SÉRIE: CONFISSÃO DE FÉ DE WESTMINSTER (1643-46)
Postado por Luís Filipe de Azevedo
1.
Nossos primeiros pais seduzidos pela astúcia e tentação de Satanás, pecaram ao
comerem o fruto proibido. Segundo o seu sábio e santo conselho, foi Deus
servido permitir este pecado deles, havendo determinado ordená-lo para a sua
própria glória.
2.
Por este pecado eles decaíram de sua retidão original e da comunhão com Deus, e
assim se tornaram mortos em pecado e inteiramente corrompidos em todas as
faculdades e partes do corpo e da alma.
3.
Sendo eles o tronco de toda a humanidade, o delito de seus pecados foi imputado
a seus filhos; e a mesma morte em pecado, bem como a sua natureza corrompida,
foram transmitidas a toda a sua posteridade, que deles procede por geração
comum.
4.
Desta corrupção original, pela qual ficamos totalmente indispostos, incapazes e
adversos a todo o bem e inteiramente inclinados a todo o mal, é que procedem
todas as transgressões atuais.
5.
Esta corrupção da natureza persiste, durante esta vida, naqueles que são
regenerados; e embora seja ela perdoada e mortificada por Cristo, todavia ela como
os seus impulsos são real e propriamente pecado.
6.
Todo pecado, tanto original como atual, sendo transgressão da justa lei de Deus
e a ela contrário, torna culpado o pecador, em sua própria natureza, e por essa
culpa está sujeito à ira de Deus e à maldição da lei, e, portanto, sujeito à
morte, com todas as misérias espirituais, temporais e eternas.
1.
Tão grande é à distância entre Deus e a criatura, que, embora as criaturas
racionais lhe devam obediência como seu Criador, nunca poderiam fruir nada
dele, como bem-aventurança e recompensa, senão por alguma voluntária
condescendência da parte de Deus, a qual agradou-lhe expressar por meio de um
pacto.
2.
O primeiro pacto feito com o homem era um pacto de obras; nesse pacto foi a
vida prometida a Adão e, nele, à sua posteridade, sob a condição de perfeita e
pessoal obediência.
3.
Tendo-se o homem tornado, pela sua queda, incapaz de ter vida por meio deste
pacto, o Senhor dignou-se a fazer um segundo pacto, geralmente chamado de pacto
da graça; neste pacto da graça ele livremente oferece aos pecadores a vida e
salvação através de Jesus Cristo, exigindo deles a fé, para que sejam salvos, e
prometendo o seu Santo Espírito a todos os que estão ordenados para a vida, a fim
de dispô-los e habilitá-los a crer.
4.
Este pacto da graça é freqüentemente apresentado nas Escrituras pelo nome de
testamento, em referência à morte de Cristo, o Testador, e à eterna herança,
com tudo o que lhe pertence, legada neste pacto.
5.
Este pacto, no tempo da Lei, não foi administrado como no tempo do Evangelho.
Sob a Lei, foi administrado por meio de promessas, profecias, sacrifícios, da
circuncisão, do cordeiro pascal e de outros tipos e ordenanças dados ao povo
judeu, tudo prefigurando Cristo que havia de vir. Por aquele tempo, essas
coisas, pela operação do Espírito Santo, foram suficientes e eficazes para
instruir e edificar os eleitos na fé do Messias prometido, por quem tinham
plena remissão dos pecados e a salvação eterna; este se chama o Antigo
Testamento.
6.
Sob o Evangelho, quando Cristo, a Substância, se manifestou, as ordenanças, nas
quais este pacto é ministrado, passaram a ser a pregação da Palavra e a
administração dos Sacramentos do Batismo e da Ceia do Senhor; por estas
ordenanças, posto que em número menor e administradas com mais simplicidade e
menos glória externa, o pacto se manifesta com mais plenitude, evidência e
eficácia espiritual, a todas as nações - tanto aos judeus como aos gentios.
Isto é chamado Novo Testamento. Não há, pois, dois pactos da graça diferentes
em substância, mas um e o mesmo sob várias dispensações.
1.
Aprouve a Deus, em seu eterno propósito, escolher e ordenar o Senhor Jesus, seu
Filho Unigênito, para ser o Mediador entre Deus e o homem, o Profeta, Sacerdote
e Rei, o Cabeça e Salvador de sua Igreja, o Herdeiro de todas as coisas e o
Juiz do mundo; e deu-lhe, desde toda a eternidade, um povo para ser sua
semente, e para, no tempo devido, ser por ele remido, chamado, justificado,
santificado e glorificado.
2.
O Filho de Deus, a segunda Pessoa da Trindade, sendo verdadeiro e eterno Deus,
da mesma substância do Pai e igual a ele, quando chegou o cumprimento do tempo,
tomou sobre si a natureza humana com todas as suas propriedades essenciais e
enfermidades comuns, contudo sem pecado, sendo concebido pelo poder do Espírito
Santo no ventre da Virgem Maria, e da substância dela. As duas naturezas
inteiras, perfeitas e distintas - a Divindade e a Humanidade - foram
inseparavelmente unidas em uma só pessoa, sem conversão, verdadeiro homem,
porém um só Cristo, o único Mediador entre Deus e o homem.
3.
O Senhor Jesus, em sua natureza humana unida à divina, foi santificado e sem
medida ungido com o Espírito Santo, tendo em si todos os tesouros da sabedoria
e da ciência. Aprouve ao Pai que nele habitasse toda a plenitude, a fim de que,
sendo santo, inocente, incontaminado e cheio de graça e verdade, estivesse
perfeitamente preparado para exercer o ofício de Mediador e Fiador. Este ofício
ele não tomou para si, mas para ele foi chamado pelo Pai, que lhe pôs nas mãos
todo o poder e todo o juízo, e lhe ordenou que os exercesse.
4.
Este ofício o Senhor Jesus empreendeu mui voluntariamente. Para que pudesse
exercê-lo, ele se fez sujeito à lei, a qual cumpriu perfeitamente, padeceu
imediatamente em sua alma os mais cruéis tormentos, e em seu corpo, os mais
penosos sofrimentos; foi sepultado e ficou sob o poder da morte, mas não viu a
corrupção; ao terceiro dia ressuscitou dois mortos, com esse corpo subiu ao
céu, onde está sentado à destra do Pai, fazendo intercessão; de lá voltará no
fim do mundo para julgar os homens e os anjos.
5.
O Senhor Jesus, pela sua perfeita obediência e pelo sacrifício de si mesmo,
sacrifício que, pelo Eterno Espírito, ofereceu a Deus uma só vez, satisfez
plenamente à justiça de seu Pai, e, para todos aqueles que o Pai lhe deu,
adquiriu não só a reconciliação, como também uma herança perdurável no Reino
dos Céus.
6.
Ainda que a obra da redenção não fora realmente realizada por Cristo senão
depois de sua encarnação, contudo a virtude, a eficácia e os benefícios dela,
em todas as épocas sucessivas desde o princípio do mundo foram comunicados aos
eleitos por meio das promessas, tipos e sacrifícios, pelos quais ele devia esmagar
a cabeça da serpente, como o cordeiro morto desde o princípio do mundo, sendo
ele o mesmo ontem, hoje e para sempre.
7.
Cristo, na obra de mediação, age de conformidade com as suas duas naturezas,
fazendo cada uma o que lhe é próprio; contudo, em razão da unidade de uma
pessoa, o que é próprio de uma natureza é, às vezes, nas Escrituras, atribuído
à pessoa denominada pela outra natureza.
8.
Cristo, com toda certeza e de forma eficaz, aplica e comunica a salvação a
todos aqueles para quem a adquiriu. Isto ele consegue, fazendo intercessão por
eles e revelando-lhes na Palavra e pela Palavra os mistérios da salvação,
persuadindo-os, eficazmente, pelo seu Espírito, subjugando todos os seus
inimigos por meio de sua onipotência e sabedoria, da maneira e pelos meios mais
condizentes com a sua admirável e inescrutável dispensação.
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