia ou da hora ninguém sabe; nem os anjos no céu, nem o Filho, senão o Pai". Foi uma declaração clara de sua falta de conhecimento sobre essa informação.

c) Comprovada pelo Seu Caráter Religioso:

Participava regularmente dos cultos na sinagoga (Lc 4:16): era de seu costume ensinar nas sinagogas e visitar e participar dos cultos no templo quando estava em Jerusalém. Humanamente mantinha um padrão de vida religioso irrepreensível quanto aos parâmetros de Deus.

Mantinha uma vida de oração (Lc 6:12; 22: 41,42; Jo 6:15): várias ocasiões vemos Jesus sair para orar sozinho ou em grupo. Sua dependência humana do Pai era total e a oração era uma prova disso. Em todas as coisas Jesus se mostrou plenamente humano, tanto no aspecto físico, como no mental. Não havia dúvidas para os autores do NT que Jesus era plenamente homem.

Espero ter contribuído com a resumida explicação sobre o assunto em suspensão... até o próximo texto da série,

Pr. Luís Filipe.

4 comentários :

Marcelo de Oliveira e Oliveira - RJ disse...

Caro Pr. Luiz Filipe,

Paz e Bem!

Nada a acrescentar. Seu texto desenvolve com riqueza de detalhes o desdobramento bíblico da natureza humana de Jesus. As Escrituras de maneira alguma silencia esse tema, mas grita em alto som: "Jesus Cristo, Homem" (1 Tm 2.5).
Continuo lhe acompanhando na série de textos. E estejas certo: estou crescendo em suas reflexões!

Um abraço,
Marcelo de Oliveira e Oliveira.

Desculpe a demora meu companheiro Marcelo, Paz e Bem a você também!

Grato pelo comentário, que tomo como um incentivo a continuidade das postagens sobre a Pessoa de Jesus. Saiba que suas palavras sempre são muito bem vindas aqui.

Que o Senhor te cubra de bençãos amado, esse é o meu desejo,

Pr. Luís Filipe

Jardel disse...

A Paz do Senhor Jesus!

Pastor parabéns pelos ensinamentos e esclarecimentos, que DEUS possa lhe abençoar grandemente. São pessoas como o Sr.que precisamos nestes ultimos dias.
Preciso de sua ajuda para compreender algumas coisas ainda, pois me considero Neófito, desculpe os termos da pergunta.
1 - Jesus hoje ainda está como Homem, ou é só DEUS?
2 - Jesus era igual a Adão antes da Queda?
3 - Jesus corria o risco de pecar, pois nasceu igual a Adão?

Em Cristo Homem.

Jardel

A Paz querido Jardel!

Obrigado pelas palavras de incentivo. Saiba porém, que o meu único objetivo é a edificação de pessoas como você. Pessoas que querem sair do superficial da religião e mergulhar no oceano da revelação mais profunda de Deus.

Bem, vamos às perguntas:

1. Jesus hoje ainda está como homem no céu, ou é só DEUS?

R: Quando, na eternidade, um tempo que foge à nossa explicação, o Deus Pai, O Deus Filho e o Deus Espírito Santo, decidiram pela encarnação de um dos membros da Trintade, o fizeram sabendo que seria para sempre. Jesus viveria como homem, morreria como homem e ressuscitaria como homem. E, para não deixar dúvidas, apareceu aos seus discípulos após a ressurreição e mostrou-lhes até as marcas dos cravos em suas mãos (Jo 20.25), pode ser tocado e chegou até comer! (Lc 24.39-42). Depois, subiu aos céus diante de várias testemunhas, deixando-as a promessa de que viria outra vez da mesma forma que estava subindo (At 1.9-11). A diferença é que Cristo hoje possui um corpo glorificado, celestial. Corpo este, que um dia também teremos, afim de que possamos vê-lo como Ele é (1Cor 13.12).

2. Jesus era igual a Adão antes da Queda?

R: Sim, igual a Adão e a todos os homens, porém, era e é Deus ao mesmo tempo que era e é homem. Não possuía nem possui pecado porque era e é Deus. Alguém que pode pecar, esse alguém, não pode ser Deus.

3. Jesus corria o risco de pecar, pois nasceu igual a Adão?

R: Jesus, de maneira alguma corria o risco de pecar. O fato de ter nascido igual a Adão e participar de todas os atributos humanos, exceto o pecado, que é uma deformação da Queda, foi apenas para trazer uma redenção completa ao homem. O Perfeito padece pelos imperfeitos, para salvá-los da imperfeição e suas conseqüências.

Espero ter ajudado...

Em Jesus Cristo Homem-Deus e Deus-Homem,

Pr. Luís Filipe