10/05/2008

Cadê os Profetas?

Postado por Luís Filipe de Azevedo

Leia Efésios 4.11-14


Tenho aprendido que os profetas bíblicos não foram meros alto-falantes amplificadores que decodificavam o falar de Deus, mas gente envolvida com sua cultura, gente com temperamento e que exercia sua individualidade. A tarefa do profeta não se resumia em transmitir o ponto de vista divino. Ele era o referencial do povo. O profeta em Israel não vaticinava apenas. O profeta era pregador apaixonado, verdadeiro patriota, crítico social e também poeta. Os profetas sempre iniciavam suas profecias com juízo, mas as concluíam com esperança e redenção.

Os profetas não repetiam jargões, não perpetuavam o que já fora dito, mas pensavam fora dos paradigmas. Não eram convencionais. A mágica de suas palavras vinha de suas intuições, de seus inconformismos e da largura, da altura e da profundidade de seus anseios. Inúmeras vezes a linguagem dos profetas foi hiperbólica. O exagero era uma maneira de mostrar com intensidade suas angústias, seus desesperos em não se acovardarem diante do iminente fracasso nacional.

Quando leio sobre os profetas percebo nascer e crescer em mim, demasiadamente, um desejo ardente de vê-los entre nós. Bem sei e entendo que o ministério profético com autoridade canônica foi até João Batista (Mt 11.13). Sei também que o dom carismático de profecia (I Co 12) resume-se à função tríplice que Paulo nos deu em I Coríntios 14.3: edificar, exortar e consolar. Entretanto, o ministério profético que desejo ver não é legitimado por um cargo ou título, mas pelo fervor profético comprometido com a Verdade do Reino de Deus.

Vejo que igreja evangélica brasileira tem bons evangelistas, excelentes administradores e estrategistas eclesiásticos e muito "pastor"; já demonstramos até alguma busca por maturidade teológica, mas ainda somos carentes de homens e mulheres acalorados proféticamente. Homens e mulheres que corajosamente questionam a situação presente e vislumbram um futuro diferente para o povo de Deus. Profetas que gritem, para todo mundo ouvir, a favor da preservação da tradição autêntica e relevante do cristianismo, perdida ou deformada em meio a tantas “tradições” criadas para defender interesses particulares de uma minoria, legitimar poderes e sustentar sistemas.


Quais eram as funções dos profetas?

Os profetas de Israel foram chamados individualmente e ungidos por Deus para o serviço de “emergência”, em contraste com o serviço regular dos sacerdotes, anciãos e reis. Além de serem denominados “profetas” (hebraico nabi), também recebiam o nome de “videntes” (roeh ou chozeh), “sentinelas” (tsaphah) ou “pastores” (raah). Esses termos indicam suas funções ao serem chamados por Deus para interpretar e anunciar a palavra específica do Senhor para o seu povo. As funções gerais dos profetas podem ser observadas nas três seguintes classificações:

A. Porta-voz especial de Deus. O termo “profeta” (heb., nabi, e gr. Prophetes) significa “falar por” ou representar. Sua tarefa mais importante era agir como embaixador ou mensageiro divino, anunciando a vontade de Deus para o seu povo, especialmente em época de crise. Era, acima de tudo, pregador da justiça em época de decadência moral e espiritual, quase sempre numa posição isolada.

B. Vidente. A credencial de um profeta verdadeiro de Deus era a habilidade infalível de penetrar no futuro e revelá-lo (Deuteronômio 18:21-22). Essa habilidade autenticava sua mensagem como sendo divina, porquanto somente Deus conhece o futuro. Por intermédio dessa função profética Deus chamou a atenção para o seu programa futuro com relação a Israel e às nações elaborando depois o que já tinha esboçado nas alianças com os antepassados.

C. Professor da Lei e da justiça. Apesar de os sacerdotes e levitas serem normalmente os professores de Israel, os profetas também receberam essa função quando o sacerdócio degenerou (Levítico 10:11; Deuteronômio 33:10; Ezequiel 22:26). Quando ensinavam, o contexto era geralmente de julgamento (Isaías 6:8-10; 28:9-10).


Que diferença há entre o profeta e o sacerdote?

Quanto à sua obra, os profetas preocupavam-se com a justiça espiritual e a purificação do coração do seu povo. Mesmo que para isso fosse necessário falar de forma energicamente

Embora ambos fossem designados por Deus para o serviço religioso, havia entre eles algumas diferenças importantes:

A. Quanto à chamada, os profetas eram chamados e designados por Deus individualmente, ao passo que os sacerdotes eram designados em virtude da sua descendência de Arão.

B. Quanto ao cargo, os profetas eram representantes de Deus perante o povo; os sacerdotes eram representantes do povo perante Deus. Portanto, o principal lugar do ministério dos sacerdotes era o santuário, o lugar da presença de Deus, ao passo que os profetas dirigiam-se ao povo nas cidades e na zona rural.

C. Quanto à obra especial, os profetas preocupavam-se com a justiça espiritual e a purificação do coração; os sacerdotes estavam mais interessados no sistema religioso da aliança de Israel, e se complementavam.

D. Quanto ao ensino, ambos interpretavam a Lei. Como já foi observado, os sacerdotes eram professores habituais; os profetas, pregadores de reavivamento. Os sacerdotes “informavam”, os profetas “reformavam”. Os sacerdotes instruíam a mente do povo, os profetas desafiavam o arbítrio, e se pronunciavam com enérgica insistência quando a Lei era negligenciada pelos líderes e pelo povo.


Quais eram as principais classes de profetas?

Considera-se ter sido Samuel aquele que principiou a ordem profética, o primeiro duma seqüência, durante a monarquia de Israel (1 Samuel 3:1; Atos 3:24). Essa seqüência não era contínua. Prosseguia, porém esporadicamente quando o Senhor fazia a designação para esse cargo. Eram profetas da “palavra” e da “escrita”.

Profetas da palavra (acanônicos) - que apenas profetizaram e não se registrou nada sobre suas profecias.

Profetas da escrita (canônicos) - cujas palavras foram proferidas e também registradas na Bíblia Sagrada.

Quase todos os profetas da “escrita” escreveram depois de terem sido profetas da “palavra”. Principiando mais ou menos na época do expurgo do culto a Baal por Jeú, os períodos de maior concentração desses profetas foram justamente antes da destruição do reino do Norte e antes da destruição do reino do Sul. Manifestavam-se geralmente em épocas de decadência nacional e julgamento iminente. Eram, num certo sentido, a incômoda consciência da nação.


Há profetas no Novo Testamento?

Os profetas neotestamentários transmitiam revelação especial à Igreja Primitiva. Suas funções incluíam predição, exortação, encorajamento, advertência e interpretação:

At 15.32 – “Judas e Silas, que eram profetas, encorajaram e fortaleceram os irmãos com muitas palavras.”.

Além de Judas e Silas, o livro de Atos registra que as quatro filhas do evangelista Filipe também eram as profetizas, bem sobre Ágabo, profeta que predisse a prisão de Paulo em Jerusalém.

Paulo escrevendo aos Coríntios sobre o dom de profecia disse: “Mas quem profetiza o faz para edificação, encorajamento e consolação dos homens” (1Co 14.3).

A doutrina dos profetas e apóstolos do NT lançou o fundamento da Igreja (2.20), e cessaram os aspectos de sua obra relacionados a essa tarefa ímpar da revelação direta e original.
Em outras palavras entendemos o termo profeta no NT e hoje como um dom especial concedido pelo Espírito Santo mediante o qual homens e mulheres ouvem e recebem a Palavra de Deus, não como uma nova revelação, mas sim como uma compreensão renovada, contextualizada da revelação completa, a Bíblia.

Cadê os profetas? Será que Deus pode contar contigo?

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