6/06/2011

A GRAÇA COMUM – (PARTE 2)

Postado por Luís Filipe de Azevedo


Razões da graça comum

Por que é que Deus concede a graça comum aos pecadores indignos que nunca alcançarão a salvação? Podemos sugerir, no mínimo, quatro razões:


1. Para redimir os que serão salvos.


Pedro diz que o dia do juízo e da execução final da punição está sendo adiado porque há ainda mais pessoas que serão salvas: “Não retarda o Senhor a sua promessa, como alguns a julgam demorada; pelo contrário, ele é longânimo para convosco, não querendo que nenhum pereça, senão que todos cheguem ao arrependimento. Virá, entretanto, como ladrão, o Dia do Senhor” (2Pe 3.9-10). De fato, essa razão é verdadeira desde o começo da história humana, porque se Deus quisesse salvar qualquer pessoa fora de toda massa da humanidade pecaminosa, ele não poderia destruir todos os pecadores imediatamente (porque nesse caso não haveria raça humana restante).


2. Para demonstrar a bondade e a misericórdia de Deus.

 

A bondade e a misericórdia de Deus não são apenas percebidas na salvação dos crentes, mas também nas bênçãos que ele concede aos pecadores indignos. Quando Deus “é benigno até com os ingratos e maus” (Lc 6.35), sua benignidade é revelada no universo, para sua glória. Davi diz: “O Senhor é bom para todos, e as suas ternas misericórdias permeiam todas as suas obras” (Sl 145.9). Por isso é que lemos sobre Jesus falando com o jovem rico: “E Jesus, fitando-o, o amou” (Mc 10.21), ainda que o homem fosse um incrédulo e que, num momento, desviar-se-ia de Jesus por causa de suas grandes posses.


3. Para demonstrar a justiça de Deus.

 

Quando Deus repetidamente convida os pecadores a que se acheguem à fé, e quando eles repetidamente recusam seu convite, a justiça de Deus ao condená-los é percebida muito mais claramente. Paulo adverte que aqueles que persistem na incredulidade estão simplesmente acumulando mais ira para si mesmos: “Segundo a tua dureza e coração impenitente, acumulas contra ti mesmo ira para o dia da ira e da revelação do justo juízo de Deus” (Rm 2.5). No dia do juízo “toda boca” será “calada” (Rm 3.19) e ninguém será capaz de objetar que Deus seja injusto.


4. Para demonstrar a glória de Deus.

 

Por último, a glória de Deus é demonstrada de muitas maneiras através das atividades dos seres humanos em todas as áreas na quais a graça comum atua. Ao desenvolver e exercitar o domínio sobre a terra, homens e mulheres demonstram e refletem a sabedoria de seu Criador, demonstram qualidades semelhantes às de Deus como perícia, virtude moral, autoridade sobre o universo e assim por diante. Embora todas essas atividades sejam maculadas por razões pecaminosas, assim mesmo refletem a excelência do nosso Criador, e portanto trazem glória a Deus, não total ou perfeitamente, mas de modo expressivo.

Nossa resposta à doutrina da graça comum

Ao pensar sobre os vários tipos de bondade percebidos na vida dos incrédulos por causa da abundante graça comum de Deus, devemos manter em mente três pontos:

1. A graça comum não significa que aqueles que a recebem serão salvos.

 

Nem mesmo o fato de receber porções excepcionalmente amplas da graça comum significa que aqueles que a recebem serão salvos. Até mesmo as pessoas mais habilidosas, mais inteligentes, mais abastadas e poderosas do mundo precisam do evangelho de Jesus Cristo ou serão condenadas por toda a eternidade! Mesmo entre nossos vizinhos, os de moral mais elevada e os mais bondosos ainda necessitam do evangelho de Jesus Cristo, ou serão condenados pela eternidade! Eles externamente podem dar a impressão de não ter necessidade, mas as Escrituras ainda assim dizem que os incrédulos são “inimigos” de Deus (Rm 5.10; cf. Cl 1.21; Tg 4.4) e são “contra” Cristo (Mt 12.30). Eles “são inimigos da cruz de Cristo”, “só se preocupam com as coisas terrenas” (Fp 3.18-19) e são “por natureza, filhos da ira, como também os demais” (Ef 2.3).

2. Devemos ser cautelosos para não rejeitar as coisas boas que os incrédulos fazem como se fossem totalmente más.

 

Pela graça comum, os incrédulos fazem o bem até certo ponto, e devemos enxergar a mão de Deus nisso e ser gratos pela graça comum que de certo modo opera em toda amizade, todo ato de bondade, e por todas as maneiras pelas quais ela traz bênçãos a outros. Tudo isso, no final das contas – embora o incrédulo não o saiba – provém de Deus e, também por isso, ele merece ser glorificado.


3. A doutrina da graça comum deve conduzir nosso coração a uma extrema gratidão a Deus.

 

Quando passeamos pela rua e observamos casas e jardins, e famílias morando em segurança, ou quando fazemos negócios no mercado e percebemos os abundantes resultados do progresso tecnológico, ou quando andamos através das florestas e vemos a formosura da natureza, ou quando somos protegidos pelo governo, ou quando recebemos a educação com o vasto tesouro do conhecimento humano, devemos perceber, no final das contas, que Deus em sua soberania é o responsável não apenas por todas essas bênçãos, mas também que ele as tem concedido a pecadores totalmente indignos de sequer uma delas!

Fonte: GRUDEM, Wayne. Teologia Sistemática. São Paulo: Edições Vida Nova A Doutrina da Aplicação da Redenção – p. 549 - 714. 

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