3/15/2009

OS OLHOS DA FÉ

Postado por Luís Filipe de Azevedo

Texto Bíblico: João 20.24-29


INTRODUÇÃO

Por quê? O que isso significa? Talvez sejam essas as perguntas capazes de definir a espécie humana, haja vista que, de todas as criaturas que Deus criou, somos a única espécie que procura os por quês, a razão, a justificativa de nossa existência. Vivemos, e não medimos esforços para isso, procurando encontrar sentido para tudo que somos e fazemos. Vez por outra surgem perguntas em nossa mente, dúvidas sinceras que só surgem na mente de que pensa; de quem existe buscando um sentido para a vida. A dúvida em si é algo inevitável.
Reflita comigo na famosa frase do francês René Descartes (1596-1650), o primeiro grande filósofo racionalista: “Penso, logo existo”. Nós temos como ponto de partida da nossa vida a fé e o invisível. Mas, Descartes disse: não! O ponto de partida da vida racional é a dúvida. Ele pôs em dúvida tudo que existia. A todas as elaborações e axiomas propostos ele sempre vinha com um Será? Apenas uma coisa ele não conseguiu por em dúvida: o fato de existir, haja vista que estava pensando. Ele chegou a um absoluto racional. O mero fato de que estava tendo dúvidas e, portanto, pensando, significava que decerto existia.
A dúvida é um elemento de reflexão, uma oportunidade de chegar à verdade, à estabilidade da fé, à convicção inabalável em Deus. Tudo isso porque nos faz ir atrás da certeza, do entendimento, da espiritualidade racional e inteligente. Não há problemas, portanto, em duvidarmos. O grande problema, o grande inimigo da nossa é não é a dúvida, mas a incredulidade.
Por incredulidade entenda o oposto da fé, a recusa em buscar certeza, em saber da verdade. A incredulidade é inimiga da razão, é obstinada, presunçosa e insolente, pois se recusa a ouvir argumentos e respostas. Incredulidade é uma atitude rebelde de descrença. É se fechar à crença, não dar sequer uma oportunidade à fé, rejeitar sem dar ouvidos, não querer ouvir tal aberração do outro.
Toda dúvida é legítima e tolerada por Deus como pressuposto de não herdarmos uma fé pré-fabricada da tradição religiosa. A dúvida nos conduz à fé viva, ativa e inteligente. Em contra partida, toda incredulidade é pecaminosa, intolerável e reprovada por Deus. A vontade de Deus é que sejamos crentes, não incrédulos. Apesar de nossas dúvidas sinceras, que sejamos crentes.
Tomé é o mais famoso exemplo de incredulidade do Novo Testamento e, talvez, da história. Muitos tentam amenizar a sua situação dizendo que ele apenas duvidou, mas Jesus o chama de incrédulo. A Bíblia o chama de Tomé, correlato aramaico para o nome grego Dídimo, que significa “gêmeo”. Provavelmente ele nasceu na Galiléia e trabalhava de pescador ali. Sua vida cristã era como a maré: ora cheia, ora vazia, ora alta, ora baixa e vazante.
Ele, por vezes se mostrava corajoso, porém pessimista (Jo 11.16); demonstrava dificuldades de entender as palavras de Cristo (Jo 14.5) e quando Jesus apareceu aos discípulos pela primeira vez após sua ressurreição, estava ausente (Jo 20.24). Esse foi o principal motivo da sua falta de fé. Por não ter visto, não creu. Fé para ele significava, portanto, ver.
Era um típico cético, relutante em aceitar qualquer fato simplesmente contado por alguém. O adjetivo usado pelo Senhor Jesus para dar nome ao pecado de Tomé foi “apistós”, que traduzido é “infiel e ou incrédulo”. Termo que está sendo usado em contradição direta com outro termo, “pistós”, que se traduz por “crente, confiante e ou fiel”.
Embora Tomé fosse um dos doze, apesar de ter vivenciado todas aquelas experiências do ministério de Jesus, apesar de ter visto, ouvido, e sentido todos os milagres, teve um momento de sua vida que ele foi incrédulo em relação a Cristo. Viu Jesus andar sobre as águas, ressuscitar mortos, acalmar ventos e tempestades, mas sua fé dependia do ver, do tocar, do sentir.
É a incredulidade pode pegar qualquer pessoa, mesmo aquelas que tenham vivenciado grandes milagres. O fio que divide a dúvida e a incredulidade é muito fino. E o único capaz de julgar isso é o próprio Senhor Jesus Cristo. Foi o que aconteceu naquela casa onde estavam reunidos Tomé e os outros discípulos. Momento crucial na vida dele, momento de transformação real e convicção total. Ali, a incredulidade pegou suas malas e foi embora da vida de Tomé, o que lhe proporcionou uma nova convicção.

I. O BERÇO DA INCREDULIDADE (v. 24)

Acredito que algumas atitudes de Tomé contribuíram com sua falta de fé. Em primeiro lugar, foi o isolamento. Os dez discípulos, depois da morte de Jesus, no primeiro dia da semana, à tarde, se reuniram com medo e tristeza no coração para se consolarem como é costume dos enlutados, porém Tomé se isolou, preferiu ficar só, com sua tristeza, com suas dúvidas, com seus costumeiros questionamentos. O que ocorreu? Jesus apareceu na casa onde estavam reunidos os dez, e Tomé não o viu ressuscitado. No isolamento a dúvida parece aumentar, Seria ele o verdadeiro Cristo?
No escuro da alma, a dúvida se torna desesperança. A luz se esvai na escuridão, a fé esmorece na masmorra fria e úmida em que a alma solitária se encontra. Tomé era melancólico e depressivo. Tudo isso contribuiu com sua incredulidade.

II. A INCREDULIDADE REQUER EVIDÊNCIAS (v. 25)

A dúvida verdadeira nunca se afasta dos fatos, para onde quer que eles levem. Perseguem a verdade com teimosia. Porém, a incredulidade latente, a falta de fé, exige evidência como condição de aceitação de verdade daquilo que se afirma. É a máxima do incrédulo o “ver, para crer”. Se não vejo, não pode ser verdade, se não toco, se não sinto, não pode ser verdade. Tomé encabeça o grupo daqueles que baseiam sua fé, se é que podemos chamar isso de fé, nos sentidos humanos, nas provas, nas suas próprias experiências. Fecha-se ao testemunho dos amigos, não é capaz de receber nada de Deus através de ninguém, não confia em ninguém além de si mesmo.
Os discípulos por certo se acotovelaram para dar a notícia ao amigo ausente. Esperavam ver como ele reagiria. E o cético, diz: “só acredito, vendo; só acredito, tocando. Vocês me desculpem, mas não basta a palavra de vocês como prova. Se vocês não se importam, quero ver primeiro antes de crer”.
Há quem diga que Tomé foi honesto com sua fé, por essa razão não merece ser criticado ou condenado por sua incredulidade, pois queria descobrir a verdade por si mesmo. Mas, só dizem isso aqueles que não atentaram para a repreensão de Jesus. Tomé tinha muitas razões para acreditar nos seus amigos, e não ser incrédulo; ele andara com eles por três anos juntos, vivenciando tudo juntos, mas insistiu em querer mais evidências. E não sabia ele que estava sendo infiel quanto à sua fé em Cristo.

III. JESUS REPREENDE TODA INCREDULIDADE E DEVOLVE UMA FÉ VIVA NELE (v. 26-27)

A incredulidade de Tomé se mostrou um tanto quanto presunçosa e insolente, pois ele não apenas decidiu simplesmente não acreditar nos seus amigos que testificaram, mas foi capaz de sugerir com sua audaciosa solicitação, de que tudo não passa da uma ilusão da mente deles. Eu imagino Tomé perguntando aos dez se eles tocaram em Jesus, se colocaram a mão em seus ferimentos. E os dez dizendo que não, e ele redargüindo como eles poderiam dizer terem visto Jesus.
A semana toda, por certo, eles discutiram o assunto. E, exatamente oito dias após ter aparecido aos dez, Jesus aparece novamente, mas dessa vez com um propósito especial: repreender a incredulidade da vida de Tomé. Eu acho que Jesus apareceu apenas para isso. Na mesma casa, todos estavam reunidos. Jesus se dirige diretamente a Tomé e repreende toda incredulidade do seu coração. O texto não diz que Tomé tocou em Jesus, penso que não foi preciso, apenas vê-lo e ouvir sua voz foi o suficiente.
Aquele que havia pensado que os seus amigos estavam blefando, e que tudo não passava de uma ilusão de ótica, e que para que ficasse provada a ressurreição de Cristo, não bastava ver, mas tocar, sentir, agora se dá por satisfeito em contemplar e ouvir o meigo Jesus.

IV. A CONFISSÃO DE FÉ DE TOMÉ (v. 28)

Não somente isso, ele faz uma declaração que mais parece uma confissão de fé e convicção na ressurreição: “Senhor meu, Deus meu”. Era como se Tomé tivesse dito: “Realmente é meu Senhor (como eu o conheci antes de sua morte), porém agora que o vejo ressurreto também é meu Deus”. Tomé, até então um discípulo incrédulo, reafirma sua fé redescoberta com uma “convicção absoluta” da divindade de Jesus Cristo. Se é que podemos dizer, aquele foi o momento da conversão verdadeira de Tomé.

V. A ÚLTIMA BEM-AVENTURANÇA, DADA A QUEM CRÊ, MESMO SEM VER (v.29)

O que eu acho mais interessante neste texto é essa bem-aventurança, pois ela se destinava àqueles leitores que receberiam o Evangelho de João, os pioneiros e nós. Tanto os cristãos da Ásia Menor, bem como todos os cristãos espalhados por toda a terra, não tiveram o privilégio de ver o Jesus ressurreto, como o tiveram os onze apóstolos. Mas aprendemos aqui, que embora não o tenhamos visto, podemos crer Nele, assim como eles. Na verdade nossa fé seria superior à fé deles, por que cremos em quem não vimos, mas apenas ouvimos.
Todos os que cremos em Jesus Cristo somos bem-aventurados, porque não andamos por vista, mas por fé naquilo que não se vê. Depois da geração dos apóstolos todos aqueles que manifestaram fé em Cristo, a manifestaram sem ver, e para tais pessoas vale essa bem-aventurança especial de Jesus. Porque vemos o Senhor com “os olhos da fé”.
João sabendo disso escreveu o que escreveu para que, lendo e ouvindo, tenhamos fé que Jesus Cristo é o Filho de Deus e, por essa convicção, tenhamos vida em seu maravilhoso nome.

CONCLUSÃO

· Não permita que suas dúvidas se transformem em incredulidade;
· Não se isole, ficar na solitária por conta própria é sempre um passo para a melancolia, depressão e falta de fé;
· Se abra para ouvir seus amigos, seus irmãos na fé, e creia que Deus pode falar através deles para sanar suas dúvidas;
· Procure ficar em comunhão com pessoas mais fortes quando se sentir triste, desanimado e perceber que sua fé está esmorecendo;
· Coloque diante de Deus seus questionamentos; não tente enganar a Deus; seja você mesmo, mas se abra para o novo de Deus.Deus se revelará a você e você terá uma convicção inabalável Nele.

0 comentários :