10/29/2010

A ENCARNAÇÃO DO VERBO - ÚLTIMA POSTAGEM

Postado por Luís Filipe de Azevedo


O PRIMEIRO HOMEM (ADÃO) E O SEGUNDO HOMEM (ADÃO)

DE 1Cor. 15.47

"O primeiro homem era do pó da terra; o segundo homem, dos céus". NVI

"O primeiro homem, sendo da terra, é terreno, o segundo homem é do céu". ECA


Debruço sobre esse texto para estudá-lo, não como uma pessoa irreverente, impaciente e imprudente que pretende desafiar alguém para uma batalha, mas o faço com temor e tremor, como quem aprecia um texto poético e que necessita possuir um coração adequado a perscrutar (tentar conhecer, procurar penetrar no segredo das coisas) o sentido mais especial para o belo e subjetivo entendimento do Sagrado. Todo filósofo, necessita ter uma verve filosófica para o estudo da filosofia. Todo cientista, necessita ter um espírito científico apurado para desenvolver-se bem dentro do estudo da ciência. Assim, é da maior importância que o intérprete bíblico, aquele que irá observar, estudar, interpretar e aplicar as Escrituras Sagradas à sua vida e à dos outros, tenha um coração respeitoso, dócil, paciente, e, sobretudo, amoroso para com a Palavra de Deus, afim de que sua interpretação seja devidamente proveitosa e que reflita uma boa compreensão da revelação do Eterno. Tentarei respoder algumas perguntas com base no texto em suspensão.


Jesus veio realmente num corpo humano de carne, ou apenas em sua semelhança?

O texto de 1Coríntios 15.47 oferece, ao que parece, um ponto obscuro ou de dificuldade de interpretação quando lido singularmente. Em tais casos, seguindo a recomendação dos grandes eruditos da hermenêutica bíblica, a única coisa a fazer é lembrarmo-nos da regra fundamental da interpretação bíblica e observarmos alguns princípios básicos de interpretação, para que nosso trabalho resulte numa reflexão cuidadosa e correta da passagem em estudo.

Pois bem, a regra fundamental, a regra das regras, é esta: A Escritura explicada pela Escritura, ou seja: a Bíblia, sua própria intérprete. Regra que nos conduz aos cinco princípios básicos de interpretação bíblica. São eles:

Primeiro, é preciso, o quanto seja possível, tomar as palavras em seu sentido usual e comum;

Segundo, é de todo necessário tomar as palavras no sentido que indica o conjunto da frase;

Terceiro, é necessário tomar as palavras no sentido indicado no contexto, a saber, os versículos que precedem e seguem ao texto que se estuda;

Quarto, é preciso levar em consideração o objetivo ou desígnio do livro ou passagem em que ocorrem as palavras ou expressões obscuras.

Quinto, É necessário consultar as passagens paralelas, "explicando cousas espirituais pelas espirituais" (1 Cor. 2:13, original). Paralelos de palavras, idéias, ensinos gerais, linguagens figuradas, etc.

Nessa perspectiva é que pretendo analisar o texto de 1Cor 15.47.

A problemática gira em torno do mesmo assunto tratado por Paulo em Romanos 8.3. Lá, o apóstolo afirma que Jesus veio "em semelhança de carne pecaminosa", mas não declara que Ele é feito de carne humana, ainda que a Bíblia cite repetidas vezes o fato de Jesus ter sido encarnado, isto é, ter se feito carne humana, ou seja, de ser verdadeiramente humano, não apenas semelhante a um humano.

Norma L. Geisler, em seu livro Manual popular de dúvidas, enigmas e “contradições” da Bíblia, traduzido por Milton Azevedo Andrade e publicado em São Paulo pela editora Mundo Cristão, no ano de 1999, apresnta uma possível solução encontrada na Bíblia, a de que Jesus não foi apenas semelhante aos homens - ele foi um homem (ver. explicação de Rm 8.3).

Transcrevo abaixo parte do comentário de Geisler:

Ele não veio só em semelhança à carne humana, mas veio com um corpo de carne realmente humana. Nesse ponto as Escrituras são claras. João declarou: "E o Verbo [Cristo] se fez carne e habitou entre nós" (Jo 1:14). Posteriormente ele advertiu que todo aquele que não confessa "que Jesus Cristo veio em carne" não é de Deus (1 Jo 4:2-3; cí 2 Jo 7). De igual forma, Paulo insistiu que "Deus se manifestou em carne" (1 Tm 3:16, SBTB).

Concordando com o mesmo pensamento, descobrimos que noutras partes, nesse mesmo livro, Paulo se utiliza da mesma expressão "semelhança" no sentido de "ser realmente como", não como apenas tendo a "aparência de ser como" (Rm 1:23; 5:14; 6:5). Assim, bem pode ser que Paulo não estivesse fazendo diferenciação entre "semelhança" e "tal como". Ou, quando Paulo afirmou (em Romanos 8:3) que Jesus veio "em semelhança de carne", talvez ele não estivesse se referindo à carne humana como tal, mas à "carne humana pecaminosa". Jesus tinha verdadeiramente carne humana, mas sua carne era apenas semelhante à carne humana pecaminosa, porque ele não tinha pecado (Hb 4:15; 1 Pe 3:18; 1 Jo 3:3).

De qualquer modo, em Filipenses 2, Paulo fala de Cristo como quem se torna "em semelhança de homens", com o sentido de que ele era um ser humano (v. 7). Assim, mesmo sem o adjetivo "pecaminosa" (colocado após "carne" em 8:3), Paulo fala da "semelhança" aos homens como sendo o mesmo que "ser humano".

Como verificamos acima, o grande teólogo Norman L. Geisler analisa o texto de Romanos 8.3 respeitando os princípios da boa interpretação. E vejo desnecessário quaisquer comentário de minha parte sobre suas considerações sobre o tema em destaque. Vamos ao texto principal.


Qual o verdadeiro significado de 1Coríntios 15.47?

Aplicando a terceira regra básica acima citada, que mostra ser vital a análise do contexto, os versículos que precedem e seguem ao texto em estudo, descobrimos já de pronto que se trata de uma abordagem escatológica apresenta aos crentes de Corinto sobre a ressureição dos mortos. Desde o verso 1 até ao verso 58 do capítulo 15, Paulo está falando sobre esse tema. Ele começa falando da ressurreição de Cristo como penhor, isto é, garantia da nossa ressurreição (vs. 1-28); depois, ele fala da ressurreição em relação à vida prática da igreja (vs. 29-34); continua, dizendo que os mortos terão corpo (vs. 35-49); e conclui assegurnado-nos de que os vivos serão transformados (vs. 50-58).

Perceba que, conforme o recorte feito acima do texto de 1Cor. 15, o verso 47 está incluso no bloco de versículos que fala do corpo da ressurreição. Observemos que o versículo 35 levanta duas perguntas: “Como ressuscitam os mortos? Com que espécie de corpo virão?” De modo que o texto que segue pretender tratar da resposta a essas duas perguntas retóricas levantadas pelo próprio apóstolo Paulo.

O versículo 44 reponde à uma outra pergunta delimitadora: O corpo ressurreto é material ou não material? E, aplicando os pricípios da boa interpretação, podemos alistar pelo texto sagrado, que é a maior autoridade aqui, as seguintes verdades bíblicas:

a) Que o texto está mostrando a natureza do corpo humano antes da ressurreição e depois da ressurreição;

b) Que o corpo anterior à ressurreição é terrestre - limitado (v. 40), corruptível (v. 42), fraco (v. 43), mortal (v. 53) e natural (v. 44) à semelhança do corpo do primeiro Adão;

c) Que o corpo ressurreto é um "corpo espiritual" (v.44), celestial, incorruptível, poderoso, imortal e ou sobrenatural, assim como o corpo do Segundo Adão, Cristo, depois da referida ressurreição.

O que se pode concluir da passagem estudada é que em nenhum momento, ela trata da vida de Jesus enquanto homem aqui antes da ressurreição, mas apenas sobre o seu corpo depois da ressurreição. Não podemos, então, tomar esse texto para afirmar que Jesus Cristo é um homem celestial diferente de nós, se referindo a natureza humana de Jesus antes da ressurreição, porque não é desse tema que o texto está tratando. Os termos Primeiro Adão e Segundo Adão são usados aqui, específica e exclusivamente, aos corpos de Adão ( representante do homem antes da ressurreição) e de Cristo (representante dos salvos e ressurretos). Cristo está sendo representado aqui como o Último Adão: as primícias dos que dormem, mas que serão ressucitados. Na verdade, essa referência trata-se do primeiro emprego da analogia de Adão a Cristo (ver. 15.3-5). Da mesma maneira que a colheita corresponde às primícias e delas flui, assim os que morreram em Cristo, serão ressuscitados.

Paulo anuncia um duplo paralelismo no contexto que confirma essa relação semântica (de sentido):

Visto que a morte veio por meio de um só homem, (v. 21a)

também a ressurreição dos mortos veio por meio de um só homem (v. 21b)

Pois da mesma forma como em Adão todos morrem, (v. 22a)

em Cristo todos serão vivificados (v. 22b).


O contraste final nos versos 48 e 49, entre o “terreno” e o “celestial”, sugerem que os versículos 42-44 referen-se à distinção entre o corpo humano que é terreno e o corpo humano que é celestial. Discussão que envolve, não propriamente dito a substância dos corpos, mas, sim, o fator tempo, isto é, que a presente era má é contrastada com a vindoura. Ora vem Senhor Jesus!! Para que nossa redenção seja completamente consumada pela ressurreição dos corpos daqueles que já partiram ou a transformação daqueles que estiverem vivos para vê-Lo naquele Grande Dia!!

Assim, como trouxemos a imagem do Primeiro Adão, o corpo corruptível por termos nascido, carregaremos, por pertencermos a Cristo, a imagem do Segundo Adão (v. 49).

Com essa postagem, termino a minha série sobre a ENCARNAÇÃO DE CRISTO. Gostaria de aproveitar e agradecer aos leitores, meus amigos e irmãos em Cristo, por visitar o meu blog e pelos comentários feitos ao longo deste estudo. Deus os abençoe!!

Em Cristo, Pr. Luís Filipe.

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