1/24/2008

Como se Deus não existisse

Postado por Luís Filipe de Azevedo

por Ricardo Gondim

No século passado, Karl Marx e Sigmund Freud representavam duas grandes ameaças contra a religião. Marx afirmava que a igreja serve a interesses ideológicos de controle político e de subjugação econômica. Freud, por sua vez, percebia os mecanismos infantilizantes da religião quando sacerdotes projetam em Deus nosso desejo por um pai perfeito. Para ele, a prática religiosa condena homens e mulheres a viverem como eternas crianças, sempre precisando de intervenções sobrenaturais para enfrentar as agruras da vida.

É preciso dar a mão à palmatória. Os dois leram as instituições religiosas dos seus dias corretamente, principalmente a cristandade. Desde Constantino, o apelo do poder mostrou-se arrasador e irresistível nas igrejas. Infelizmente, os ensinos do Nazareno foram usados para autenticar o expansionismo imperialista e colonialista dos grandes impérios que se auto-proclamaram cristãos. Padres, pastores e bispos se vestiram como a grande prostituta do Apocalipse e se entregaram por qualquer preço. Monarcas beijaram anéis episcopais enquanto obrigavam seus donos a lamberem suas botas. Assim, os mercadejadores do templo precisaram distribuir ópio religioso para poderem fazer vista grossa e abençoar inúmeras carnificinas – dos Tsares russos ao Batista cubano; das aventuras ensandecidas de Isabel espanhola às dos Bush, pai e filho.

A adoração do “Deus provedor” ocidental deu razão a Freud, que denunciava os recintos religiosos como incubadoras de oligofrênicos. O proselitismo missionário foi feito, em grande parte, precisando de uma espiritualidade funcional. Na tentativa de mostrar a superioridade de Jeová sobre as demais divindades, criou-se um fascínio por milagres. “Nosso Deus funciona”, clamaram os evangelistas por séculos. Desse modo, o sobrenatural passou a ser compreendido como uma intervenção legitimadora daquele que é o verdadeiro “dono do pedaço”. Assim, os crentes viciados em milagres se condenaram à freudiana dependência infantil.

Em minha opinião, só seria possível resgatar a mensagem de Jesus Cristo, caso a religião abrisse mão de suas hierarquias institucionais, demitisse elites, democratizasse o acesso a Deus, e esvaziasse os rituais da função de serem técnicas para se obter bênçãos. É importante que repensemos a fé, seguindo o exemplo de Jesus que viveu sem precisar de milagres e morreu sem apelar para os anjos. Iguais a ele, precisamos viver sem os cabrestos da religião e sem as intervenções de Deus.

Concordo com John Hick em “Evil and the God of Love” (New York, Harper & Row; London, Mcmillan, 1966, p. 317)

“Ao criar pessoas finitas para amar e serem amadas por ele, Deus precisa dotá-las com certa autonomia relativa quanto a si mesmo”. Mas como pode uma criatura finita, dependente do Criador infinito quanto à sua própria existência e a cada poder e qualidade do seu ser, possuir qualquer autonomia significativa em relação a esse Criador? A única maneira que podemos imaginar é aquela sugerida pela nossa situação efetiva. Deus precisa colocar o homem à distância de si mesmo, de onde ele então pode vir voluntariamente a Deus. Mas como algo pode ser colocado à distância de alguém que é infinito e onipresente? É óbvio que a distância espacial não significa nada nesse caso. O tipo de distância entre Deus e o homem que criaria certo espaço para certo grau de autonomia humana é a distância epistêmica. Em outras palavras, a realidade e a presença de Deus não devem se impor ao homem de forma coercitiva como o ambiente natural se impõe à atenção deles. O mundo deve ser para os homens, pelo menos até certo ponto, etsi deus non daretur, “como se Deus não existisse”. Ele precisa ser cognoscível, mas apenas por um modo de conhecimento que implique uma resposta livre da parte do homem, consistindo essa resposta em uma atividade interpretativa não-compelida através da qual experimentamos o mundo como realidade que media a presença divina”.

Uma nova igreja precisa se desvincular de seu fascínio pelo poder, qualquer um: político, econômico, militar ou espiritual. Repito, urge que homens e mulheres construam sua humanidade, sendo sal da terra e luz do mundo, sem necessitar de repetidos socorros celestiais.

[Ricardo Gondim]

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1/19/2008

O Pregador e a Pregação

Postado por Luís Filipe de Azevedo


Como se deve pregar? Vamos tentar uma resposta com base nas palavras do Pe. Antônio Vieira, "o gigante da oratória sacra" como é conhecido, em seu sermão intitulado "Sermão da Sexagésima", sermão este que foi pregado na Capela Real, em Lisboa, no ano de 1655, onde ele discorre sobre a missão do semeador da Palavra de Deus.



Levando em consideração que temos em demasia nos nossos púlpitos excelente pregadores, porém sem boas pregações - se é que isso é possível! -, eu peço permissão para parafrasear Vieira pretendendo responder a seguinte pergunta: O que o pregador deve fazer para que de fato desenvolva uma pregação relevante?

O pregador...


“Há-de tomar uma só matéria bíblica”, pois a pregação não é uma colcha de retalhos bíblicos;

“há-de defini-la, para que se conheça”, pois pregação que não se utiliza de explicação do texto é como mar sem águas;

“há-de dividi-la, para que se distinga”, pois torna mais clara a mensagem;

"há-de prová-la com a Escritura”, um texto testifica de outro texto;
“há-de declará-la com a razão”, eloquência sem lógica no raciocínio gera confusão;

“há-de confirmá-la com o exemplo” a i-lus-tração traz "luz" para clarear as mentes;

“há-de amplificá-la com as causas, com os efeitos, com as circunstâncias, com as conveniências que se hão-de seguir, com os inconvenientes que se devem evitar”;

“há-de responder às dúvidas”, e daí?, o que isso tem a ver com o ouvinte contemporâneo?;

“há-de satisfazer às dificuldades”;

“há-de impugnar e refutar com toda a força da eloquência os argumentos contrários”; e depois disto,

“há-de colher, há-de apertar, há-de concluir, há-de persuadir, há-de acabar”.



Isto é sermão, isto é pregar; e tudo o que passa disto, são apenas falácias de um lugar mais alto.



Graça e Paz,


Filipe.

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1/18/2008

Lança o teu pão sobre as águas

Postado por Luís Filipe de Azevedo

A Bíblia NVI diz: “Atire o seu pão sobre as águas a, e depois de muitos dias você tornará a encontrá-lo”.

A Bíblia Pastoral diz: "Jogue seu pão sobre a aguá, porque dias depois você o encontrará".

Mas o que esse texto quer nos ensinar dentro da prática da espiritualidade cristã? Esse texto ensina que na vida é preciso ser prudente, mas também precisamos arriscar. Como só Deus conhece o mistério da vida, o discernimento ajuda pelo menos a tatear, a fim de descobrirmos o que fazer no lugar e momento certos.

A referência aqui pode ser ao costume egípicio de espalhar sementes ou grãos usados na panificação sobre as águas que inundavam suas terras quando o Rio Nilo transbordava. Parece que os grãos ficavam soterrados e esquecidos, mas depois de algum tempo surgia a colheita. Essa metáfora fala de prudência e risco.

É preciso ter coragem e fé para arriscar diante daquilo que não vemos instantaneamente!


Deus abençoe,

Filipe.

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