10/31/2010

31 DE OUTUBRO - DIA DA REFORMA PROTESTANTE

Postado por Luís Filipe de Azevedo

Martinho Lutero e João Calvino

Assim como a fé bíblica é profundamente histórica, porque é fundamentada em atos redentores realizados no tempo e no espaço, a fé reformada valoriza extraordinariamente a história da igreja. O nosso senso da história nos lembra que a igreja cristã não começou com a reforma protestante do século dezesseis. Foi por isso que reformadores como Lutero e Calvino não quiseram romper com tudo o que dizia respeito à igreja antiga e medieval. Por exemplo, eles fizeram questão de reconhecer a validade dos antigos concílios ecumênicos da igreja (séculos quarto e quinto) e das extraordinárias formulações teológicas produzidas pelos mesmos – os credos, especialmente o niceno e o de Calcedônia. Os reformadores magisteriais, Calvino entre eles, também tinham grande apreço pelos antigos mestres cristãos, os pais da igreja, e os citaram abundantemente em seus escritos. É por isso que devemos recitar esses credos, utilizar as antigas liturgias, cantar hinos de séculos passados. Não é questão de tradicionalismo: tudo isto nos coloca em contato com a igreja do passado, da qual somos herdeiros e continuadores.

No seu sentido mais amplo, “protestantismo” denomina todo o movimento dentro do cristianismo que se originou na reforma do século XVI e que mais tarde centrou-se nas principais tradições da igreja reformada – Luterana Reformada (Calvinista/Presbiteriana) e Anglicano-Episcopal (embora o anglicanismo alegue ser tanto católico quanto protestante) e Speyer, 1529, com os primeiros dissidentes de uma imposição religiosa, e continuando com os batistas, metodistas, pentecostais, até às igrejas Africanas Independentes dos nossos dias.

O termo deriva-se do “protesto” entregue por uma minoria de autoridades luteranas e reformadas na Dieta Imperial Alemã em Speyer em 1529, numa dissidência causada por uma ordem imposta que proibia a renovação religiosa. O “protesto” era, ao mesmo tempo, uma objeção, um apelo e uma afirmação. Perguntava em tons urgentes: “Qual é a igreja verdadeira e santa?”; e asseverou: “Não há nenhuma pregação ou doutrina segura senão aquela que permanece fiel à Palavra de Deus. Segundo mandamento divino, nenhuma outra doutrina deve ser pregada. Todo texto das santas e divinas Escrituras deve ser elucidado e explicado por outros textos. Esse Livro Santo é necessário, em todas as coisas, para o cristão; brilha claramente na sua própria luz e é vista iluminando as trevas. Estando resolutos, pela graça de Deus e com a Sua ajuda, a permanecermos exclusivamente na Palavra de Deus, no santo evangelho contido nos livros bíblicos do Antigo e do Novo Testamento. Somente essa Palavra deve ser pregada, e nada que seja contrário a ela. É a única verdade. É o juiz certo de toda doutrina e conduta cristã. Não pode nos enganar nem lograr”.

Desse modo, os luteranos e outros defensores da reforma passaram a ser conhecidos como protestantes. A palavra tinha, originalmente, um sentido de “confissão resoluta, declaração solene”, tomando o partido da verdade do evangelho contra a corrupção romana. “Essencialmente, o protestantismo é um apelo a Deus em Cristo, às Sagradas Escrituras e à Igreja Primitiva, contra toda a degeneração e apostasia”. O estreitamento da palavra “protestante” para significar anti- ou não-romano tem levado alguns a preferirem “evangélico” (embora na Europa continental essa palavra normalmente designe os luteranos) e “reformado” (geralmente mais usada para os presbiterianos calvinistas).


PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS

Os princípios fundamentais do protestantismo do século XVI eram os seguintes: sola scriptura, solus christus, sola gratia, sola fides, soli Deo gloria, a igreja como o povo que crê em Deus e o sacerdócio universal dos fieis.

Vejamos resumida e separadamente cada um desses princípios da Reforma Protestante:


SOLA SCRIPTURA

Só a Escritura é a regra inerrante da vida da igreja, mas a igreja evangélica atual fez separação entre a Escritura e sua função oficial.

Em tese, Sola Scriptura, significa reafirmar a Escritura como única fonte de revelação divina escrita, única para constranger a consciência. A Bíblia sozinha ensina tudo àquilo que é suficiente e necessário para nossa salvação do pecado, e é o padrão pelo qual todo comportamento cristão deve ser avaliado.

Esse princípio nega qualquer credo, concílio ou indivíduo possa constranger a consciência de um crente, que o Espírito Santo fale independentemente de, ou contrariando, o que está exposto na Bíblia, ou que a experiência pessoal possa ser veículo de revelação.

No Sola Scriptura, acredita-se na liberdade da Escritura para dominar como a Palavra de Deus na igreja, desembaraçada do magisterium (magistrados) e tradição papais e eclesiásticos. A Escritura é a única fonte da revelação cristã. Embora a tradição possa ajudar a sua interpretação, seu significado verdadeiro (i.e., espiritual) é seu sentido natural (i.e., literal), e não um significado alegórico.


SOLO CHRISTUS

À medida que a fé evangélica se secularizou, seus interesses se confundiram com os da cultura. O resultado é uma perda de valores absolutos, um individualismo permissivo, a substituição da santidade pela integridade, do arrependimento pela recuperação, da verdade pela intuição, da fé pelo sentimento, da providência pelo acaso e da esperança duradoura pela gratificação imediata. Cristo e sua cruz se deslocaram do centro de nossa visão.

Em tese, Solus Christus é reafirmar que nossa salvação é realizada unicamente pela obra mediatória do Cristo histórico. Sua vida sem pecado e sua expiação por si só são suficientes para nossa justificação e reconciliação com o Pai.

Esse princípio nega que o Evangelho esteja sendo pregado se a obra substitutiva de Cristo não estiver sendo declarada e a fé em Cristo e sua obra não estiver sendo invocada.


SOLA GRATIA

A Confiança desmerecida na capacidade humana é um produto da natureza humana decaída. Esta falsa confiança enche hoje o mundo evangélico – desde o evangelho da auto-estima até o evangelho da saúde e da prosperidade, desde aqueles que já transformaram o evangelho num produto vendável e os pecadores em consumidores e aqueles que tratam a fé cristã como verdadeira simplesmente porque funciona. Isso faz calar a doutrina da justificação, a despeito dos compromissos oficiais de nossas igrejas.

A graça de Deus em Cristo não só é necessária como é a única causa eficaz da salvação. Confessamos que os seres humanos nascem espiritualmente mortos e nem mesmo são capazes de cooperar com a graça regeneradora.

Em tese, Sola Gratia é reafirmar que na salvação somos resgatados da ira de Deus unicamente pela sua graça. A obra sobrenatural do Espírito Santo é que nos leva a Cristo, soltando-nos de nossa servidão ao pecado e erguendo-nos da morte espiritual à vida espiritual.

Esse princípio nega que a salvação seja em qualquer sentido obra humana. Os métodos, técnicas ou estratégias humanas por si só não podem realizar essa transformação. A fé não é produzida pela nossa natureza não-regenerada.

A redenção como dom gratuito de Deus, realizada pela morte e ressurreição salvíficas de Cristo. Essa verdade foi articulada principalmente em termos paulinos, tais como a justificação somente pela fé, como consta na Confissão de Augsburgo: “Não podemos obter o perdão do pecado e a justiça diante de Deus pelos nossos próprios méritos, obras ou penitências, mas recebemos o perdão do pecado e nos tornamos justos diante de Deus pela graça, por causa de Cristo, mediante a fé, quando cremos que Cristo sofreu por nós e que por Sua causa o nosso pecado é perdoado e recebemos a justiça e a vida eterna”. A certeza da salvação, portanto, é uma marca distintiva da fé protestante, fundamentada na promessa do evangelho e desvinculada de qualquer busca de mérito.


SOLA FIDE

A justificação é somente pela graça, somente por intermédio da fé, somente por causa de Cristo. Este é o artigo pelo qual a igreja se sustenta ou cai. É um artigo muitas vezes ignorado, distorcido, ou por vezes até negado por líderes, estudiosos e pastores que professam ser evangélicos. Embora a natureza humana decaída sempre tenha recuado de professar sua necessidade da justiça imputada de Cristo, a modernidade alimenta as chamas desse descontentamento com o Evangelho bíblico. Já permitimos que esse descontentamento dite a natureza de nosso ministério e o conteúdo de nossa pregação.

Em tese, Sola Fide é reafirmar que a justificação é somente pela graça somente por intermédio da fé somente por causa de Cristo. Na justificação a retidão de Cristo nos é imputada como o único meio possível de satisfazer a perfeita justiça de Deus.

Esse princípio nega que a justificação se baseie em qualquer mérito que em nós possa ser achado, ou com base numa infusão da justiça de Cristo em nós; ou que uma instituição que reivindique ser igreja mas negue ou condene sola fide possa ser reconhecida como igreja legítima.


SOLI DEO GLORIA

Deus não existe para satisfazer as ambições humanas, os desejos, os apetites de consumo, ou nossos interesses espirituais particulares. Precisamos nos focalizar em Deus em nossa adoração, e não em satisfazer nossas próprias necessidades. Deus é soberano no culto, não nós. Nossa preocupação precisa estar no reino de Deus, não em nossos próprios impérios, popularidade ou êxito.

Em tese, Soli Deo Gloria é reafirmar que, como a salvação é de Deus e realizada por Deus, ela é para a glória de Deus e devemos glorificá-lo sempre. Devemos viver nossa vida inteira perante a face de Deus, sob a autoridade de Deus, e para sua glória somente.

Esse princípio nega que possamos apropriadamente glorificar a Deus se nosso culto for confundido com entretenimento, se negligenciarmos ou a Lei ou o Evangelho em nossa pregação, ou se permitirmos que o afeiçoamento próprio, a auto-estima e a auto-realização se tornem opções alternativas ao evangelho.


A IGREJA COMO O POVO QUE CRÊ EM DEUS

Constituída não apenas pela hierarquia, sucessão ou instituição, mas pela eleição e chamada divinas em Cristo mediante o evangelho. Nas palavras da Confissão de Augsburgo, é “a assembléia de todos os crentes onde o evangelho é pregado na sua pureza e os santos sacramentos são administrados de acordo com o evangelho”. Os sacramentos ordenados por Cristo são apenas dois – o batismo e a ceia do Senhor – e podem ser chamados “palavras visíveis”, refletindo a primazia da pregação dentro da convicção protestante.


O SACERDÓCIO DE TODOS OS CRENTES

A liberdade privilegiada de todos os batizados de comparecerem diante de Deus em Cristo “sem intermediários humanos patenteados” e sua chamada para serem transmissores de julgamento e graça como “pequenos Cristos” aos seus vizinhos. O pastor e o pregador diferem dos outros cristãos pela sua função e nomeação, e não por status espiritual. (Este princípio fundamental tem sido esquecido pelo protestantismo posterior, talvez mais do que qualquer outros desses princípios).

A Santidade de Todos os Chamados ou Vocações: a rejeição das distinções medievais entre o secular e o sagrado ou “religioso” (i.e., monástico) com depreciação daquele, e o reconhecimento de todas as maneiras de ganhar a vida como vocações divinas. “As obras dos monges e dos sacerdotes, aos olhos de Deus, não são de modo algum superiores ao trabalho do agricultor no campo, nem ao serviço de uma mulher que cuida do seu lar” (Lutero). Nenhum chamado é intrinsecamente mais cristão do que outro – uma percepção que é obscurecida por frases tais como “o sagrado ministério”.


FONTE BIBLIOGRÁFICA:

ELWELL, Walter A. Enciclopédia Histórico-Teológica da Igreja Cristã. [Tradução Gordon Chown]. São Paulo: Edições Vida Nova, reimpressão em 1993. Volumes 3 (pp. 194-195).

Os Cinco Solas da Reforma - Sola Scriptura, Sola Christus, Sola Gratia, Sola Fide, Soli Deo Gloria, por Declaração de Cambridge. In: http://www.monergismo.com.

MATOS, Alderi Souza de. Aspectos Essenciais Da Identidade Reformada. In: http://www.monergismo.org

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10/29/2010

A ENCARNAÇÃO DO VERBO - ÚLTIMA POSTAGEM

Postado por Luís Filipe de Azevedo


O PRIMEIRO HOMEM (ADÃO) E O SEGUNDO HOMEM (ADÃO)

DE 1Cor. 15.47

"O primeiro homem era do pó da terra; o segundo homem, dos céus". NVI

"O primeiro homem, sendo da terra, é terreno, o segundo homem é do céu". ECA


Debruço sobre esse texto para estudá-lo, não como uma pessoa irreverente, impaciente e imprudente que pretende desafiar alguém para uma batalha, mas o faço com temor e tremor, como quem aprecia um texto poético e que necessita possuir um coração adequado a perscrutar (tentar conhecer, procurar penetrar no segredo das coisas) o sentido mais especial para o belo e subjetivo entendimento do Sagrado. Todo filósofo, necessita ter uma verve filosófica para o estudo da filosofia. Todo cientista, necessita ter um espírito científico apurado para desenvolver-se bem dentro do estudo da ciência. Assim, é da maior importância que o intérprete bíblico, aquele que irá observar, estudar, interpretar e aplicar as Escrituras Sagradas à sua vida e à dos outros, tenha um coração respeitoso, dócil, paciente, e, sobretudo, amoroso para com a Palavra de Deus, afim de que sua interpretação seja devidamente proveitosa e que reflita uma boa compreensão da revelação do Eterno. Tentarei respoder algumas perguntas com base no texto em suspensão.


Jesus veio realmente num corpo humano de carne, ou apenas em sua semelhança?

O texto de 1Coríntios 15.47 oferece, ao que parece, um ponto obscuro ou de dificuldade de interpretação quando lido singularmente. Em tais casos, seguindo a recomendação dos grandes eruditos da hermenêutica bíblica, a única coisa a fazer é lembrarmo-nos da regra fundamental da interpretação bíblica e observarmos alguns princípios básicos de interpretação, para que nosso trabalho resulte numa reflexão cuidadosa e correta da passagem em estudo.

Pois bem, a regra fundamental, a regra das regras, é esta: A Escritura explicada pela Escritura, ou seja: a Bíblia, sua própria intérprete. Regra que nos conduz aos cinco princípios básicos de interpretação bíblica. São eles:

Primeiro, é preciso, o quanto seja possível, tomar as palavras em seu sentido usual e comum;

Segundo, é de todo necessário tomar as palavras no sentido que indica o conjunto da frase;

Terceiro, é necessário tomar as palavras no sentido indicado no contexto, a saber, os versículos que precedem e seguem ao texto que se estuda;

Quarto, é preciso levar em consideração o objetivo ou desígnio do livro ou passagem em que ocorrem as palavras ou expressões obscuras.

Quinto, É necessário consultar as passagens paralelas, "explicando cousas espirituais pelas espirituais" (1 Cor. 2:13, original). Paralelos de palavras, idéias, ensinos gerais, linguagens figuradas, etc.

Nessa perspectiva é que pretendo analisar o texto de 1Cor 15.47.

A problemática gira em torno do mesmo assunto tratado por Paulo em Romanos 8.3. Lá, o apóstolo afirma que Jesus veio "em semelhança de carne pecaminosa", mas não declara que Ele é feito de carne humana, ainda que a Bíblia cite repetidas vezes o fato de Jesus ter sido encarnado, isto é, ter se feito carne humana, ou seja, de ser verdadeiramente humano, não apenas semelhante a um humano.

Norma L. Geisler, em seu livro Manual popular de dúvidas, enigmas e “contradições” da Bíblia, traduzido por Milton Azevedo Andrade e publicado em São Paulo pela editora Mundo Cristão, no ano de 1999, apresnta uma possível solução encontrada na Bíblia, a de que Jesus não foi apenas semelhante aos homens - ele foi um homem (ver. explicação de Rm 8.3).

Transcrevo abaixo parte do comentário de Geisler:

Ele não veio só em semelhança à carne humana, mas veio com um corpo de carne realmente humana. Nesse ponto as Escrituras são claras. João declarou: "E o Verbo [Cristo] se fez carne e habitou entre nós" (Jo 1:14). Posteriormente ele advertiu que todo aquele que não confessa "que Jesus Cristo veio em carne" não é de Deus (1 Jo 4:2-3; cí 2 Jo 7). De igual forma, Paulo insistiu que "Deus se manifestou em carne" (1 Tm 3:16, SBTB).

Concordando com o mesmo pensamento, descobrimos que noutras partes, nesse mesmo livro, Paulo se utiliza da mesma expressão "semelhança" no sentido de "ser realmente como", não como apenas tendo a "aparência de ser como" (Rm 1:23; 5:14; 6:5). Assim, bem pode ser que Paulo não estivesse fazendo diferenciação entre "semelhança" e "tal como". Ou, quando Paulo afirmou (em Romanos 8:3) que Jesus veio "em semelhança de carne", talvez ele não estivesse se referindo à carne humana como tal, mas à "carne humana pecaminosa". Jesus tinha verdadeiramente carne humana, mas sua carne era apenas semelhante à carne humana pecaminosa, porque ele não tinha pecado (Hb 4:15; 1 Pe 3:18; 1 Jo 3:3).

De qualquer modo, em Filipenses 2, Paulo fala de Cristo como quem se torna "em semelhança de homens", com o sentido de que ele era um ser humano (v. 7). Assim, mesmo sem o adjetivo "pecaminosa" (colocado após "carne" em 8:3), Paulo fala da "semelhança" aos homens como sendo o mesmo que "ser humano".

Como verificamos acima, o grande teólogo Norman L. Geisler analisa o texto de Romanos 8.3 respeitando os princípios da boa interpretação. E vejo desnecessário quaisquer comentário de minha parte sobre suas considerações sobre o tema em destaque. Vamos ao texto principal.


Qual o verdadeiro significado de 1Coríntios 15.47?

Aplicando a terceira regra básica acima citada, que mostra ser vital a análise do contexto, os versículos que precedem e seguem ao texto em estudo, descobrimos já de pronto que se trata de uma abordagem escatológica apresenta aos crentes de Corinto sobre a ressureição dos mortos. Desde o verso 1 até ao verso 58 do capítulo 15, Paulo está falando sobre esse tema. Ele começa falando da ressurreição de Cristo como penhor, isto é, garantia da nossa ressurreição (vs. 1-28); depois, ele fala da ressurreição em relação à vida prática da igreja (vs. 29-34); continua, dizendo que os mortos terão corpo (vs. 35-49); e conclui assegurnado-nos de que os vivos serão transformados (vs. 50-58).

Perceba que, conforme o recorte feito acima do texto de 1Cor. 15, o verso 47 está incluso no bloco de versículos que fala do corpo da ressurreição. Observemos que o versículo 35 levanta duas perguntas: “Como ressuscitam os mortos? Com que espécie de corpo virão?” De modo que o texto que segue pretender tratar da resposta a essas duas perguntas retóricas levantadas pelo próprio apóstolo Paulo.

O versículo 44 reponde à uma outra pergunta delimitadora: O corpo ressurreto é material ou não material? E, aplicando os pricípios da boa interpretação, podemos alistar pelo texto sagrado, que é a maior autoridade aqui, as seguintes verdades bíblicas:

a) Que o texto está mostrando a natureza do corpo humano antes da ressurreição e depois da ressurreição;

b) Que o corpo anterior à ressurreição é terrestre - limitado (v. 40), corruptível (v. 42), fraco (v. 43), mortal (v. 53) e natural (v. 44) à semelhança do corpo do primeiro Adão;

c) Que o corpo ressurreto é um "corpo espiritual" (v.44), celestial, incorruptível, poderoso, imortal e ou sobrenatural, assim como o corpo do Segundo Adão, Cristo, depois da referida ressurreição.

O que se pode concluir da passagem estudada é que em nenhum momento, ela trata da vida de Jesus enquanto homem aqui antes da ressurreição, mas apenas sobre o seu corpo depois da ressurreição. Não podemos, então, tomar esse texto para afirmar que Jesus Cristo é um homem celestial diferente de nós, se referindo a natureza humana de Jesus antes da ressurreição, porque não é desse tema que o texto está tratando. Os termos Primeiro Adão e Segundo Adão são usados aqui, específica e exclusivamente, aos corpos de Adão ( representante do homem antes da ressurreição) e de Cristo (representante dos salvos e ressurretos). Cristo está sendo representado aqui como o Último Adão: as primícias dos que dormem, mas que serão ressucitados. Na verdade, essa referência trata-se do primeiro emprego da analogia de Adão a Cristo (ver. 15.3-5). Da mesma maneira que a colheita corresponde às primícias e delas flui, assim os que morreram em Cristo, serão ressuscitados.

Paulo anuncia um duplo paralelismo no contexto que confirma essa relação semântica (de sentido):

Visto que a morte veio por meio de um só homem, (v. 21a)

também a ressurreição dos mortos veio por meio de um só homem (v. 21b)

Pois da mesma forma como em Adão todos morrem, (v. 22a)

em Cristo todos serão vivificados (v. 22b).


O contraste final nos versos 48 e 49, entre o “terreno” e o “celestial”, sugerem que os versículos 42-44 referen-se à distinção entre o corpo humano que é terreno e o corpo humano que é celestial. Discussão que envolve, não propriamente dito a substância dos corpos, mas, sim, o fator tempo, isto é, que a presente era má é contrastada com a vindoura. Ora vem Senhor Jesus!! Para que nossa redenção seja completamente consumada pela ressurreição dos corpos daqueles que já partiram ou a transformação daqueles que estiverem vivos para vê-Lo naquele Grande Dia!!

Assim, como trouxemos a imagem do Primeiro Adão, o corpo corruptível por termos nascido, carregaremos, por pertencermos a Cristo, a imagem do Segundo Adão (v. 49).

Com essa postagem, termino a minha série sobre a ENCARNAÇÃO DE CRISTO. Gostaria de aproveitar e agradecer aos leitores, meus amigos e irmãos em Cristo, por visitar o meu blog e pelos comentários feitos ao longo deste estudo. Deus os abençoe!!

Em Cristo, Pr. Luís Filipe.

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10/21/2010

A ENCARNAÇÃO DO VERBO (6)

Postado por Luís Filipe de Azevedo

Continuação...


2.3. A Unidade na Pessoa de Jesus

Jesus é também singular no que diz respeito a sua pessoa. Sendo Ele Deus perfeito e Homem perfeito, não é duas pessoas ao mesmo tempo, mas duas naturezas em uma só pessoa. Ainda que seja de difícil compreensão a unificação do ser divino com o ser humano em um único ser, Jesus nos é apresentado dessa maneira nas páginas do NT. Esse é o grande mistério da encarnação de Cristo... e aqui reconheço total ignorância de explicação, pois trata-se de um mistério que alguns costumam chamar de supra racional.

A falta de referências bíblicas sobre uma dualidade existente na pessoa de Jesus já é claro indicativo que há uma unidade em torno de sua Pessoa. No entanto há textos claros sobre a deidade e a humanidade de Jesus reunidas em um único ser (Jo 1:14; Gl 4:4; I Tm 3:16; I Co 2:8).

A fé cristã enuncia este mistério desde o século cinco da seguinte forma:

"Um só e mesmo Cristo, Filho Senhor, Unigênito, que se deve confessar, em duas naturezas, inconfundíveis e imutáveis, indivisíveis e inseparáveis; a distinção de naturezas de modo algum é anulada pela união, mas pelo contrário, as propriedades de cada pessoa e natureza permanecem intactas concorrendo para formar uma só Pessoa..."

Jesus ao assumir a forma humana, adquire atributos humanos, mas não desiste de sua natureza divina (Fp 2: 6,7). Quando Paulo fala em Fp que Jesus se esvaziou assumindo a forma de servo, é da posição de igualdade com Deus que Jesus se esvazia e não da natureza divina. Assim Jesus se submete funcionalmente ao Pai e ao Espírito Santo no período da encarnação. Mantém todos os atributos divinos (Cl 2:9), mas os submete voluntária e humildemente ao Pai, não fazendo uso deles a não ser que seja esta a vontade dAquele que o enviou. Lembre-se sempre da diferença dos seguintes verbos: ser, ter e usar. Jesus nunca deixou de ser Deus; nunca deixou de ter os atributos divinos; mas, simplesmente não os usou enquanto esteve por aqui.

Também deve ficar claro que Jesus não era em algumas ocasiões humano e noutras divino, e nem mesmo um terceiro ser resultante da fusão das duas naturezas. Seus atos sempre foram humanos e divinos ao mesmo tempo. Dessa maneira a humanidade e a divindade são conhecidas de forma mais completa em Jesus Cristo. Não existe melhor fonte para conhecermos como deveria ser o ser humano do que olharmos para Jesus. Ele é o novo Adão e nEle somos feitos novas criaturas, segundo a vontade de Deus (Jo 1:12; II Co 5:17). Mas Cristo também é nossa melhor fonte para conhecermos como e quem é Deus, pois Ele nos revela de forma mais plena possível o Pai. Embora, somente os pequeninos, os humildes de espírito, e não os sábios e instruídos, são capazes de receber tal revelação:

"Ninguém jamais viu a Deus; o Deus unigênito, que está no seio do Pai, é quem o revelou" (Jo 1:8).

"Se vós me tivésseis conhecido, conheceríes também a meu Pai. Desde agora o conheceis e o tendes visto. Replicou-lhe Filipe: Senhor, mostra-nos o Pai e isso nos basta. Disse-lhe Jesus: Filipe, há tanto tempo estou convosco, e não me tens conhecido? Quem me vê a mim, vê o Pai; como dizes tu: Mostra-nos o Pai?" (Jo 14: 8,90).

“Naquela ocasião Jesus disse: “Eu te louvo, Pai, Senhor dos céus e da terra, porque escondeste estas coisas dos sábios e cultos, e as revelaste aos pequeninos” (Mt 11:25).

Jesus, Nosso Senhor, é alguém totalmente singular entre todas as pessoas que viveram e viverão na face da terra. Ele é o perfeito humano, sem pecado, dependente da vontade do Pai e submisso a ela como um servo obediente até a morte. É também verdadeiro Deus que, em honra, majestade e poder, assumiu a humanidade e do homem teve compaixão a ponto de morrer por ele, de forma que este fosse liberto do pecado, para que pudesse viver como filho de Deus. Sua obra e propósito eterno foram e serão plenamente cumpridas. Louvado seja o Senhor por ter enviado seu Filho ao mundo, para que fosse salvo todo aquele que nEle crê.

Ao Deus triúno na pessoa do Deus Filho, o Deus que se fez homem, seja a glória, a majestade e a honra, antes de todas as eras, e agora, e por todo os séculos. Amém!

Até o próximo artigo, se Deus assim permitir,

Pr. Luís Filipe.

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10/20/2010

A ENCARNAÇÃO DO VERBO (5)

Postado por Luís Filipe de Azevedo

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2. Jesus, Plenamente Homem, Totalmente Singular

Pelos tópicos acima está claro que Jesus assumiu completamente a humanidade, sujeito a todos os reveses que o estado de humanidade poderia lhe trazer, contudo Jesus não foi um homem qualquer, igual a todos os homens. Vários fatos em sua vida mostram essa santa singularidade:

2.1. O Nascimento Virginal

Jesus nasceu como todos os homens, no entanto sua concepção no ventre de Maria foi de origem divina, sem a participação do componente sexual masculino (Mt 1:18-25; Lc 1:26-38). Teologicamente chamamos a isso de concepção virginal. Maria era virgem na época da concepção e assim continuou até o momento do nascimento de Jesus. As Escrituras deixam muito claro que José não teve qualquer intercurso com Maria antes do nascimento de Jesus (Mt 1:25).

A influência sobrenatural do Espírito Santo é que tornou possível a geração de Jesus no ventre de Maria. Isso não significa que Jesus é o resultado de uma relação de Deus com Maria, longe de nós tal idéia. O que Deus fez foi providenciar, por uma criação especial, tanto o componente humano ordinariamente suprido pelo macho (e assim o nascimento ser virginal) como um fator divino ( e assim a encarnação). Assim, o nascimento de Jesus nos aponta algumas verdades essenciais no cristianismo:

Que nossa salvação é sobrenatural (Jo 1:13): a salvação não vem pelo nosso esforço ou realização.

Que a salvação é uma dádiva da Graça (Ef 2:8): assim como não houve nenhum mérito em Maria para que fosse escolhida, da mesma forma acontece conosco quando somos salvos.

2.2. A Impecabilidade de Jesus

Outra prova da singularidade de Jesus como homem é o fato de não ter pecado: "...antes foi ele (Jesus) tentado em todas as coisas, à nossa semelhança, mas sem pecado."(Hb 4:15)

A Bíblia mostra Jesus como um sumo sacerdote totalmente sem mancha e feito mais alto que os céus (Hb 7:26; 9:14). Pedro nos ensina que Jesus é o Santo de Deus (Jo 6:69) e que não cometeu pecado (II Pe 2:2). O que está de acordo com a afirmações de João, que em Jesus não existe pecado (I Jo 3:5), e as de Paulo que Cristo não conheceu pecado (II Co 5:21).

Mesmo as acusações de blasfêmia feitas a Jesus pelos judeus são infundadas (Lc 5:21), uma vez que Ele sendo Deus tinha pleno poder para perdoar os pecados. E mesmo algumas pessoas da época deixaram bem claro a inocência de Jesus:

- A esposa de Pilatos (Mt 27:19): "Não te envolvas com o sangue deste justo".

- O ladrão na cruz (Lc 23:41): "este nenhum mal fez".

- Judas, o traidor (Mt 27:4): "Pequei, traindo sangue inocente".

A Bíblia deixa claro portanto a impecabilidade de Jesus, mas isso não invalida as tentações que sofreu como algo de somenos. Foram as tentações genuínas, e embora Jesus pudesse pecar, era certo que não pecaria. Entretanto alguém poderia levantar a questão: uma pessoa que não pode cair ao ser tentado, de fato experimentou a tentação? Um famoso comentarista bíblico, Leon Morris, argumenta que uma pessoa que resiste até o fim conhece todo o poder da tentação. Dessa forma a impecabilidade aponta para uma tentação muito mais intensa que estamos geralmente acostumados a pensar e sentir. Diz Morris que "O homem que cede a certa tentação não sente todo o seu poder".

Uma outra pergunta que fica no ar é: se Jesus não pecou, Ele era realmente humano? Se respondermos não, estaremos incorrendo em gravíssima heresia, pois estamos dizendo em outras palavras que Deus criou o homem naturalmente pecador e portanto Ele é a causa do pecado e o criador de uma natureza má e corrompida. O Senhor é puro de olhos, Ele sequer pode contemplar o pecado (Hc 1:13), quanto mais ser a causa intencional de seres corrompidos pelo mesmo pecado. Não, a resposta não só não é este como a pergunta está formulada de maneira errada, pois estamos de certa forma perguntando se Jesus é tão humano quanto nós. O correto é perguntar:

Somos tão humanos quanto Jesus? Esta pergunta nos remete a verdade que não temos a humanidade em toda a sua plenitude. Não somos seres humanos genuinamente puros, assim como Jesus o foi. Do ponto de vista bíblico só houve três seres humanos completamente humanos: Adão e Eva (antes da Queda), e Jesus. Todo o restante da humanidade é apenas uma sombra da humanidade original. Nossa humanidade é totalmente conspurcada pelo pecado que tenazmente nos assedia. Somos versões inferiores da versão adâmica original. Dessa maneira Jesus não só é humano como nós, como também é mais humano. É sua humanidade que deve ser padrão para nós e não o inverso.

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10/19/2010

A ENCARNAÇÃO DO VERBO (4)

Postado por Luís Filipe de Azevedo

Continuação...

Meus queridos, em oração, leiam o seguinte texto que testemunha da humanidade de Jesus:

"E o verbo se fez carne e habitou entre nós" (Jo 1:14)

Continuando nossa série de estudos A Encarnação do Verbo, gostaria de dizer que costumamos por em pauta com freqüência a temática da divindade de Cristo e não discutir tanto o tópico sobre a humanidade de Jesus. Entretanto, este estudo é tão importante quanto aquele. Que Jesus é Deus, todos os cristãos genuínos e sinceros concordam e entendem, contudo a idéia da sua humanidade, ainda que aceita, não é corretamente entendida, e poucas vezes ensinada.

A fé cristã bíblica, confirmada pela tradição patrística, medieval e reformada, formula a natureza de Jesus como sendo plenamente divina e, ao mesmo tempo, plenamente humana. Ou seja, Deus o Filho enquanto verbo encarnado assumiu completamente a humanidade, tornando-se passível das mesmas limitações físicas e psicológicas comuns a todos os homens. E, torna-se tão fundamental concordarmos com isso, pois, uma vez que estávamos separados de Deus pelo pecado, foi necessário que o próprio Deus encarnasse para que pudéssemos voltar a ter novamente comunhão com consigo. Dessa forma, a genuinidade da divindade de Cristo garante a eficácia de sua obra realizada na cruz, e a realidade de sua humanidade garante que sua morte é aplicável a seres humanos.

Vejamos o que a Bíblia tem a nos ensinar sobre o aspecto humano da natureza de Cristo.

1. O Testemunho das Escrituras Sobre a Humanidade de Jesus

Há indicações claras na Bíblia que Jesus era uma pessoa plenamente humana, sujeito a todas as limitações comuns à raça humana, embora sem pecado. Como tal nasceu como todo ser humano nasce. Mesmo que sua concepção tenha sido diferente, sem a participação de um ser humano masculina, todos os outros estágios de crescimento foram idênticos ao de qualquer ser humano normal, tanto física como intelectual e emocional. Também no sentido psicológico, era genuinamente humano, pois pensava, raciocinava, se emocionava, como todo ser humano normal. Uma das respostas que costumo dar aos meus alunos quando me perguntam sobre a infância e adolescência de Jesus é esta: “Ele deve ter tido uma vida tão normal nesta época, que acharam melhor nem registrá-la”. Claro que reflete minha total ignorância sobre o assunto por ser uma resposta baseada no silêncio escriturístico, mas corrobora com o testemunho das Escrituras sobre a humanidade de Jesus, que na minha concepção bíblica foi genuinamente homem. E por algumas razões:

1.1. Possuía Natureza Física.

a) Comprovada por Seu nascimento (Lc 2: 6,7): Jesus não desceu dos céus, e sim nasceu de uma mulher humana, passando por todas as fases que uma criança normal passaria. Ele nasceu assim como nascem todos os bebês humanos.

b) Comprovada por Sua árvore genealógica (Lc 3: 23-38; Mt 1:1-17): a Bíblia deixa evidente portanto que Jesus teve, por parte de Maria, ancestrais humanos, dos quais provavelmente herdou características genéticas, como todos os homens o recebem de seus antepassados.

c) Comprovada por Seu crescimento (Lc 2:52): cresceu como toda criança normal cresceria, alimentada por comida e água. Seu corpo não era sobre-humano, e não tinha características especiais, diferentes de qualquer ser humano normal. Ele passou da infância para a maturidade assim como crescem todas as outras crianças: “Crescia o menino e se fortalecia, enchendo-se de sabedoria; e a graça de Deus estava sobre ele” (Lc 2.40).

d) Comprovada por Suas limitações físicas: em tudo idênticas aos de um ser humano.

Sentia fome (Mt 4:2; Mc 11:12).

Sentia sede (Jo 19:28)

Ficava cansado (Jo 4:6)

Sofria a dor (Jo 18:22; 19: 2,3)

e) Comprovada por Sua percepção pelos homens (I Jo 1:1; Mt 9: 20-22; 26:12; Jo 20: 25,27): Jesus de fato foi visto e tocado pelos homens a sua volta. Não era um espírito com a forma humana, nem um fantasma, mas um homem real, a ponto de Tomé só acreditar em sua ressurreição após tocá-lo. Mesmo o testemunho do Espírito de Deus afirma que Jesus tomou plenamente a forma humana (I Jo 4: 2,3a).

f) Comprovada por Sua morte (Lc 23: 46; Jo 19: 33,34): Jesus Podia morrer, como de fato morreu. Sua morte não foi aparente, mas verdadeira. Seu corpo sucumbiu aos sofrimentos infligidos e de fato expirou à semelhança de todos os homens. Esta é talvez a suprema identificação de Jesus com a humanidade, pois sendo Deus não deveria morrer, mas ao assumir plenamente a humanidade, torna-se sujeito a possibilidade da morte. Eis uma verdade tremenda e profunda.

1.2. Possuía Natureza Psicológica e Intelectual

a) Comprovada pelo Seu Caráter Emotivo:

Ele sentia emoções (Mt 9:36; 14:14; 15:32; 20:34): ainda que sentir emoções não seja uma prova da humanidade de Jesus, uma vez que Deus também se emociona, elas demonstram a plena humanidade de Cristo, como também deixam claro algumas reações tipicamente humanas.

Ele sentia tristeza e angústia (Mt 26:37)

Ele sentia alegria (Jo 15:11; 17:13; Hb12:2)

Ele sentia indignação (Mc 3:5; 10:14)

Ele sentia ira (Mt 21: 12,13)

Ele se surpreende (Lc 7:9; Mc 6:6): Jesus se mostra genuinamente surpreso perante a fé do centurião e se admira da incredulidade dos habitantes de Nazaré. Não era uma atitude falsa ou de retórica, Jesus realmente era surpreendido em algumas circunstâncias.

Ele se sente atormentado (Mc 14:33): no Getsêmani Jesus foi tomado de grande angústia e pavor. Estava em conflito íntimo e se atormenta pelo fato de não querer ser deixado só, contudo ainda assim escolhe fazer a vontade do Pai. Mesmo na cruz, sua frase "Deus meu, Deus meu, por que me desamparaste?" (Mc 15:34), é uma das expressões mais humanas de solidão já registradas na história dos homens.

Ele se comove e chora (Jo 11:33,35,38): Mesmo sabendo de antemão que Lázaro havia morrido, Jesus é tomado de comoção e chora ao ver a tristeza ao seu redor e a triste realidade humana da morte. A expressão "agitou-se no espírito", retrata vividamente alguém gemendo no íntimo, aflito e comovido com uma situação que trás dor e cansaço.

b) Comprovada pelo Seu Caráter Intelectual:

Seu conhecimento era superior ao dos homens: em termos intelectuais, Jesus possuía um conhecimento que se destacava em relação aos outros homens. Ninguém na História Humana disse palavras tão belas, de grande profundidade e de maior alcance. Não só isso, Jesus deu claras demonstrações de um conhecimento além da capacidade humana. Sabia o que pensava os seus amigos e inimigos(Lc 6:8; 9:47). Conhecia coisas sobre o presente, pois sabia que Lázaro estava morto (11:14), o passado, uma vez que conhecia o fato da mulher samaritana ter tido cinco maridos (Jo 4:18) e o futuro das pessoas, ilustrado no fato de antemão ter avisado a Simão Pedro de sua negação (Lc 22:33).

Seu conhecimento não era ilimitado: em algumas passagens vemos Jesus fazendo perguntas retóricas afim de reforçar algum ensinamento (Mt 22: 41-45), contudo há outras passagens em que Jesus pergunta sinceramente em busca de informações às quais não possuía. Um exemplo claro foi o caso do garoto acometido de um espírito de surdez e mudez, onde Jesus pergunta ao pai dele "Há quanto tempo isto lhe sucede?" (Mt 9: 20,21). Há nesta passagem uma clara alusão que Jesus não tinha tal informação, e a julgava útil e necessária para promover a restauração daquele garoto. Um outro caso ainda mais explícito foi no discurso apocalíptico em Mc 13:32, quando ao ser interpelado sobre quando voltaria uma segunda vez, Jesus respondeu francamente: "Mas a respeito daquele dia ou da hora ninguém sabe; nem os anjos no céu, nem o Filho, senão o Pai". Foi uma declaração clara de sua falta de conhecimento sobre essa informação.

c) Comprovada pelo Seu Caráter Religioso:

Participava regularmente dos cultos na sinagoga (Lc 4:16): era de seu costume ensinar nas sinagogas e visitar e participar dos cultos no templo quando estava em Jerusalém. Humanamente mantinha um padrão de vida religioso irrepreensível quanto aos parâmetros de Deus.

Mantinha uma vida de oração (Lc 6:12; 22: 41,42; Jo 6:15): várias ocasiões vemos Jesus sair para orar sozinho ou em grupo. Sua dependência humana do Pai era total e a oração era uma prova disso. Em todas as coisas Jesus se mostrou plenamente humano, tanto no aspecto físico, como no mental. Não havia dúvidas para os autores do NT que Jesus era plenamente homem.

Espero ter contribuído com a resumida explicação sobre o assunto em suspensão... até o próximo texto da série,

Pr. Luís Filipe.

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10/18/2010

A ENCARNAÇÃO DO VERBO (3)

Postado por Luís Filipe de Azevedo

Continuação...

Outras duas escolas teológicas com suas concepções que se destacam são:


Os Arianos

Como se vê pelo nome, os arianos são discípulos de Ário, presbítero alexandrino que viveu no século III d.C. Geo. P. Fisher, em seu livro “História da Doutrina Cristã”, resume o posicionamento dos arianos a respeito de Cristo:

Os arianos propunham a opinião de que no caso do Cristo preexistente, geração não deve ser diferenciada de criação. Ele é o primeiro dos seres criados, através de quem todas as outras coisas são feitas. Em antecipação da glória que haveria de ter o final, Ele chamado Logos, o Filho, o Unigênito. Pode ser chamado de Deus, apesar de não ser Deus na realidade plena subentendida pelo termo. Ele principiou a ser, não falando estritamente do tempo, mas antes do tempo, já que o tempo principia com a criação; no entanto, Ele principiou a ser a partir do não existente através de um ato momentâneo da vontade de Deus. Antes disto, Ele não era. [i]

É importante frisar que, este posicionamento ariano, vem sendo adotado por muitas pessoas, principalmente os Testemunhas de Jeová.

Seus ensinos talvez sejam mais bem entendidos se listados em oito declarações que se encaixam logicamente:

· A característica fundamental de Deus é a solidão. Ele existe sozinho;

· Dois poderes habitam em Deus: o Verbo e a Sabedoria

· A criação foi levada a efeito por uma substância independente, que Deus criou;

· O Filho não é verdadeiramente Deus;

· O Filho é uma criação perfeita do Pai;

· A alma de Crista foi substituída pelo Logos;

· O Espírito santo é uma terceira substância criada.

O Monarquianismo

Surgiu aproximadamente nos século II e III a.D., com o esforço que alguns estudiosos fizeram, através de discussões, para preservar a herança do monoteísmo judaico concernente a Deus. Esse posicionamento radical contra a idéia de que existia uma trindade divina constituída por Deus Pai, Deus Filho e Deus Espírito Santo. Eles diziam que defender isso era o mesmo que acreditar num triteísmo, isto é, na existência de três deuses. O monarquinismo foi dividido pelos estudiosos em dois grupos: o “dinâmico” e o “modalista”. Este compreendia o Pai, o Filho e o Espírito Santo como sendo três respectivos modos de manifestações de um único Deus existente, qual se manifestou no inicio como Pai, depois como Filho (humanizando-se) e finalmente como Espírito Santo. Esse grupo, dá origem também à uma corrente teológica que afirma que foi o próprio Deus que morreu na cruz do Calvário, o “patripacionismo”. Já o dinâmico, negava veementemente a divindade de Cristo, dizendo que ele era um homem comum, até o dia do seu batismo, onde recebeu duas bênçãos especiais, a adoção como filho, e o revestimento do “poder” (gr. dynamis, dinâmico).

O monarquianismo, portanto, não conseguiu difundir com muito sucesso suas idéias da divindade, sofrendo resistência da Igreja Antiga, que afirmava não ter base nas Escrituras esses posicionamentos teológicos.

Como podemos ver, essas concepções acerca da natureza de Cristo, se diferem em algumas coisas, mas são basicamente similares. Uma nega que Jesus era Deus, outra que Jesus era homem, há outra que nega que Jesus era plenamente Deus e ainda outra que nega que Jesus era plenamente homem. Porém, todas essas idéias são rejeitadas pelas Escrituras.

Afinal, Jesus é verdadeiro homem, ou verdadeiro Deus, uma pessoa ou duas pessoas? Qual será a concepção correta e bíblica sobre a pessoa de Jesus e sua natureza?

Verdadeiramente, é difícil explicar com exatidão de conteúdo e argumento essa doutrina, mas de uma coisa temos certeza, Jesus Cristo quando viveu aqui na terra era tanto homem como Deus, era homem-Deus e Deus-homem. Para entendermos melhor, estaremos desenvolvendo a natureza da encarnação adiante e pondo em discussão a realidade do Cristo que se esvaziou de sua glória e majestade para se tornar um humano como eu e você, mesmo que sem pecado, haja vista ser esta a natureza humana ideal e perfeita criada por Deus no Édem.

Até mais...



[i] THIESSEN, Henry Clarence, Palestras em Teologia Sistemática, 1987, Editora Batista Regular do Brasil, pág 202.

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10/17/2010

A ENCARNAÇÃO DO VERBO (2)

Postado por Luís Filipe de Azevedo

Antes de entrarmos no assunto propriamente dito, é mister considerar a extrema necessidade de um estudo de algumas opiniões a propósito da pessoa de Jesus. Faremos, um breve levantamento dessas opiniões e perceberemos as variadas e controversas concepções sobre o “Jesus histórico”, esse humano que é Deus, esse Deus que é homem. Vejamos as que mais se destacam:

Os Ibionitas

Esse grupo tinha como título um nome que no original hebraico significa “os pobres” ou “os indigentes”. Eram judeus cristãos apegados aos cerimoniais mosiacos. Na verdade, formavam ema seita difusora de heresias. Divididos em dois grupos, os mansos e os rígidos, eles negavam a realidade da natureza divina de Jesus, considerando-o simplesmente um homem comum como os outros, possuidor de dons e virtudes incomuns, mas não sobre-humanas ou sobrenaturais.

Rejeitavam o nascimento de Jesus por meio de Maria (virgem) somente. Para eles, Jesus nascera do relacionamento sexual natural de um casal.

Acreditavam que foi no batismo que Jesus foi revestido do Cristo, como que por uma influência e não como por uma fusão na personalidade. Dizem que, na cruz foi retirado o Cristo de Jesus, para que este último, individualmente, sofresse e padecesse até a morte, visto que o Cristo não poderia morrer, porque Deus não morre.

O que se entende dessa concepção é que Jesus para eles foi mero homem com poderes e virtudes incomuns. Não era Deus, pois defendiam o monoteísmo (um só Deus).

Os Gnósticos

Estes foram contemporâneos dos ibionitas e havia pelo menos três classes deles: os Docetas (original dokeo, “parecer”), que negavam a realidade do corpo de Cristo; os que criam no seu corpo como realidade, mas negavam sua materialidade e os que acreditavam que Cristo e Jesus eram, ou são, duas pessoas totalmente distintas.

Os gnósticos afirmavam que Jesus não possuía corpo físico porque, tendo Ele corpo, logo poderia se afirmar que tinha pecado, visto que a matéria é inerente à maldade e ao pecado. Porém, há um texto bíblico que por si só refuta esse argumento gnóstico: “E, visto como os filhos participaram da carne e do sangua, também ele participou das mesmas coisas, para que, pela morte, aniquilasse o que tinha o império da morte, isto é, o diabo,...”(Hb 2.14).

Até o próximo texto da série...

Pr. Luís Filipe

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10/16/2010

A ENCARNAÇÃO DO VERBO (1)

Postado por Luís Filipe de Azevedo

“E o verbo se fez carne e habitou entre nós, e vimos a sua glória, como a glória do Unigênito do Pai, cheia de graça e verdade”.

João 1.14

Porque Jesus teve que se tornar humano como nós? Como Ele pode ser plenamente homem e Deus ao mesmo tempo, sendo, todavia, uma só pessoa? Cristo precisou esvaziar-se de seus atributos divinos para se tornar um humano?

Essas perguntas refletem a importância de se abordar o tema “a encarnação de Cristo”, tanto para a comunidade cristã, bem como para o meio acadêmico–teológico, como fonte de pesquisas para maior amplitude de conhecimentos no que tange ao tema da Cristologia bíblica.

O evangelista João nos ajuda a resumir básica e biblicamente a seguinte verdade: “quando peregrinou por aqui, Jesus era plenamente divino e plenamente humano, mesmo sendo uma só pessoa”. Jesus se dizia Filho de Deus e Filho do Homem (Jo 1.48-51). Isso quer dizer, que Ele não era apenas divino, Filho de Deus, nem era apenas humano, Filho do Homem, como já disse, as duas naturezas habitavam nele ao mesmo tempo, logo, podemos chamá-lo de Deus–homem, Deus–encarnado, humanizado.

Se Jesus fosse somente Deus, Ele jamais poderia ser visto pelos homens como foi, estes não suportariam contemplá-lo na plenitude de sua glória. Se Jesus fosse somente homem, não teria realizado tantos milagres e mostrado sinal de poderio sobre a natureza. Não transformaria água em vinho; não faria do mar chão para seus pés andarem; não multiplicaria cinco pães e dois peixes pequenos a ponto de mais de dez mil pessoas comerem e até sobrar; não ressuscitaria o filho da viúva de Naim, nem Lázaro, nem a filha de Jairo. Porém, como era homem e Deus ao mesmo tempo, pode realizar todas essas coisas e muito mais.

“O verbo se fez carne”, se fez homem, humanizou-se de fato, e a compreensão dessa verdade abrange vários posicionamentos que se desenvolveram num ambiente de muitas controvérsias. E é partindo desse pré–suposto, que vamos abordar o tema.

Vemos no texto bíblico a razão da encarnação de Cristo, que tornou-se homem para manifestar a Sua glória aos homens, semelhante a do Deus Pai, cheia de graça e verdade. Também podemos afirmar, pela passagem de João, que Jesus não deixou de ser Deus para ser homem, isto é, não abriu mão de seus atributos divinos para se tornar homem, mas das glórias proporcionadas pela divindade, bem como do usufruto de seu poder divino para não levar vantagem sobre ninguém enquanto esteve aqui.

Por ora, é só.

Em Cristo, e aberto para discutir de modo sadio os assuntos,

Pr. Luís Filipe

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